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Países lutam pelo Ártico, que terá enorme significado econômico e geopolítico nos próximos anos

Imagem do vídeo da campanha "Salve o Ártico", promovida pelo Greenpeace  - Reprodução
Imagem do vídeo da campanha "Salve o Ártico", promovida pelo Greenpeace Imagem: Reprodução

11/08/2012 06h00

Na última semana teve lugar em São Paulo o Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos da Defesa (Enabed), que reuniu pesquisadores universitários e militares brasileiros e estrangeiros. Um dos temas discutidos foi a luta de influências no Ártico, que terá um enorme significado econômico e geopolítico nos próximos anos. Ao contrário da Antártida, o Ártico está situado numa das áreas mais estratégicas do planeta, na convergência da América, Europa e Ásia. Além disso, o Ártico não é um continente, como a Antártida, mas um oceano coberto de gelo.

Como se sabe, o aquecimento global está provocando o degelo desta região, abrindo brechas que poderão se transformar em vias de navegação marítima, pelo menos durante uma parte do ano. Essa evolução climática facilitaria as comunicações entre o Ocidente e a China e o Japão em geral, na medida em que os navios poderiam seguir uma rota similar à dos aviões que atualmente sobrevoam a calota polar para ir dos Estados Unidos ou da Europa ao Extremo-Oriente.

Tais perspectivas mudam completamente os parâmetros da navegação mundial definidos depois que Colombo descobriu a América, e alteram a geopolítica mundial.

Paralelamente, as grandes firmas de mineração preparam o bote para começar a explorar minérios raros e diamantes na Groelândia, imensa ilha de 2, 1 milhões de quilômetros quadrados (o que representa ¼ da superfície do Brasil). A ilha tem um estatuto autônomo, mas está sob a soberania da Dinamarca (que já foi uma grande potência europeia, controlando, em diferentes momentos, a Inglaterra, a Suécia e a Noruega). Existem zonas costeiras da região onde já se extrai petróleo e gás, além de diversos minérios. As perfurações na zona marítima são bastante fáceis, na medida em que a lâmina de água é inferior a 50 metros.

Segundo o jornal londrino “The Guardian”, já existem projetos para explorar outras jazidas, incluindo ouro, terras raras e diamantes, quando a superfície congelada da ilha estiver mais reduzida. A ONG Greenpeace já alertou que os poços sendo perfurados no Ártico pela Shell podem causar uma catástrofe ecológica em caso de vazamento.

Mas não são só os ecologistas que estão preocupados com as novas fronteiras que estão sendo abertas no Ártico. Algumas projeções indicam que, com o ritmo atual do degelo, o Oceano Ártico poderá ser livremente navegado no verão a partir de 2030. Diante disso, os Estados Unidos (na sua extensão no Alaska), Canadá, Rússia, Suécia, Finlândia, Islândia e, obviamente, a Dinamarca, ativam o patrulhamento naval na região para afirmar sua soberania sobre suas respectivas fronteiras árticas. Ora, a zona é notoriamente mal delimitada, propiciando desentendimentos entres os países fronteiriços. Já existem tensões entre os Estados Unidos e o Canadá a esse respeito.

Porém, a maior preocupação de ambos os países, assim como dos países europeus fronteiriços, é com a Rússia. Os tratados internacionais excluem o polo norte e a região circunvizinha da posse dos países fronteiriços, os quais só podem reivindicar uma zona marítima de 370 km para além de seu litoral. No entanto, em agosto de 2007, dois pequenos submarinos russos imergiram sob a calota polar e plantaram uma bandeira russa em metal bem embaixo do polo norte. Para os observadores mais pessimistas, o evento marcou o surgimento de mais uma área de conflito no mundo.