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''Essa ferida não vai cicatrizar nunca'', diz padrinho de vítima do massacre de Realengo

Douglas Corrêa

Da Agência Brasil

07/05/2011 15h00

Rio de Janeiro – Um mês depois da tragédia que matou 12 crianças na Escola Municipal Tasso da Silveira, parentes e amigos fizeram uma homenagem às vítimas e lembraram da dor de perder alguém muito próximo. Alguns pais não conseguiram ir à manifestação de hoje (7) pela manhã e foram representados por parentes.

O padrinho de Laryssa da Silva Martins, 13 anos, Gerson da Silva Guilherme, representou a família da vítima na manifestação. Ele disse que o momento ainda é de muita dor.

“A dor não passou um minuto. Essa ferida não sara, não tem cura. A mãe da Laryssa não tem lágrimas para chorar, mas você vê, pela fisionomia dela, que a tristeza impera no coração. O pai ainda fala, desabafa, mas a tristeza, a dor é profunda. Um mês depois me parece que essa ferida não vai cicatrizar nunca”, disse Gerson.  

Adriana Maria da Silveira que perdeu a filha Luiza, de 14 anos, voltou hoje à frente da escola para participar da manifestação. Abalada e chorando muito, ela disse que todos os sonhos da sua filha foram roubados.

“Eu costumo dizer que eu perdi o ar que eu respiro. O mundo ficou preto e branco. Eu estou sem chão, sem direção. É a primeira vez que eu retorno, que eu estou na frente do colégio. Eu não tinha voltado aqui desde a tragédia. Eu costumava escrever que ela e o irmão [mais velho de 17 anos] eram o ar que eu respiro. Nós já estávamos fazendo a festinha dela de 15 anos. Era estudiosa e só ia da casa para a escola e dos cursos para casa”.

Adriana contou que não conseguiu mais retornar para casa e está morando com o filho mais velho na casa da mãe. Ela disse que sua casa traz muitas recordações e que é impossível ver o quarto da filha, as roupas e os cadernos da escola sem se emocionar.
 
O juiz trabalhista Marcelo Alexandre da Costa Santos, 40 anos, ferido junto com o filho e a enteada ao tentar voltar de uma blitz da Polícia Civil na estrada Grajaú-Jacarepaguá, no dia 2 de outubro do ano passado, veio prestar solidariedade às famílias da tragédia de Realengo.

“Eu sei o que é estar entre a vida e a morte. Eu sei o que isso significa e os traumas que vêm depois. A passeata em si é um ato simbólico. As vítimas da violência se tornam invisíveis e mudas. Essa é a verdade mais pura. Então será que a gente não pode dar voz a essas pessoas e alguém de verdade ouça? Eu estou nessa situação há sete meses e até hoje ninguém lá em casa dorme direito. Até hoje meus filhos choram. Até hoje eles não saem à noite porque morrem de medo. Isso é um trauma que fica e que fica para sempre.”