Tempestades e inundações deixam quase 100 mortos e dezenas de desaparecidos na Espanha

A Espanha enfrenta seu pior desastre deste tipo em um século, com tempestades e inundações devastando cidades entre o sul e o leste do país. O governo espanhol e a União Europeia mobilizam esforços de emergência, enquanto a comunidade internacional expressa solidariedade e oferece apoio. Segundo os números mais recentes divulgados pelas autoridades, 95 pessoas morreram e dezenas ainda seguem desaparecidas.

Ana Beatriz Farias, correspondente da RFI em Madri

Nesta quinta-feira (31), as equipes de busca retomaram as operações para localizar dezenas de desaparecidos na Comunidade Valenciana, região que mais sofreu as consequências das fortes chuvas e enchentes que assolam a Espanha.

Várias regiões ainda estão sob alerta, milhares de pessoas permanecem sem energia e diversas estradas continuam bloqueadas. O serviço de trem de alta velocidade entre Madri e Valência está suspenso, assim como a atividade de outros meios de transporte que dão acesso à região.

Na tarde da última terça-feira (29), a Espanha começou a ser castigada por fortes tormentas e por inundações que deixaram diferentes cidades arrasadas, principalmente entre o sul e o leste do país. As consequências vão desde a mais grave - a perda de vidas - até a interrupção de serviços básicos, com milhares de pessoas desconectadas e prejuízos materiais significativos para quem perdeu casas, carros e estabelecimentos comerciais.

As imagens são desoladoras. Nos vídeos feitos por testemunhas, é possível ver veículos amontoados, ruas cobertas de lama, pessoas tentando escapar e móveis sendo arrastados pela correnteza. As cenas estão gravadas na memória de quem vivenciou, de algum modo, este pesadelo.

Cenário de devastação

A brasileira Sabrina Chiralt vive há 17 anos na capital Valência. No centro da cidade, onde mora, não presenciou grandes tempestades, mas começou a se preocupar, na terça-feira, ao ver o céu mais escuro do que o habitual. A apreensão aumentou quando começaram a chegar imagens de regiões próximas já inundadas. Sabrina, que tem a mãe vivendo em Chirivella e o irmão em Godelleta, cidades próximas a Valência, tentava estabelecer contato com a família, quando conseguiu falar com a mãe.

As duas se preocuparam por uma mesma razão: o irmão de Sabrina, que tem uma loja em Chirivella, tinha fechado o estabelecimento às 8 horas e ido para casa. "Meu irmão mora em Godelleta, que é perto de Chiva, onde foi um dos pontos mais afetados. Então a gente falou 'meu Deus! Ele tá indo pro pior", relembra.

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Depois da angústia pela falta de notícias, Sabrina soube que o irmão estava a salvo, apesar de ter sofrido danos materiais. Ele perdeu tudo que estava dentro de sua loja de móveis por conta da inundação.

Já a mãe de Sabrina enfrentou um cenário descrito como "apocalíptico" ao tentar sair para comprar comida na quarta-feira (30), após a tempestade, encontrando lama pelas ruas, comércios fechados e poucos alimentos disponíveis.

A realidade é parecida com a encarada por Raquel Cristiane Cândido. Também brasileira, ela vive há 20 anos em Aldaia, cidade próxima à capital valenciana. Raquel conta que, com medo de que a situação piorasse, muita gente correu para o supermercado, para comprar mantimentos.

"As ruas cheias de barro, você não podia nem andar. O mercado já não tinha nem produto mais. Nem carne nem peixe nem água. Eu nem andei por dentro da cidade, mas o meu filho foi, fez vídeo e é horrível. É horrível. É uma tristeza tão grande de ver como está a cidade", descreve Raquel.

Críticas à gestão da crise

Houve críticas à demora no aviso de emergência enviado pelo governo da Comunidade Valenciana, região mais afetada pelas chuvas e inundações, à população. A Agência Estatal de Meteorologia emitiu vários alertas desde a quinta-feira (24) anterior e, na terça-feira, dia das tempestades mais intensas, declarou alerta vermelho, por volta das 7h30, para a província de Valência, indicando perigo extremo.

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No entanto, o governo da Comunidade Valenciana só enviou uma notificação oficial de proteção civil para os cidadãos na terça-feira à noite, depois das 20h, quando muita gente já enfrentava uma situação crítica.

Luto oficial

A Espanha está oficialmente de luto pela catástrofe provocada pela depressão isolada em níveis altos, conhecida como DANA, um fenômeno meteorológico que gera ventos intensos e chuvas repentinas. Este foi o pior episódio do tipo registrado no país em todo o século.

O governo espanhol criou um comitê de crise para monitorar os efeitos da DANA. O comitê, que realizou sua primeira reunião na terça-feira em La Moncloa, se manterá reunido até que a situação melhore.

Ontem, o primeiro-ministro Pedro Sánchez fez um pronunciamento, expressando condolências às famílias afetadas e destacando que toda a Espanha sofre com elas. Ele também afirmou que o governo usará todos os recursos necessários para apoiar a recuperação do país e pediu aos que vivem em áreas de risco que permaneçam vigilantes, evitando estradas e cursos d'água. Ainda há alertas vigentes em diferentes regiões espanholas.

Nesta quinta-feira, Pedro Sánchez fará uma visita ao centro de coordenação de emergências na cidade de Valência - localizada a menos de 10 quilômetros de Paiporta, a cidade mais afetada pela DANA.

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Até o momento, não se sabe ao certo quantas pessoas estão desaparecidas. O ministro de políticas territoriais, Ángel Victor Torres, destacou que a dificuldade em estimar este número reflete a dimensão da tragédia.

Repercussão internacional

Autoridades como o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, o presidente da França, Emmanuel Macron, e a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni expressaram seu pesar às famílias das vítimas. Muitos desses líderes ofereceram apoio e informaram que já estão avaliando maneiras de prestar ajuda ao país.

A União Europeia também se manifestou. Ursula von der Leyen, presidente da comissão europeia, informou que o sistema de satélites Copernicus foi acionado para auxiliar as operações de resgate nas regiões atingidas.

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