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Reinaldo Azevedo

Churrasco na "Salò do Mito"? Bolsonaro comerá a carne de brasileiros mortos

Cena de "Salò, Os 120 Dias de Sodoma". Nem na mais asquerosa distopia inspirada em Mussolini, usou-se o canibalismo como metáfora - Reprodução
Cena de "Salò, Os 120 Dias de Sodoma". Nem na mais asquerosa distopia inspirada em Mussolini, usou-se o canibalismo como metáfora Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

09/05/2020 09h48

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Jair Bolsonaro estava disposto a fazer uma churrascada com pelada e, claro!, umas "brejas" no sábado passado. O motivo era a comemoração do aniversário de Flávio, o Zero Um. Alguém objetou que não pegaria bem. Afinal, com o número de mortes subindo, sabem como é... Bem, então se adiou para este sábado. Se, enquanto escrevo, estão preparando a celebração macabra, não sei.

Na sexta passada, um dia antes do churrasco adiado, os mortos eram 6.412; nesta 9.897. Um aumento de 54,35% em apenas uma semana. Será que amoleceu o coração do nosso faraó? Nada disso!

A festança estava programada para 30 pessoas. Indagado às portas do Palácio da Alvorada, nesta sexta, se não era incômodo fazer uma festa quando tantos brasileiros estão morrendo, ele preferiu o caminho da ironia:
"Está todo mundo convidado aqui. Tem mais um pessoal de Águas Lindas. Tem umas 900 pessoas para o churrasco amanhã. Tem 1.300 convidados. Quem estiver amanhã aqui, a gente coloca para dentro. Vai dar mais ou menos 3.000 pessoas no churrasco amanhã".

Dizer o quê?

Custa a crer, porque temos senso de decência, que o presidente vá mesmo fazer a churrascada. Mas, por outro lado, por que duvidar?

Tem de chamar a Regina Duarte.

Se houver mesmo a celebração macabra, é bom que os presentes saibam: estarão comendo a carne dos mais de 10 mil brasileiros mortos.

Em "Salò, Os 120 Dias de Sodoma", de Pasolinni, os fascistas obrigam suas vítimas a comer fezes. Mas nem ele apelou ao canibalismo como metáfora.

É isso. Qualquer churrasco no Alvorada deve ser entendido como a festa dos canibais.

Essas cenas têm de ficar registradas na história.