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Jornalistas de "A Tarde" fazem greve na BA após demissão de repórter

Heliana Frazão<BR>Especial para o UOL Notícias<BR>Em Salvador

09/02/2011 21h03Atualizada em 09/02/2011 21h35

Pela primeira vez em praticamente cem anos de existência, o jornal “A Tarde” –um dos mais importantes da Bahia– enfrentou uma greve de jornalistas nesta quarta-feira (9). O movimento ocorreu em repúdio à demissão do repórter Aguirre Peixoto, de 23 anos, segundo o Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba), supostamente decorrente de pressão feita pelo setor imobiliário baiano. Cerca de 70 jornalistas cruzaram os braços e permaneceram na área externa do diário até o início da noite.

Durante muitos anos, “A Tarde” foi considerado o maior jornal das regiões Norte e Nordeste. Em setembro do ano passado, porém, perdeu a liderança local na vendagem para o concorrente “Correio”. Há rumores sobre a possível venda de “A Tarde” devido a problemas financeiros. 

Peixoto, que havia sido contratado há um ano, após dois anos de estágio na empresa, tinha escrito duas reportagens contendo denúncias contra um parque tecnológico que seria construído na avenida Paralela, vetor de crescimento da cidade. As reportagens, respaldadas em denúncia do Ministério Público Federal, davam conta de que o empreendimento teria sido iniciado antes da liberação da licença ambiental.

Segundo alguns repórteres, que pediram para não ser identificados, desde setembro do ano passado o segmento tinha suspendido os anúncios no veículo, descontentes com alguns textos que tratavam de supostas irregularidades das construções na região.

“Na manhã de ontem (terça-feira) recebi um telefonema dizendo que eu deveria passar no setor de Recursos Humanos do jornal. Lá, fui informado da minha demissão, sem qualquer explicação”, conta o repórter. Para ele, não havia outro motivo para a demissão que não as reportagens que estavam sendo criticadas.

A presidente do Sinjorba, Marjorie Moura, define a situação como um “precedente gravíssimo, que fere a liberdade de imprensa e deve ser repudiado por toda a categoria”.

Em assembleia realizada no estacionamento do jornal, a redação decidiu redigir um documento encaminhado à direção do diário, contendo três pontos: explicação formal da direção para a demissão; readmissão do repórter e pedido de explicações sobre alinha editorial do veículo.

Ficou acertada para o meio-dia da quinta-feira (10), uma reunião entre representantes dos Sinjorba e os proprietários do jornal, Renato e Sylvio Simões. O terceiro sócio, o jornalista Ranulfo Bocayuva, que foi contrário à demissão, também participou da paralisação desta tarde.

Após o acordo, os jornalistas retornaram ao trabalho e o jornal deve circular normalmente nesta quinta-feira. O Sinjorba não descarta a realização de outras paralisações.

ABI se manifesta

A Associação Bahiana de Imprensa (ABI) divulgou uma nota nesta tarde lamentando o ocorrido. A nota assinada pelo presidente da entidade, Samuel Celestino, colunista do veículo, classificou o fato como um “retrocesso descabido”.

“Entende a entidade que nenhuma força –econômica, política ou social– se impõe sobre os valores maiores dos homens livres. À frente de tais valores, se agiganta a força da liberdade de imprensa, da livre expressão, do livre dizer, do direito de informar e de ser informado. (....) É nesse conjunto de valores que se sustenta a democracia, essência que alicerça os homens iguais (...).  O episódio desmerece a luta empreendida pela imprensa livre desta terra, que sempre encontrou no povo da Bahia o seu principal aliado e defensor.”

Outro lado

A reportagem tentou contato com a direção do jornal, mas  a única manifestação pública a respeito do caso se deu por intermédio do sócio Renato Simões que, no seu perfil no Facebook, reagiu questionando: “A quem interessa achincalhar A Tarde? Com que objetivo? Se a empresa toma uma atitude de acordo com seu julgamento, que se ouça os argumentos antes de condená-la à execração”.