"Não é um fim, mas um novo começo" para os curdos, diz PKK ao aceitar fazer a paz com a Turquia
O Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) endossou neste sábado (1º) o apelo de seu líder histórico, Abdullah Öcalan, para cessar a violência com a Turquia e iniciar negociações sobre a sua dissolução. Se for respeitada, essa trégua poderá levar a um acordo de paz para pôr fim a quatro décadas de guerrilha que deixou pelo menos 40.000 mortos.
"A fim de preparar o caminho por paz e uma sociedade democrática, declaramos um cessar-fogo a partir de hoje", anunciou o comitê executivo do PKK, sediado no norte do Iraque. "Concordamos com o conteúdo do apelo e declaramos que o respeitaremos e o implementaremos", afirma uma mensagem publicada em turco pela agência ANF, próxima ao partido armado.
Após quatro meses de diálogo, iniciado pelas autoridades turcas e liderado pelo principal partido pró-curdo, o DEM, Öcalan lançou na quinta-feira (27), da prisão, um apelo pela dissolução do movimento armado, por "paz e uma sociedade democrática", ordenando o PKK "depor as armas". A luta armada decretada em 1984 acabou, insistiu o líder do PKK, afirmando "assumir a responsabilidade histórica por este chamado".
Reivindicações
O cessar-fogo não significa, no entanto, o fim das reivindicações. O movimento exige a liberdade de seu fundador de 75 anos, condenado à prisão perpétua e que está preso na lha de Imrali, na costa de Istambul.
"O líder Abdullah Öcalan deve poder viver e trabalhar em total liberdade física e estabelecer relações irrestritas, incluindo com seus amigos", pede o partido, que também o convoca a liderar pessoalmente a reunião que ocorrerá após a dissolução do partido. "O chamado (de Öcalan) não é um fim, mas um novo começo", afirma a mensagem do PKK.
No dia seguinte ao chamado de Öcalan, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, saudou uma "oportunidade histórica de avançar em direção ao objetivo de destruir o muro do terror", prometendo "monitorar de perto para que o processo iniciado seja realizado com sucesso".
Essa reviravolta de ambos os lados era esperada pela população turca e pela minoria curda, a maior da Turquia (cerca de 20% da população). Os combatentes curdos evacuaram o o território turco após o último surto de violência, em 2015 e 2016, para se estabelecerem nas montanhas do norte do Iraque e no nordeste da Síria.
Para Bayram Balci, pesquisador da Sciences Po, em Paris, e especialista em assuntos da Turquia, as concessões do PKK podem ser explicadas por uma nova situação regional: "o PKK não tem mais o apoio que já teve de Bashar al-Assad [ditador sírio deposto em dezembro]". Além disso, "também não pode contar mais com um apoio americano tão forte no nordeste da Síria", onde Washington ainda mantém o controle ? mas não se sabe por quanto tempo.
Para o historiador Hamit Bozarslan, da Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais (EHESS) de Paris, "está claro que a dissolução do PKK não significa o fim da questão curda: Öcalan insistiu na democratização da Turquia", analisa.
"Não basta depor as armas", disse um dos líderes do partido DEM, Tuncer Bakirhan, na sexta-feira (28). "O governo deve mostrar vontade política e implementar programas adequados", conclui.
(Com AFP)
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