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Salvar o planeta do aquecimento global pode até ser de graça

Geleiras derretem na montanha Sapukonglagabo, Tibete; salvar planeta do aquecimento global é economicamente viável, diz vencedor do nobel de economia Paul Krugman - Tang Zhaoming/Xinhua
Geleiras derretem na montanha Sapukonglagabo, Tibete; salvar planeta do aquecimento global é economicamente viável, diz vencedor do nobel de economia Paul Krugman Imagem: Tang Zhaoming/Xinhua

Paul Krugman

20/09/2014 00h02

Acabei de ler dois novos relatórios sobre a economia de combate às alterações climáticas: um grande estudo realizado por um grupo de internacional de excelência, o New ClimateEconomy Project, e um documento de trabalho do Fundo Monetário Internacional. Ambos afirmam que fortes medidas para limitar as emissões de carbono dificilmente teriam qualquer efeito negativo sobre o crescimento econômico e poderiam até levar a um crescimento mais rápido. Isso pode parecer bom demais para ser verdade, mas não é. São análises sérias e cuidadosas.

Sabemos, contudo, que essas avaliações serão recebidas com alegações de que é impossível quebrar o vínculo entre crescimento econômico e emissões sempre crescentes de gases de efeito estufa, uma posição que eu chamo de “desespero climático”. Os defensores mais perigosos do desespero climático estão na direita anti-ambientalista. Mas eles recebem ajuda e conforto de outros grupos, inclusive alguns da esquerda, que têm suas próprias razões para entender tudo errado.

De onde vem, então, o recente otimismo sobre a relação entre a mudança climática e o crescimento? Há muito está claro que uma estratégia bem pensada de controle de emissões, particularmente uma que cobre um preço pelo carbono, quer através de um imposto sobre as emissões ou de um esquema de cap-and-trade, custaria muito menos do que querem que você acredite. Hoje porém, o retrato da economia da proteção do clima é ainda melhor do que há alguns anos.

De um lado, tem havido um progresso dramático na tecnologia da energia renovável, com os custos de energia solar, em particular, mergulhando pela metade desde 2010 apenas. As energias renováveis têm suas limitações --basicamente, o sol não brilha sempre e o vento nem sempre sopra--, mas se você acha que uma economia que recebe grande parte de sua energia de parques eólicos e painéis solares é uma fantasia hippie, quem está fora da realidade é você.

Por outro lado, verifica-se que colocar um preço sobre o carbono teria grandes “co-benefícios” --efeitos positivos para além da redução dos riscos climáticos-- e que esses benefícios viriam rapidamente. O mais importante desses co-benefícios, de acordo com o documento do FMI, envolve a saúde pública: a queima de carvão provoca muitas doenças respiratórias, que fazem subir os custos médicos e reduzem a produtividade.

E graças a estes efeitos colaterais positivos, o argumento frequente contra cobrar um preço pelo carbono --de que não vale a pena implantar tal programa a menos que possamos chegar a um acordo global-- está errado, segundo o documento. Mesmo sem um acordo internacional, há amplas razões para se tomar medidas contra a ameaça climática.

Mas voltando ao ponto principal: é mais fácil reduzir as emissões do que parecia possível até poucos anos atrás, e a redução de emissões produziria grandes benefícios a curto e a médio prazo. Assim, salvar o planeta sairia barato e talvez até mesmo de graça. Entram em cena os profetas do desespero climático, que desprezam toda esta análise e declaram que a única maneira de limitar as emissões de carbono é pôr um fim ao crescimento econômico.

Ouve-se isso principalmente de pessoas da direita, que normalmente dizem que as economias de livre mercado são infinitamente flexíveis e criativas. Mas, de repente, quando você propõe colocar um preço sobre o carbono, elas insistem que a indústria será completamente incapaz de se adaptar à mudança de incentivos.

Ora, é quase como se estivessem procurando desculpas para evitar enfrentar as mudanças climáticas e, em particular, evitar qualquer coisa que fira os interesses dos combustíveis fósseis, não importa o quão benéfico para todos os outros.

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Mas o desespero climático produz algumas parcerias estranhas: a insistência, alimentada por Koch, de que os limites sobre as emissões matariam o crescimento econômico é ecoada por alguns que veem isso como um argumento não contra uma ação climática, mas contra o crescimento. Encontramos essa atitude no movimento principalmente europeu de “decrescimento”, ou em grupos dos EUA como o Post Carbon Institute; eu já vi alegações de que a salvação do planeta exige o fim do crescimento, em reuniões de esquerda para “repensar a economia”.

Na verdade, o ambientalismo anti-crescimento é uma posição marginal, mesmo na esquerda, mas é suficientemente disseminado para fazer barulho. E, às vezes, você vê cientistas rígidos argumentando no mesmo sentido, em grande parte (eu acho), porque eles não entendem o que significa crescimento econômico. Eles pensam nisso como uma coisa bruta, algo físico, uma questão simplesmente de produzir mais coisas, e não levam em conta as muitas opções -sobre o que consumir, sobre quais tecnologias a utilizar- que entram na formação do PIB.

Então aqui está o que você precisa saber: o desespero climático está todo errado. A ideia de que o crescimento econômico e a ação climática são incompatíveis pode parecer séria e realista, mas na verdade é um equívoco confuso. Se jamais vencermos os interesses especiais e a ideologia que bloquearam as ações para salvar o planeta, vamos descobrir que é mais barato e mais fácil do que se imagina.