Catedral Notre-Dame de Paris é reaberta em cerimônia com a presença de dezenas de líderes mundiais

A Catedral Notre-Dame de Paris reabriu as portas na noite deste sábado (7) diante de cerca de quarenta chefes de Estado e de governo, bem como representantes de várias monarquias presentes às festividades que continuam neste domingo (8), em Paris. A chuva que caiu sobre a capital francesa no início da noite não afastou o público que compareceu ao entorno da île de la Cité, onde fica o monumento, fechada à circulação e acessível somente aos convidados e moradores, sob um forte esquema de segurança.  

 

Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris

O presidente Emmanuel Macron recebeu os convidados para a cerimônia no pátio, em frente à catedral. Entre as presenças ilustres: o príncipe William, herdeiro do trono britânico; a chefe do governo italiano, Giorgia Meloni, o presidente italiano, Sergio Mattarella; o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, em seu primeiro deslocamento internacional após a eleição, a primeira dama-americana, Jill Biden, o bilionário Elon Musk e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, muito aplaudido ao entrar na catedral.  

O evento é uma oportunidade de destaque internacional para a França e sinal de prestígio para o presidente francês, Emmanuel Macron, que enfrenta queda de popularidade após a queda do primeiro-ministro Michel Barnier, também presente à Notre-D A cerimônia é considerada um exemplo do "orgulho francês", assim como foram os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris 2024. 

Por causa da previsão de mau tempo na capital francesa, todo o protocolo ocorreu dentro da igreja. A cerimônia oficial começou às 19h (15h em Brasília), com a abertura das portas pelo arcebispo de Paris, Laurent Ulrich.  "Notre-Dame, modelo da fé, abra as portas para receber em alegria os filhos de Deus", disse ele. "Abra as portas para nos ajudar a encontrar o amor, a justiça e a paz", completou, enquanto o coral entoava cânticos religiosos. "Notre-Dame, abra as portas para renovar a esperança", acrescentou, quando efeitos luminosos decoravam a fachada do imenso edifício de pedra.  

Emmanuel e Brigitte Macron e a prefeita de Paris, a socialista Anne Hidalgo, entraram na catedral com o arcebispo Laurent Ulrich e foram recebidos pelos presentes de pé.

Durante a cerimônia de reabertura, que teve uma parte civil e outra religiosa, o presidente da República expressou a "gratidão da nação francesa" pela reconstrução da Catedral Notre-Dame de Paris.

O programa iniciou com a exibição de um filme retratando a reconstrução do monumento de mais de 860 anos de história, assim como o desfile de bombeiros e artesãos que salvaram e reconstruíram o edifício. Presentes, eles foram longamente aplaudidos, enquanto do lado de fora podia-se ver a palavra "Merci", obrigado em francês, projetada na fachada da catedral.  

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No eixo central, os convidados estavam sentados em 1.500 novas cadeiras de carvalho claro, instaladas para acomodar os "14 a 15 milhões" de visitantes esperados por ano, segundo a Igreja Católica.

"Realizar o impossível"

Novos móveis litúrgicos minimalistas em bronze maciço castanho modernizam os ares do edifício construído nos séculos XII e XIII, com quase 150 metros de comprimento e cerca de 50 metros de largura, cuja nave se eleva a uma altura de mais de 40 metros. Notre-Dame é uma obra única da arquitetura medieval. 

"Esta noite, os sinos de Notre-Dame tocam novamente, música de esperança tão familiar aos parisienses e ao mundo", disse em seu discurso o presidente francês. "Eles soam, como soaram para os reis da França", seguiu Emmanuel Macron, citando outros momentos marcantes da história do país. Um som que por pouco não ficou no passado, lembrou o chefe de Estado. "Esses momentos em que tudo podia ter desaparecido", disse, antes de destacar a união em torno da reconstrução da catedral e as doações vindas de todas as partes do mundo. 

"A metáfora feliz do que poderia ser o mundo", disse o presidente, ao citar, ainda, a união de profissionais de diferentes especialidades para "realizar este feito": carpinteiros, vitralistas, escultores, historiadores etc. "Não devemos esquecer que o esforço de cada um conta e que a grandeza da catedral é inseparável do trabalho de todos", celebrou o presidente francês.

"Descobrimos o que as grandes nações poderiam fazer: realizar o impossível", continuou o presidente no interior do edifício religioso, reconstruído ao longo de cinco anos de obras de extrema complexidade. Só no telhado de Notre-Dame, há madeira de 2.000 árvores, cortadas e trabalhadas a machado, exatamente como se fazia na Idade Média.  

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"Juntos, vocês tornaram isso possível. Viva Notre-Dame de Paris, viva a República, viva a França", encerrou Macron.  

Cada um dos presentes têm uma história e lembranças daquela noite de 15 de abril de 2019, quando as imagens do telhado devorado pelo fogo e a queda da flecha da catedral chocaram o mundo. Erguida a partir do ano de 1.163, a catedral Notre-Dame de Paris já foi celebrada por muitos poetas, cineastas e escritores, como Victor Hugo. 

Reconstruída de forma idêntica à projetada pelo arquiteto do século XIX, Eugène Viollet-Le-Duc, a famosa flecha se eleva novamente sobre o céu de Paris, enquanto no interior da catedral, os vitrais limpos e restaurados deixam entrar a luz, como há muito tempo não se via.   

Além das cores deslumbrantes dos vitrais, as pinturas das capelas, agora realçadas, e a limpeza das paredes de pedra compõem um resultado que surpreendeu até os envolvidos nas obras. É "uma catedral como nunca vimos antes", elogiou em entrevista ` à Rádio Franceinfo, no sábado, Philippe Jost, chefe da restauração e que substituiu o general Jean-Louis Georgelin, morto em 2023. 

"Um espanto total", acrescentou Philippe Villeneuve, arquiteto-chefe de monumentos históricos encarregado de Notre-Dame, à rádio francesa Europe 1. "Terei deixado para trás algo que me orgulha", descreveu.  

No total, segundo o Palácio do Eliseu, foram coletados € 843 milhões para a reforma da Catedral de Notre-Dame de Paris. Cerca de € 700 milhões foram gastos nas fases de consolidação e restauração do edifício; os € 140 milhões restantes serão utilizados para restaurar as fachadas e a cobertura da sacristia. 

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Na noite deste sábado, o órgão voltou a ser ouvido, depois de receber bênçãos, ao ser tocado pela primeira vez, desde o incêndio. O instrumento de 13 metros de altura, com três séculos de existência, não foi diretamente afetado pelas chamas, mas os seus cerca de 8.000 tubos ficaram entupidos com pó de chumbo e tiveram de ser desmontados e limpos. 

Em uma mensagem lida, o Papa Francisco pediu "acolher generosamente e gratuitamente" a "enorme multidão" de visitantes que são esperados em Notre-Dame. "Notre-Dame em breve será visitada e admirada novamente por uma multidão de pessoas de todas as condições, origens, religiões, línguas e culturas, muitas em busca de sentido para suas vidas", acrescenta o texto.

O sinos da Catedral de Notre-Dame soaram na capital francesa, para marcar o fim das cerimônias republicana e litúrgica.

Um jantar será oferecido no Palácio do Eliseu, sede da presidência francesa.   

Domingo (8), estão previstas duas missas, às 10h30 e às 18h30 com as presenças de Emmanuel Macron e de muitas personalidades convidadas, reunindo cerca de 2.000 pessoas. 

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(Com RFI e AFP)

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