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Qual será o futuro das monarquias europeias?

03/06/2013 08h03

Quando o Brasil ficou independente, D. Pedro 1º apresentava-se aos diplomatas europeus como o único representante do “sistema europeu” nas Américas, onde predominava o “sistema americano”. Na época, e até 1870, as repúblicas estavam todas no Novo Mundo. Assim, “sistema europeu” era sinônimo de monarquia e “sistema americano”, sinônimo de regime republicano.

Atualmente restam somente 12 monarquias na Europa : Reino Unido, Andorra, Bélgica, Dinamarca, Liechtenstein, Luxemburgo, Mônaco, Holanda, Noruega, Espanha, Suécia e o Vaticano, o qual funciona como uma monarquia eletiva. A mais importante dessas monarquias, o Reino Unido, prepara os festejos dos 60 anos do reinado de Elizabeth 2ª.

Embora o herdeiro do trono, o príncipe Charles, 64, tenha atualmente a função efetiva de regente da Coroa, exercendo poderes representativos ao lado de sua mãe, ninguém sabe ainda qual será a data de sua entronização. De fato, com 87 anos, a rainha não tem a intenção de abdicar do trono, como o fizeram recentemente a rainha Beatrix, da Holanda, ou o papa Bento 16. Coroada em 1953 na abadia de Westminster, a rainha jurou ocupar o trono até a sua morte.

De todo modo, como a maioria dos outros monarcas europeus, a rainha da Inglaterra só exerce funções simbólicas. Suas atividades sociais ajudam a manter a identidade comum do Reino Unido e, sobretudo, do Commonwealth, a organização intergovernamental formada por 54 países espalhados pelas quatro partes do mundo. À exceção de Moçambique e de Ruanda, todos esses países foram colônias ou protetorados britânicos.

Ao inverso, o rei da Bélgica tem poderes bem extensos. Exercendo o poder executivo federal, o rei nomeia e demite os ministros que em seguida devem obter um voto de confiança do Parlamento. O rei da Bélgica também dá sua aprovação e promulga as leis votadas pelo Parlamento federal. Tudo isso, porque o rei Albert 2º tem a pesada responsabilidade de manter unido um país que está cada vez mais perto de uma divisão definitiva entre seus dois povos componentes, os flamengos e os valões.

Na Espanha, o rei Juan Carlos 1º também exerce um papel importante na unidade de seu país, depois de ter ajudado a consolidar a democracia. De fato, respaldado pela União Europeia, Juan Carlos contribuiu para isolar a tentativa de golpe em Madri em fevereiro de 1981. No entanto, a situação espanhola evoluiu bastante. Mergulhados numa severa crise econômica e social, muitos espanhóis se afastam de um trono minado por gastos inúteis e escândalos financeiros.

Na semana passada, ao chegar à ópera de Barcelona para assistir a um espetáculo, o príncipe Felipe, herdeiro do trono de Madri, e sua mulher, a princesa Letícia, foram copiosamente vaiados. Tanto na entrada como no interior da ópera. Fato inédito no contexto das atuais monarquias europeias, as vaias para o príncipe herdeiro são de mau agouro para a monarquia espanhola, abolida pelos espanhóis em 1929 e restabelecida pelo ditador Francisco Franco em 1975.  Descendente direto do grande rei da França, Luís 14, o príncipe Felipe será talvez o ultimo rei de um país que conserva um arraigado sentimento republicano.

Tais eventos parece confirmar o preságio formulado há 61 anos pelo rei Faruk, do Egito, depois de ser deposto por um golpe militar no Cairo, em 1952: “Daqui alguns anos, só haverá cinco reis, o rei de espadas, o rei de ouros, o rei de paus, o rei de copas e a rainha da Inglaterra”.