Topo

"Xerifa da Rocinha" é procurada pela polícia do Rio; namorada de Nem esbanjava joias em rede social

Hanrrikson de Andrade

Do UOL Notícias, no Rio de Janeiro

17/11/2011 14h58

Os setores de inteligência das forças policiais do Rio de Janeiro tentam descobrir a partir de denúncias anônimas o esconderijo de Danúbia de Souza Rangel, 27, namorada do ex-chefe do tráfico de drogas na Rocinha, Antônio Bonfim Lopes, o Nem, preso na semana passada. Na manhã desta quinta-feira (17), agentes do Bope (Batalhão de Operações Especiais) checaram uma informação recebida pelo Disque-Denúncia sobre um local na zona norte da cidade, porém nada encontraram.

Segundo a polícia, o comando da operação "Choque de Paz", que ocupou as favelas da Rocinha, do Vidigal e da Chácara do Céu neste fim de semana, já está investigando outras denúncias sobre possíveis esconderijos da "xerifa da Rocinha", como ela gostava de ser chamada na comunidade.

O nome de Danúbia consta em uma investigação da Polinter, concluída em 2009, sobre um suposto esquema de lavagem de dinheiro do tráfico. Porém, não há mandado de prisão contra a namorada de Nem.

A "xerifa da Rocinha" era temida na comunidade por conta de seu temperamento explosivo e ciumento. Segundo moradores que conversavam em um restaurante da Via Ápia na tarde desta quarta-feira (16), Danúbia odiava ser chamada de "viúva negra" (em alusão ao fato de que ela já foi namorada de dois traficantes mortos), e teria ordenado há alguns meses o espancamento de uma jovem da favela que supostamente mencionou o apelido.

A polícia trabalha com a hipótese de que a namorada de Nem teria mudado o visual a fim de facilitar a fuga da Rocinha. Há informações de que ela estaria com os cabelos pretos e curtos, e não loira como mostram todas as fotos nas quais a xerifa da Rocinha aparece esbanjando joias de ouro e outros artigos de luxo.

Na última quinta-feira (10), quando Nem foi transferido para presídio de Bangu, Danúbia foi vista na porta da Polícia Federal, chorando, ao lado do advogado do traficante.

De acordo com as investigações, Danúbia fugiu com as duas filhas do casal, Beatriz e Yasmin, antes do anúncio da ocupação policial.

Luxo e ostentação

Nem nunca poupou esforços para dar uma vida repleta de luxo e ostentação para a namorada, que já teve relacionamentos com outros dois traficantes mortos, conhecidos como Mandioca (de quem teve um filho) e Marcélio, ambos do Complexo da Maré, na zona norte do Rio. Em seu perfil numa rede social, Danúbia postava inúmeras fotos nas quais aparece com joias de ouro, roupas de marca, bebidas importadas, entre outras.

Além da extravagância da rotina de primeira dama do narcotráfico na Rocinha, a polícia acredita que todos esses gastos serviam para lavar o dinheiro do crime organizado.

Danúbia e Nem moravam em uma luxuosa casa em uma localidade conhecida como Cachopa - é necessário subir uma ladeira bastante íngreme para chegar ao imóvel. Segundo vizinhos, ambos só circulavam pela favela pilotando motos de última geração.

A residência possui deque com piscina, churrasqueira de alvenaria, banheira de hidromassagem, cômodos amplos, um terraço com vista panorâmica da favela (incluindo a Pedra da Gávea), entre outras características que destoam da realidade socioeconômica dos barracos no entorno. Em uma das paredes da casa, havia um banner com fotos sensuais da ex-primeira dama do narcotráfico da Rocinha.

Não foram poucas as transformações estéticas de Danúbia. Com o dinheiro do tráfico, ela fez pelo menos três cirurgias plásticas, sendo uma aplicação de silicone nos seios, além de visitas semanais a salões de beleza na Barra da Tijuca, bairro nobre da zona oeste do Rio. Segundo moradores, ela se exercitava regularmente em uma grande academia situada na próxima comunidade.

O corpo atlético sempre atraiu olhares velados dos homens da favela, que sabiam que qualquer reação mais instintiva poderia significar uma sentença de morte. Das várias histórias comentadas por moradores --que aos poucos se acostumam com o fim da lei do silêncio que era imposta pelo narcotráfico--, há informações sobre um homem que teria sido espancado a mando de Nem porque foi visto em uma pizzaria na companhia de Danúbia.

Em uma das fotos postadas na rede social da "xerifa da Rocinha", ela aparece em um bar situado no segundo andar do casarão do casal, cercada por várias garrafas de uísque, vodka e outras bebidas alcoólicas.

Danúbia, que nunca escondeu a obsessão por uísque, dizia para todos que a sua marca favorita é "The Macallan" -- apenas uma loja do Rio de Janeiro comercializa tal bebida, que custa cerca de R$ 900 a garrafa.

Há imagens que mostram a ex-primeira dama do tráfico na Rocinha em passeios de lancha e helicóptero, este último em Natal, no Rio Grande do Norte, feito na companhia do namorado. Outras fotos mostram Danúbia na companhia de celebridades, tais como a cantora Cláudia Leitte e a atriz Juliana Paes.

Lavagem de dinheiro

Em abril desse ano, agentes da Polinter em parceria com o Núcleo de Lavagem de Dinheiro da Polícia Civil desencadearam uma megaoperação para reprimir atividades ilícitas na favela, porém não conseguiram cumprir os mandados de prisão expedidos contra supostos laranjas de Nem. A namorada do ex-chefe do tráfico na Rocinha era uma das pessoas investigadas.

Além dela, foram citados no inquérito o líder comunitário Vanderlan Barros, conhecido como Feijão, o irmão dele, Telmo Oliveira Barros. Na época, os policiais chegaram a apreender um caminhão de gelo da empresa administrada por Feijão dentro de um estacionamento na estrada da Gávea.

Nesta quarta-feira (16), Vanderlan Barros foi detido por policiais militares durante patrulhamento na Rocinha. No entanto, após ser levado para a 15ª Delegacia de Polícia (Gávea), os policiais foram informados de que o mandado de prisão contra ele tinha sido revogado pela Justiça.

Veja onde estão localizadas as UPPs no Rio de Janeiro

  • Fonte: UPPrj.com