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Advogado cita mortos no Pinheirinho; OAB nega que homem fale em nome da instituição

Do UOL, em São Paulo

23/01/2012 17h41Atualizada em 23/01/2012 20h37

O advogado e presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São José dos Campos, Aristeu César Pinto Neto, disse nesta segunda-feira (23) que houve mortos na operação de reintegração de posse do terreno conhecido como Pinheirinho, na periferia da cidade, realizada no domingo (22).

“O que se viu aqui é a violência do Estado típica do autoritarismo brasileiro, que resolve problemas sociais com a força da polícia. Ou seja, não os resolve. Nós vimos isso o dia inteiro. Há mortes, inclusive de crianças. Nós estamos fazendo um levantamento no IML, e tomando as providências para responsabilizar os governantes que fizeram essa barbárie”, disse Aristeu César Pinto Neto, que atua como advogado das famílias afetadas, em entrevista à TV Brasil e em reportagem da Agência Brasil. Pinto Neto, entretanto, não citou nomes e locais onde estariam esses corpos.

Após a afirmação, a OAB de São José dos Campos divulgou nota oficial afirmando que o "único autorizado a fazer qualquer pronunciamento em nome da OAB Subeção de São José dos Campos é o seu presidente Dr. Julio Aparecido Costa Rocha". Procurado pelo UOL, Rocha afirmou que, após a fala de Pinto Neto, foi checar informações sobre mortos, mas não encontrou qualquer tipo de registro. "A informação não tem fundamento. Ele não falou em nome da OAB." A presidente da OAB no muncípio disse que vai analisar se algum tipo de procedimento será tomado contra Pinto Neto. O advogado não foi encontrado pela reportagem para comentar o caso.

Também procurada, a Polícia Militar negou as informações e reafirmou que não há mortos na operação. Segundo balanço da prefeitura, 20 pessoas foram feridas e apenas uma continua internada em estado mais grave --ela teria sido atingida por uma bala. O governo estadual, por meio da Secretaria de Segurança Pública, também nega que pessoas morreram na reintegração.

Os moradores, que estão alojados em abrigos públicos, falaram sobre supostos mortos, mas não há provas nem possíveis corpos identificados.

O coronel da Polícia Militar Manoel Messias Mello diz não ter presenciado ou ter recebido informações de casos de violência e abuso. “Usamos armas não letais. Fizemos o necessário para conter a pressão”, afirmou.

Segundo Pinto Neto, a PM e a Guarda Municipal chegaram a atacar moradores que se refugiavam dentro de uma igreja próxima ao local. “As pessoas estavam alojadas na igreja e várias bombas foram lançadas ali, a esmo”, declarou. Melo confirmou que os policiais militares se envolveram em conflitos durante a madrugada, mas negou que a ação foi contra os moradores do Pinheirinho. “Foram vândalos e anônimos que praticaram incêndios na região. Tivemos 14 prisões e algumas apreensões de armas esta noite”, declarou.

Desde o início da manhã de ontem (22) , a PM cumpre uma ordem da Justiça Estadual para retirar cerca de 9.000 pessoas que vivem no local há sete anos. O terreno integra a massa falida da empresa Selecta, do investidor Naji Nahas. A Justiça Federal decidiu contra a desocupação do terreno, mas a polícia manteve a reintegração obedecendo ordem da Justiça Estadual.

A moradora Cassia Pereira manifestou sua indignação com a maneira como as famílias foram retiradas de suas casas sem que ao menos pudessem levar seus pertences. “A gente está lutando por moradia. Aqui ninguém quer guerra, ninguém quer briga, a gente quer casa, nossa moradia. Todo mundo tinha suas casas aqui construídas, e tiraram de nós, sem direito a nada. Pegamos só o que dava para carregar na mão”, disse.
 

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(Com Agência Brasil)