A sociedade atual está menos preparada para a morte
A "Magazine Littéraire", uma publicação mensal da França, dedicou um número recente a um único assunto: como a literatura trata o tema da morte. Eu o li com interesse, mas afinal fiquei desapontado. Alguns artigos podem ter tocado ideias com as quais não tinha familiaridade, mas em última instância eles apenas reiteraram uma tese bem conhecida: que além de abordar a ideia do amor a literatura sempre lidou com o conceito de morte.
Os artigos apontavam a presença da morte tanto nas narrativas do século passado como na literatura gótica pré-romântica, mas também poderiam ter citado a mitologia grega - talvez a morte de Heitor e o luto de Andrômaco - ou o sofrimento dos mártires em muitos textos medievais. Para não falar no fato de que a história da filosofia começa com a premissa do mais fundamental dos silogismos: "Todos os homens são mortais".
Talvez o problema tenha origem no fato de que as pessoas leem menos livros hoje do que nas gerações passadas. Seja qual for a causa, porém, perdemos nossa capacidade de aceitar a morte. A religião, a mitologia e os antigos rituais tornavam a morte, senão menos temível, pelo menos mais familiar para nós. Através de grandes celebrações fúnebres, do lamento dos enlutados e das grandes missas de réquiem, nos habituávamos ao conceito de morte. Éramos preparados para ela pelos sermões sobre o inferno, e ainda criança fui incentivado a ler trechos do "Companheiro da Juventude" que abordavam a morte.
Aquele texto, um manual de orações editado pelo padre do século 19 Dom Bosco, era um lembrete de que não sabemos onde ou quando a morte nos levará - em nossa cama, no trabalho, na rua; com um aneurisma estourado, uma febre, um terremoto ou algo totalmente diferente. Naquele momento sentiremos a cabeça atordoada, os olhos doloridos, a língua seca, as mandíbulas travadas, o peito pesado, o sangue congelado, a carne consumida, o coração traspassado. Daí a necessidade de praticar o que Dom Bosco chamou de Exercício para uma Morte Feliz: "Quando meus pés imóveis me disserem que minha carreira nesta vida está prestes a terminar... Quando minhas mãos trêmulas e insensíveis não puderem mais te segurar, oh, meu bom Crucifixo, e a contragosto eu o deixar cair sobre meu leito de sofrimento... Quando meus olhos estiverem enevoados e distraídos pelo horror da morte iminente... Quando minhas faces pálidas e cinzentas despertarem compaixão e terror nos que me virem, e meu cabelo, molhado e eriçado com o suor da morte, anunciar a proximidade do meu fim... Quando minha imaginação, agitada pelos horrendos e assustadores fantasmas, afundar em tristeza mortal... Quando eu tiver perdido o uso de todos os meus sentidos... gracioso Jesus, tem piedade de mim."
Isso é puro sadismo, alguém poderia dizer. Mas o que ensinamos a nossos contemporâneos hoje? Que a morte ocorre longe de nós, em hospitais, que os enlutados não necessariamente acompanham o caixão até o cemitério, que não vemos mais os mortos. Ou melhor, nós os vemos constantemente - sendo espancados, alvo de tiros ou explosões; caindo para o fundo de um rio com os pés metidos em concreto; deitados inertes na calçada, com as cabeças rolando na rua. Mas esses não são nossos próximos e queridos; são atores.
A morte é um espetáculo - certamente nos filmes e na televisão, mas também na vida real. Devoramos reportagens na mídia sobre uma jovem que foi estuprada e assassinada, ou sobre as vítimas de um "serial killer". Não vemos os corpos torturados, porque isso nos lembraria nossa própria morte. Mas vemos amigos em prantos levarem flores a um local de crime ou montando uma vigília à luz de velas. Ou, muito mais sádico, vemos repórteres baterem à porta de uma mãe enlutada para perguntar como ela "se sentiu" quando soube da morte do assassino de sua filha. A morte em si é mostrada apenas indiretamente, através de imagens de amizade e dor materna, o que nos afeta de forma menos visceral.
A morte quase desapareceu de nosso horizonte de experiência imediato. O resultado é que a maioria das pessoas ficará muito mais aterrorizada quando chegar a hora de enfrentar o acontecimento que é nosso destino desde que nascemos - um destino que homens mais sábios passaram suas vidas inteiras tentando aceitar.
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