Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Ah, militares não gostaram de Lula elegível? E de 300 mil mortos? Gostam?
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Consta que os militares com e sem pijama não ficaram satisfeitos com a elegibilidade de Lula e estariam antevendo problemas caso seja mesmo ele o candidato do PT à Presidência da República.
E acontecerá o quê?
Os militares podem suportar a marcha batida para 300 mil mortos, 350 mil, mas não toleram que um ex-presidente da República, tornado elegível pela Justiça, depois de evidenciada, quando menos, uma falha grave — foi farsa judicial, por óbvio —, se candidate? Em nome de quê? Da honra?
Essa conversa não deveria nem mais ser tolerada no país. Bem, se é assim, tentem, então, dar um golpe. Nem quero nem recomendo. Mas parem de nos ameaçar. As coisas não andam fáceis para fardados golpistas nem em Mianmar. Não descarto que haja doidos por aqui. Mas é bom que saibam que o caminho para a cadeia será muito curto.
Lula, é apenas um fato, foi o presidente que mais investiu nas Forças Armadas. O que há de errado com essa evidência, além de nada? "Ah, não é o suficiente para acalmar os quartéis depois da Comissão da Verdade". Que punição a dita-cuja impôs a golpistas sobreviventes, além de nenhuma?
Muita gente acredita que o erro esteve justamente aí. Nunca foi a minha convicção porque sempre defendi os pressupostos da anistia — ampla, geral e irrestrita — como caminho da pacificação. Isso nada tem a ver com a responsabilização civil do Estado por malfeitos. É necessária. É moralmente obrigatória.
O neogolpismo está fazendo um esforço danado para que eu reveja essa posição. Ainda não cheguei a tanto. Poderia perguntar: "Mas o que querem os militares?" Bem, já sei a resposta: o poder. E eles conseguiram ao menos uma meia tutela do governo Bolsonaro. E estão ajudando a fazer uma das gestões mais nefastas da história.
Eis aí: estão com o governo que, tudo indica, pediram ao Senhor Deus dos Exércitos. É preciso que se lembre aqui a gestão que um dos seus, general Augusto Pazuello, faz da Saúde?
As Forças Armadas deveriam, depois do discurso desta quarta, ser gratas a Lula uma vez mais. Afirmou o ex-presidente:
"Vocês sabem que a questão da vacina não é uma questão se tem dinheiro ou se não tem dinheiro. É uma questão se eu amo a vida ou amo a morte. É uma questão de saber qual é o papel de um presidente da República no cuidado do seu povo. Porque o presidente não é eleito para falar bobagem e fake news. Ele não é eleito para incentivar a compra de armas, como se nós tivéssemos necessitando de armas. Quem está precisando de armas são as nossas Forças Armadas. Quem está precisando de arma é a nossa polícia, que, muitas vezes, sai pra rua pra combater a violência com um 38 velho, todo enferrujado. Mas não é a sociedade brasileira."
Senhores militares! Há nessa fala mais responsabilidade do que no silêncio do Alto Comando de cada uma das Forças, que assiste, impassível, a uma legislação armamentista que aposta — e uso é, as e modo, vocalizado, na guerra civil.
LUTA ARMADA
Uma coisa é certa, né? Lula não está apostando, por certo, na luta armada. Ou terá equipado as Forças Armadas quando presidente para tentar, depois, derrubá-las?
O nome do subversivo é outro. Quem quer implementar uma legislação que vai armar ainda mais o narcotráfico e as milícias é Jair Bolsonaro, o capitão expelido do Exército.
A desordem e a incompetência matam, senhores militares!
Por isso, não tentem tutelar os vivos.