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O sonho impossível de uma moeda única na Europa

20.jul.2015 - Após três semanas fechados, bancos da Grécia reabrem com limite de saque de 420 euros por semana - Thanassis Stavrakis/AP
20.jul.2015 - Após três semanas fechados, bancos da Grécia reabrem com limite de saque de 420 euros por semana Imagem: Thanassis Stavrakis/AP

Paul Krugman

20/07/2015 11h50

Há um momento de calmaria nas notícias da Europa, mas a situação está tão terrível quanto nunca. A Grécia está enfrentando uma queda pior do que a Grande Depressão, e nada do que está acontecendo agora oferece qualquer esperança de recuperação. A Espanha tem sido aclamada como uma história de sucesso, porque sua economia está finalmente crescendo - mas ainda tem 22% de desemprego. E há um arco de estagnação em toda a parte superior do continente: a Finlândia está enfrentando uma depressão comparável à do sul da Europa, e a Dinamarca e a Holanda também vão muito mal.

Como é que as coisas deram tão errado? A resposta é que é isso que acontece quando os políticos autoindulgentes ignoram a aritmética e as lições da história. E não, não estou falando de esquerdistas na Grécia ou em outro lugar; estou falando dos homens respeitáveis em Berlim, Paris e Bruxelas, que passaram um quarto de século tentando administrar a Europa com base em uma economia fantasiosa.

Para alguém que não sabe muito de economia, ou optou por ignorar perguntas embaraçosas, estabelecer uma moeda europeia unificada parecia uma grande ideia. Facilitaria o comércio pelas fronteiras e serviria como um poderoso símbolo de unidade. Quem poderia ter previsto os enormes problemas que o euro acabaria por causar?

Na verdade, muita gente. Em janeiro de 2010, dois economistas europeus publicaram um artigo intitulado “Não pode acontecer, é uma má ideia, não vai durar”, zombando dos economistas norte-americanos que haviam alertado que o euro iria causar grandes problemas. Como se viu, o artigo acidentalmente tornou-se um clássico: no exato momento em que estava sendo escrito, todas aquelas terríveis advertências estavam em vias de se provarem corretas. E a longa lista de economistas que o artigo citava como pessimistas equivocados que mereciam ser envergonhados tornou-se, em vez disso, uma espécie de quadro de honra, um quem é quem daqueles que acertaram em alguma medida.

O único grande erro dos eurocéticos foi subestimar o tamanho do dano que a moeda única faria.

O ponto é que não era nada difícil de ver, desde o início, que uma união monetária sem uma união política era um projeto muito duvidoso. Então, por que a Europa seguiu em frente assim mesmo?

Principalmente, eu diria, porque a ideia do euro soava tão boa. Ou seja, parecia otimista, com espírito europeu, exatamente o tipo de coisa atraente para aquelas pessoas que dão discursos em Davos. Essas pessoas não queriam economistas nerds dizendo-lhes que a sua visão glamorosa era uma má ideia.

Na verdade, ficou muito difícil levantar objeções ao projeto da moeda única dentro de elite da Europa. Lembro-me muito bem do ambiente do início dos anos 90: quem questionasse a conveniência da criação do euro era efetivamente excluído da discussão. Além disso, se você fosse americano e expressasse dúvidas era invariavelmente acusado de segundas intenções --de ser hostil à Europa e de querer preservar o “privilégio exorbitante” do dólar.

E o euro veio. Por uma década após a sua introdução, uma enorme bolha financeira mascarou seus problemas subjacentes. Mas agora, como eu disse, todos os temores dos céticos se provaram certos.

E a história não termina aí. Quando começaram as tensões previstas e previsíveis sobre o euro, a resposta política da Europa foi impor uma austeridade draconiana aos países devedores --e negar a lógica simples e a evidência histórica que indicavam que tais políticas infligiriam danos econômicos terríveis e não levariam à redução prometida da dívida.

É impressionante como, mesmo hoje, as autoridades europeias rejeitam as advertências de que cortar os gastos do governo e aumentar os impostos levará a profundas recessões, insistindo que tudo ficará bem porque a disciplina fiscal inspira confiança. (O que não vem acontecendo.) A verdade é que tentar lidar com grandes dívidas por meio apenas de austeridades --especialmente junto com uma política de baixa liquidez-- nunca funcionou. Não funcionou no Reino Unido após a Primeira Guerra Mundial, apesar dos imensos sacrifícios; por que alguém iria esperar que funcionasse na Grécia?

O que a Europa deveria fazer agora? Não há boas respostas --mas a razão para não haver boas respostas é porque o euro se transformou em uma armadilha difícil de escapar. Se a Grécia ainda tivesse sua própria moeda, seria o caso de desvalorizar a moeda, e assim melhorar a competitividade grega e terminar com a deflação.

O fato de a Grécia não ter uma moeda, de ter que criar uma do nada, aumenta muito os riscos. Meu palpite é que a saída do euro ainda se provará necessária. De qualquer forma, será essencial cortar a maior parte da dívida grega.

Mas nós não estamos tendo uma discussão clara sobre essas opções, porque o discurso europeu ainda é dominado por ideias que a elite do continente gostaria de fossem verdade, mas não são. E a Europa está pagando um preço terrível por esta autoindulgência monstruosa.