Topo

Depois da crise, surge uma nova sociedade de consumo entre os jovens

Nexcoworking/Reprodução
Imagem: Nexcoworking/Reprodução

03/03/2015 16h20

No Brasil, o grande fenômeno sociológico e econômico dos últimos anos foi a ascensão da chamada “nova classe média”. Nos Estados Unidos, a grande novidade, segundo um recente estudo da Goldman Sachs, será a chegada das novas famílias formadas pelos “millennials”.

“Milenários”, tal é o nome que o banco de investimento dá à faixa etária dos americanos nascidos entre 1980 e 2000. Segundo o estudo, em razão do aumento do desemprego e do endividamento estudantil com os empréstimos federais e bancários destinados ao pagamento das anuidades (student loans, similares ao Fies), os jovens milenários adiaram etapas decisivas de sua vida ativa como casar, ter filhos e adquirir casa própria. 

Contando com 92 milhões de indivíduos entre 15 e 35 anos, o grupo forma um contingente bem maior que os baby-boomers, nascidos nos pós-guerra, que contam atualmente com 77 milhões de pessoas entre 51 e 70 anos.

Com a relativa melhoria da situação econômica, os milenários vão entrar mais ativamente no mercado consumidor. Para se ter uma ideia da peculiaridade da situação atual, o estudo constata que em 2010, 30% dos jovens na faixa entre 18 e 34 anos ainda morava na casa dos pais.

Em 2005, antes da Grande Recessão, a porcentagem era de 27%. Em 1970, a idade média do casamento dos indivíduos dessa faixa etária era de 23 anos, em 2010, 30 anos. Em 1968, a porcentagem de jovens desse mesmo contingente vivendo em casa própria e casados era de 56%, em 2012, de 23%.

No entanto, o padrão de consumo dos milenários americanos é diferente do padrão de seus pais e avós. Obviamente marcados pela cultura da internet e da mídia social, eles privilegiam mais os bons preços do que as boas marcas e o usufruto à aquisição. Assim, a maioria não conta em comprar TV, carro ou casa num futuro próximo. Tal comportamento define, segundo o estudo, uma geração onde há mais locatários do que futuros proprietários.

Um estudo de menor escopo feito na França mostra também que a faixa dos jovens entre 25-34 anos também privilegia o usufruto e não a propriedade dos bens. Como os americanos, eles se conectam intensamente à mídia social e têm um padrão de consumo mais diferenciado.

Um dado que não aparece na pesquisa do Goldman Sachs e que está no centro do estudo realizado na França é a propensão dos milenários ao chamado “consumo colaborativo”. Ou seja, o consumo de bens de segunda mão comprados em sites tipo Ebay, o aluguel dividido de carros ou de apartamentos e a estadia em casas sublocadas (via Airbnb) em vez dos hotéis durante as viagens.

Outros estudos feitos noutras partes do mundo virão certamente confirmar, com as devidas variações decorrentes das culturas nacionais, a extensão desse novo padrão de consumo. Ou seja, quando a Grande Recessão iniciada em 2008, que ainda não terminou inteiramente em muitos países, chegar a termo, ficará claro que a crise mudou as práticas sociais.