Topo

Podcast

UOL Prime

Podcasts com o melhor do jornalismo do UOL


As acusações contra médico de famosas: depressão, choro diário e vergonha | Podcast UOL Prime #20

Do UOL, em São Paulo

30/05/2024 04h00

O podcast UOL Prime, apresentado por José Roberto de Toledo, traz nesta quinta-feira (30) uma entrevista com a repórter Camila Brandalise sobre o caso do médico Herbert Gauss Júnior.

Médico de famosas como Gretchen e Hebe Camargo, ele é alvo de pelo menos 55 processos com pedidos de indenização após cirurgias plásticas malsucedidas. A reportagem foi feita com o colunista do UOL Rogério Gentile.

Dos 55 processos analisados até a publicação, em abril, Gauss havia sido condenado em 23 casos — em 21 a decisão era em última instância.

O médico foi cassado duas vezes pelo Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo). As decisões, porém, foram revertidas na Justiça.

Camila procurou Gauss por telefone no dia 20 de março para marcar uma entrevista, agendada para 1º de abril. "Ele me convidou para conhecer a clínica, a equipe", diz. Gauss também convidou a repórter a acompanhar uma cirurgia.

No dia marcado para a conversa, porém, um de seus advogados, Mário de Oliveira Filho, desmarcou o combinado afirmando que seus clientes não concediam entrevistas. Também foram enviadas 12 perguntas por e-mail, sem resposta.

Após a publicação da reportagem, os jornalistas foram procurados por outros dois advogados de Gauss, Ricardo Calil e Antônio Belarmino Junior. Foram enviadas mais dez perguntas, respondidas por Calil em nota (leia abaixo).

As ex-pacientes relatam em entrevistas e nos processos ter ficado com sequelas físicas, como corpos deformados, seios assimétricos e negligência no pós-operatório.

"Várias delas disseram que tinham que insistir para serem recebidas depois da cirurgia, o que já é um erro, segundo especialistas. Porque precisa de um cuidado a longo prazo", afirma a repórter.

As queixas envolvem o pagamento por duas cirurgias mas a realização de apenas uma.

"Muitas contam que contrataram um pacote, então queriam fazer seio e abdômen. Aí acabava a cirurgia, elas notavam que tinha sido feita só uma, e ele dizia: 'Ah, você perdeu muito sangue'", diz a repórter.

Todas as mulheres ouvidas pela reportagem dizem ter sequelas psicológicas, com abalos emocionais e sintomas depressivos.

"Algumas tinham ansiedade e depressão antes. Ficou muito pior depois, de a dose do remédio aumentar, não querer sair de casa, não querer fazer mais nada. Uma falava 'eu chorava todo dia no banho, eu não saía da cama'", diz Camila.

"O olhar mudava ao falar disso. Elas estavam conversando comigo e, de repente, levantavam a roupa para me mostrar como estava o corpo. Parece que queriam ser ouvidas."

O que diz a defesa do médico

A defesa de Gauss afirma que "responder ou ter processo contra si não implica em qualquer tipo de culpa". Mas não quis comentar as ações em que o médico foi condenado em última instância.

O advogado foi questionado sobre quais são os casos de cassação que foram revertidas na Justiça, mas não respondeu.

"A Justiça Federal não pode avaliar o mérito do processo administrativo (...) As decisões estão baseadas em aspectos e erros processuais, daí o motivo da reversão."

Ou seja, não foram avaliadas as cirurgias em si, mas a burocracia envolvida no processo,

Em relação às sequelas físicas que as ex-pacientes relatam, a defesa diz que "grande parte engorda após a cirurgia, e este ganho de peso pode levar ao acúmulo de gordura em diversas regiões do corpo".

"Sequelas podem advir não só do ato cirúrgico como também por todos os cuidados pós-operatórios a curto, médio e longo prazo", diz o advogado, que frisa que é comum o paciente voltar após as cirurgias para fazer retoques.

"Muitos pacientes não voltam a procurar o médico. E esses casos não são reconhecidos como erros médicos."