Reinaldo Azevedo

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Opinião

Atuação do governo federal no RS é impecável; que Leite admita com clareza

Por alguns instantes, quase nada, chegamos a ter a sensação de que a tragédia que colhe o Rio Grande do Sul havia resgatado uma sombra de civilidade nos embates políticos. Não seria o lado positivo do caos — já que isso não existe —, mas uma resposta digna ao desastre. Lula mobilizou com rapidez a máquina federal e a colocou a serviço do estado. O decreto de calamidade já está aprovado. Os Três Poderes se uniram, sem tirar das mãos do governador Eduardo Leite a coordenação geral da operação. Afinal, não se decretou intervenção federal, não é mesmo?

A extrema direita bolsonarista, incluindo parlamentares, não cessou um só minuto de produzir "fake news". Conhecemos desde a pandemia, na sua plenitude, o respeito que essa gente tem pelos vivos e pelos mortos. A dor dos outros não importa. Infelizmente, a estupidez saltou o muro das redes sociais e foi parar, por intermédio de algumas penas e de algumas vozes, na imprensa. Que tenham suas restrições e reservas ao governo Lula, vá lá... Que decidam fazer oposição sistemática à gestão, isso também não é novo. O que incomoda, aí sim, e constitui sintoma grave de uma degeneração é a omissão de informações e a distorção miserável dos fatos.

O presidente deve anunciar hoje dois projetos, que terão trânsito fácil no Congresso: a suspensão do pagamento da dívida do estado com a União e a abertura de uma linha de crédito subsidiado para as vítimas. Também se decidiu antecipar o pagamento de duas parcelas extras do seguro-desemprego, autorizar o saque do FGTS, suspender o recolhimento pelas empresas do fundo e antecipar o pagamento do PIS. Só no âmbito do Ministério do Trabalho, o custo é de R$ 2,9 bilhões.

O Ministério da Defesa enviou quase 15 mil homens para o estado, além de 16 helicópteros, um avião de carga, 243 embarcações e 2.500 viaturas e equipamentos de engenharia. A Marinha decidiu deslocar para o estado o maior navio de guerra da América Latina, o "Atlântico". Do Ministério da Justiça, mais 734 pessoas: 325 da Polícia Rodoviária Federal, 319 da Polícia Federal e 100 da Força Nacional. Seus veículos foram junto: 48 caminhonetes especiais, 20 viaturas comuns, 18 botes e nove embarcações de resgate, seis viaturas-reboques, quatro helicópteros, dois caminhões, uma moto aquática e uma carreta-tanque para abastecimento. Juntam-se ao salvamento, enviados pela Saúde, 83 profissionais da Força Nacional do SUS. Quinze integram equipes aeromédicas. Será preciso estimar tudo isso em dinheiro.

Já se liberou mais de R$ 1 bilhão em emendas. O Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome autorizou o repasse de R$ 928 milhões para antecipação de Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada e Programa de Aquisição de Alimentos. São algumas das ações, as mais visíveis. E vamos ver o que virá. Insisto: não se conhece direito a dimensão da tragédia, que ainda está em curso.

Não se encontra nada disso nas milícias digitais de extrema direita, como se deve imaginar. Ao contrário: Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro recorreram às redes para espalhar mentiras e acusar a suposta inércia do governo federal.

EDUARDO LEITE
É claro que Eduardo Leite poderia, por algum tempo ao menos, esquecer os bolsonaristas que integram a sua base e ser mais claro sobre a presteza do Planalto em atender rigorosamente a todos os seus pleitos. Na presença de Lula, fez os agradecimentos de praxe. Isso à parte, o governo federal vira um elemento ausente em seu discurso.

Acho que o mandatário gaúcho faz muito bem, a exemplo do que fez na entrevista ao Jornal Nacional, em ser grato ao trabalho solidário do próprio povo, que participa dos resgates. Quem o ouve falar, no entanto, pode ficar com a impressão de que os quase 16 mil agentes federais que estão no Rio Grande do Sul fazem um trabalho secundário.

Lula, note-se, em momento nenhum, fez declaração ou apelo que não estivessem estritamente ligadas à ajuda. O que há de politização está nas redes bolsonaristas e, sim, em áreas da imprensa. E, se quiser, leitor, pode incluir este texto na cota porque, com efeito, estou aqui a falar de política. A diferença nada ligeira é que denuncio o esforço de certos setores para ignorar os fatos e distorcer a história.

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"Ah, mas o presidente só foi a Santa Maria na quinta..." É uma crítica desonesta até com o calendário. Começou a chover no dia 27. A situação começou a se agravar no dia 29 e a se mostrar crítica a partir do dia 30. O chefe do Executivo não é interventor dos estados. Tão logo o governador fez o alerta e o apelo — e deveria ter recorrido ao telefone, não ao Twitter —, Lula desembarcou no Rio Grande do Sul. Acusá-lo de não ter percebido a dimensão do desastre é desonestidade adicional porque, como resta óbvio, surpreendidos foram todos, inclusive as autoridades locais, também Leite — ou, estou certo, teria tomado medidas preventivas, não?

O cataclismo tem características inéditas, e inédita tem sido a resposta do governo federal. Sabem por que escrevo isto? Porque o juízo crítico que não faz a distinção entre prontidão e negligência, entre eficiência e ineficiência, entre dedicação e descaso, bem, juízo crítico não é, mas má-fé e politização vigarista do sofrimento de milhares de pessoas.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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