Manifestantes continuam nas ruas na Geórgia, que enfrenta grave crise política
Nos últimos quatro dias, dezenas de milhares de manifestantes pró-europeus foram às ruas contra o governo, que é liderado pelo partido Sonho Georgiano, pró-Rússia. A legenda venceu as eleições de 26 de outubro e pediu o adiamento do processo de adesão do país à União Europeia para 2028, causando descontentamento de boa parte da população do país.
Régis Genté, correspondente da RFI na região
Neste domingo (1), os protestos na Geórgia foram dispersados com gás lacrimogêneo e canhões de água. Mais de 150 pessoas foram detidas e pelo menos 21 policiais ficaram feridos.
A ex-república soviética organizou eleições legislativas em 26 de outubro. O partido no poder, Sonho Georgiano, reivindicou sua vitória, mas a oposição denunciou irregularidades e pediu a realização de novas eleições com o apoio da presidente do país, Salomé Zurabishvili.
"Até que ocorram novas eleições e o Parlamento eleja um novo presidente de acordo com novas regras, o meu mandato vai continuar", afirmou a presidente em entrevista exclusiva à AFP. Mas a chefe de Estado tem poderes limitados e deve deixar o cargo em dezembro.
"Acho que Zourabichvili é uma das presidentes mais importantes da nossa história, porque ela escolheu o lado do povo e não do governo", disse o estudante Nikolos, 18 anos, que participou dos protestos, à RFI.
O primeiro-ministro geogiano, Irakli Kobakhidze, afirmou que o governo não aceitará organizar novas eleições.
Há três noites, a capital Tbilisi e outras cidades têm sido palco de manifestações do governo, que pretende adiar para 2028 as negociações de adesão à UE. Ainda assim, o Executivo defende que o país faça parte do bloco até 2030.
"Está claro que o uso da violência contra manifestantes pacíficos é inaceitável e o governo georgiano deve respeitar a vontade do povo", afirmou neste domingo (2), Kaja Kallas, a nova titular da diplomacia da União Europeia. Segundo Kallas, que assumiu o cargo neste domingo, a situação na Geórgia teria "claras consequências" nas relações com a UE.
Em paralelo às manifestações, centenas de funcionários e juízes publicaram declarações comuns em sinal de protesto. Cerca de 160 diplomatas georgianos criticaram a decisão do governo, considerando que vai contra a Constituição e que leva ao "isolamento internacional" do país.
Situação parecida com a da Ucrânia
A situação atual na Geórgia pode ser comparada à da revolução Maidan na Ucrânia, entre novembro de 2013 e fevereiro de 2014. Na época, o país também foi palco de uma onda de manifestações após o governo se recusar a assinar um acordo com a UE em prol da Rússia.
Os russos dependem de oligarcas para manter sua influência nas ex-repúblicas soviéticas, como era o caso de Viktor Yanukovych na Ucrânia em 2013 e Bidzina Ivanishvili hoje na Geórgia. Ex-primeiro-ministro do país entre 2012 e 2013, ele é presidente de honra do partido Sonho Georgiano.
Segundo Moscou, os protestos são uma tentativa de golpe, como a ocorrida na Ucrânia em 2014. Após o dia 30 de novembro, o ex-presidente russo Dmitri Medvedev disse que uma revolução estava em andamento na Geórgia e que o país estava "indo pelo mesmo caminho da Ucrânia, em direção ao abismo".
Moscou estaria planejando uma intervenção militar, mas, teoricamente, o governo russo não teria meios para isso. Nos bastidores, entretanto, pode desestabilizar o país.
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