Topo

Cidade de Goiás recebe 3.000 pessoas para procissão de Fogaréu nesta quinta-feira

À meia-noite da Quarta-Feira das Trevas, durante a Semana Santa, a cidade de Goiás Velho (GO) realiza a Procissão do Fogaréu - Reinaldo Canato/UOL
À meia-noite da Quarta-Feira das Trevas, durante a Semana Santa, a cidade de Goiás Velho (GO) realiza a Procissão do Fogaréu Imagem: Reinaldo Canato/UOL

Guilherme Andrade<br>Especial para o UOL Notícias

Na Cidade de Goiás (GO)

20/04/2011 19h00

A Cidade de Goiás (GO), antiga capital do Estado, espera receber neste feriadão de Páscoa no mínimo 3.000 pessoas para a procissão do Fogaréu, tradição local quase tricentenária. O cortejo parte nesta noite de quarta-feira (20), mais precisamente à 0h da quinta-feira, dia 21/04.

Com os postes de luz apagados e o centro histórico totalmente às escuras, a procissão começa (e termina) na Igreja da Boa Morte, contando apenas com o fogo de tochas para iluminar o caminho entre belos casarões coloniais. O ritual mantém elementos da procissão em sua forma original.

No total, o cortejo tem cerca de 1h30m de duração e é o maior evento turístico-religioso da cidade, atraindo gente de todo o país. Segundo o presidente da Ovat (Organização Vilaboense de Artes e Tradições), Elder Camargo de Passos, são esperadas de três a quatro mil pessoas na celebração.

Tradição antiga

O Fogaréu vem sendo realizado anualmente desde 1745, ano em que foi trazido da Europa pelo padre português Perestrello Espíndola.

Os personagens centrais do cortejo são os Farricocos, quarenta homens representando os guardas romanos em busca de Cristo. Eles vestem túnicas coloridas de capuzes pontudos, com apenas duas aberturas para os olhos -- no passado, utilizadas para identificar a irmandade e também manter o anonimato do participante.  Atemporal, o grupo avança descalço pelas ruas de pedras lavradas por escravos em ritmo acelerado e dramático, cadenciado pela batida de tambores militares.

Percorrendo vielas estreitas, becos e pontes, o cortejo faz duas paradas: a primeira em frente à Igreja do Rosário simboliza a Última Ceia; a segunda, nas escadarias da Igreja de São Francisco, representa o Monte das Oliveiras. Ali, já por volta da 1h da quinta feira, algumas notas de clarim anunciam a prisão de Cristo. “A gente fica sentido. Aqui é como um teatro, mas tudo isso realmente aconteceu, e Jesus sofreu muito", conta Domingos Nicolau, o farricoco -clarinetista.

Em sua origem medieval na península ibérica, a manifestação então estritamente religiosa tinha inclusive caráter de penitência e autoflagelação. Tradicional, o cortejo cultiva até lendas, como a de que o diabo estaria à solta naquela noite de lua cheia. Conta-se que por esta razão, as mulheres eram proibidas de participar da procissão até 1950.