O "efeito Snowden": da crise diplomática à crise econômica
A cada semana que passa, o abalo sísmico provocado pelas revelações de Edward Snowden causa novas rachaduras na aliança do Atlântico Norte liderada pelos Estados Unidos desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O episódio mais recente, e sem dúvida o mais grave, foi a descoberta da espionagem das conversas telefônicas da chefe do governo alemão, Angela Merkel.
ALVOS DE ESPIONAGEM
Telefonemas, e-mails e IPs de computadores de Dilma e assessores | |
Rede privada de computadores da Petrobras | |
Telefonemas e e-mails do Ministério de Minas e Energia do Brasil | |
Telefone celular da chanceler alemã, Angela Merkel | |
E-mail do ex-presidente do México Felipe Calderón |
No dia primeiro de julho deste ano, quando se encontrava em viagem oficial na Tanzânia, Obama deu uma entrevista coletiva tentando desarmar as primeiras críticas contra a rede de espionagem americana na Europa.
Num tom enfático ele declarou: “Quando eu quero saber o que pensa a chefe do governo Merkel, eu telefono para ela; quando eu quero saber o que pensa o presidente Hollande, eu telefono para ele.” Agora, Merkel, Hollande, os dirigentes da União Europeia e a opinião pública do continente europeu sabem que Obama não dizia a verdade.
Mais ainda, a revista alemã "Der Spiegel" informa que a espionagem eletrônica foi executada a partir de um posto central situado na embaixada americana em Berlim. Ora, ao contrário de outros líderes europeus, Merkel tinha estreitas relações com a presidência Obama e passou aos Estados Unidos dados sobre a Al Qaeda e o programa nuclear iraniano coletados pelo serviço de espionagem alemão.
O prestígio de Obama, muito maior na Alemanha e em outros países europeus do que nos Estados Unidos, sofreu um forte abalo. Como escreveu um editorialista europeu, o “efeito Obama” foi desfeito pelo “efeito Snowden”.
O "Financial Times" registra as queixas de um alto funcionário americano: “Voltamos ao ponto em que estávamos em 2004 [no auge da impopularidade do governo Bush]; os europeus pensam agora que pouco importa se [o presidente] é democrata ou republicano, negro ou branco: é assim [deslealmente,] que os americanos se comportam”.
Afora a crise de confiança entre os americanos e seus principais aliados e a deterioração das relações pessoais entre Obama e os líderes europeus, há um assunto mais grave confirmado nas últimas semanas: todo o aparato de eletrônico manipulado por Washington é também usado, obviamente, para a espionagem econômica em favor dos interesses e das empresas americanas.
Num artigo recente, o "The New York Times" enfatizou o novo papel da CIA na espionagem econômica: “Espionar os aliados para obter vantagens econômicas é uma nova tarefa crucial para a CIA agora que a política externa americana se concentra nos interesses comerciais [americanos] no exterior.”
Para além dos problemas diplomáticos já criados para os Estados Unidos, o “efeito Snowden” pode agora entravar ainda mais as negociações comerciais entre os americanos e os europeus, e o resto do mundo, comprometendo a lenta retomada econômica que se desenha no horizonte da economia ocidental.
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