Punido com prisão e 74 chicotadas, cantor iraniano diz que segue defendendo liberdade das mulheres
O cantor pop iraniano Mehdi Yarrahi, autor de uma música que pede às mulheres que retirem seus véus islâmicos de cabeça, foi acusado de rebelião contra o regime e condenado a 74 chibatadas, além de um ano de prisão. Após receber sua punição, ele indicou que não pretende mudar seu discurso e que estava pronto para pagar "o preço da liberdade".
Informações de Siavosh Ghazi, correspondente da RFI em Teerã, e agências
Mehdi Yarrahi irritou as autoridades iranianas ao apoiar o movimento "Mulher, Vida, Liberdade", que tomou conta do país em 2022, após a prisão de Mahsa Amini, uma jovem morta pela polícia depois de ter sido detida, acusada de usar o véu islâmico de forma inadequada. Em 2023, para marcar o aniversário de um ano do início dos protestos populares, Yarrahi lançou "Roosarito", uma canção na qual incitava as mulheres a deixar de usar o hijab, o véu imposto pelo regime, que deixa apenas o rosto à mostra, cobrindo cabeça, orelhas e pescoço.
Com refrão "Tire teu véu, seu perfume melhora o ar que respiramos (...) Meu amor, não tenha medo, dance", a música é acompanhada de um clipe no qual mulheres aparecem, sem o acessório, dançando em casa, enquanto o cantor entoa o ritmo pop em um estúdio. Imagens de iranianas nas ruas completam o vídeo.
Em um dos trechos é possível ver um grupo de jovens fazendo uma coreografia diante de um prédio. Essas cenas fazem parte de uma postagem feita por adolescentes nas redes sociais, que causou polêmica no país em março de 2023.
The sentence of 74 lashes for #MehdiYarahi, a renowned and dissident Iranian singer, has been carried out.
? Abdorrahman Boroumand Center (@IranRights_org) March 5, 2025
He was sentenced to imprisonment and flogging for releasing the protest song RooSareto in support of women's rights and against compulsory hijab.
Zahra Minouei, Mr.... https://t.co/qb8LmQF0cV
Logo após o lançamento da música "Roosarito", Yarrahi foi detido e condenado a prisão domiciliar. Além da detenção, a pena incluiu 74 chibatadas.
A punição física foi aplicada esta semana, conforme informou na quarta-feira (5) pela rede social X Zahra Minouei, advogada do cantor. Segundo ela, o caso foi arquivado na sequência.
The sentence of 74 lashes for #MehdiYarahi, a renowned and dissident Iranian singer, has been carried out.
? Abdorrahman Boroumand Center (@IranRights_org) March 5, 2025
He was sentenced to imprisonment and flogging for releasing the protest song RooSareto in support of women's rights and against compulsory hijab.
Zahra Minouei, Mr.... https://t.co/qb8LmQF0cV
Durante todo o processo, Mehdi Yarrahi alegou que não se arrependia de ter se mobilizado contra o regime. Em um vídeo, ele também explicou que não havia solicitado a anulação da sentença, mas protestou: "Depois de um ano em prisão domiciliar, fui pedir que devolvessem a escritura da minha casa, que havia sido confiscada como fiança. Disseram-me que a sentença de 74 chicotadas tinha de ser cumprida primeiro. Embora eu tenha denunciado a sentença, não pedi que ela fosse cancelada", insistiu.
Em outra mensagem, ele disse que "quem não está pronto para pagar o preço da liberdade, não é digno da liberdade".
Pena criticada
A aplicação da pena foi criticada por várias personalidades do país. A ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, Narges Mohammadi, que foi temporariamente libertada após cumprir uma sentença de prisão, disse em um comunicado que o açoitamento foi uma "medida de retaliação". Segundo ela, "as chicotadas no corpo de Mehdi são golpes contra as mulheres orgulhosas e resistentes do Irã e contra o espírito poderoso do lema 'Mulher, Vida, Liberdade'".
Já a atriz Taraneh Alidoosti, que também foi presa durante o movimento de protesto por ter posado sem véu, se indignou nas redes sociais após o anúncio da aplicação da pena. "Tenho vergonha do nosso retrocesso, vergonha da tortura, vergonha da violência, vergonha das leis desumanas. Vergonha e desonra da nossa impotência", declarou em sua conta no Instagram.
A aplicação da pena do cantor ocorre no momento em que 209 dos 290 deputados do Irã solicitaram a adoção de uma nova lei sobre o véu islâmico. O texto proposto endurece as penas contra mulheres que não usam o acessório no país. Mas o presidente iraniano, Massoud Pezeshkian, rejeitou essa solicitação, declarando a nova lei ia contra os interesses da população.
A discussão do texto marca o início de um novo duelo sobre o tema entre os ultraconservadores e o governo moderado de Pezeshkian.
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