Reformas de François Hollande vão contra medidas tomadas na maioria dos países europeus
A eleição de François Hollande à presidência da França teve dois aspectos aparentemente contraditórios. Por um lado, Hollande era o líder da oposição que vencia um presidente desgastado pela depressão econômica e social que assola a Europa. Antes de Nicolas Sarkozy, o trabalhista inglês Gordon Brown, o socialista espanhol José Luis Zapatero, o conservador italiano Sílvio Berlusconi, o socialista português José Socrates e alguns outros dirigentes europeus de esquerda e de direita já haviam sido alijados do poder por causa do aumento da recessão em seus respectivos países. Como na Inglaterra, na Espanha, na Itália, em Portugal, o governo na França mudou por causa do agravamento da crise. Até aí nada de extraordinário.
Mas, por outro lado, o socialista François Hollande elegeu-se com um programa de governo que se inscreve a contrapelo das medidas que são implementadas na maioria dos países europeus. Ao invés de reduzir o peso do Estado e as vantagens sociais, ou de elevar a idade da aposentadoria, ele fez o contrário. Nos seus primeiros meses de governo, Hollande e o primeiro-ministro socialista Ayrault diminuiram a idade mínima da aposentadoria de 62 para 60 anos, aumentaram de 25% à ajuda à escolarização das crianças de famílias modestas e anunciaram o recrutamento de 40 mil professores para as escolas públicas em 2013. De quebra, Hollande aumentou bastante os impostos sobre os contribuintes mais ricos. Assim, os empresários e assalariados que receberem proventos anuais superiores a 1 milhão de euros, pagarão 75% de imposto de renda.
Tais iniciativas, apoiadas pela maioria dos eleitores de Hollande, suscitaram desconfianças entre a oposição e uma parte dos grandes empresários franceses. Alguns dirigentes europeus também reagiram com incredulidade e até com uma ponta de sarcasmo. Desse modo, David Cameron, o primeiro-ministro inglês, declarou que a Inglaterra “estenderia um tapete vermelho” para receber os empresários franceses que estivessem fugindo do imposto de 75%.
Passados alguns meses, as reformas de Hollande tomam um perfil mais moderado. A aposentadoria aos 60 anos restringe-se aos assalariados que tiverem começado a trabalhar aos 18 ou 19 anos. O imposto de 75% será temporário, limitado a dois anos, e será cobrado unicamente sobre os rendimentos que ultrapassarem 1 milhão de euros (e não sobre a totalidade da renda anual). Enfim, conforme informações recentes do jornal Le Monde, o governo francês planeja diminuir os encargos patronais para estimular a criação de empregos. Por essas razões, as tensões entre uma parte do empresariado e o governo abrandaram. Segundo o ministro da Fazenda, Pierre Moscovici, a administração dos impostos francesa não observou “nenhum índice de exílio fiscal maciço” de empresários que estivessem se mudando da França por causa do imposto de 75% sobre os altos rendimentos.
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