Topo

Como "voto de confiança", Exército libera comida para grevistas dentro da Assembleia na Bahia

Janaina Garcia

Do UOL, em Salvador

07/02/2012 10h04Atualizada em 07/02/2012 12h22

Porta-vozes do Exército afirmaram que foi autorizada, na manhã desta terça-feira (7), a entrada de comida, remédios e mantimentos para PMs grevistas e familiares que ocupam o prédio da Assembleia Legislativa da Bahia, em Salvador.

"Foi um voto de confiança e demonstração de boa vontade da parte do governo com os grevistas", disse o chefe do setor de comunicações do Exército, o tenente-coronel Márcio Cunha.

Antes, havia sido autorizada apenas a entrada de mantimentos e materiais de higiene para quatro crianças que também estão dentro do prédio.

 Segundo Cunha, desde as 21h de ontem (6) até esta manhã, deixaram o prédio nove adultos --sete deles manifestantes-- e sete crianças.

“[A entrada de comida e material de higiene] foi autorizada pela Secretaria de Segurança Pública em função da evolução nas negociações, e para quatro crianças, o que não significa que haja apenas quatro delas lá. Elas estavam com fome e as tropas do Exército entregaram, até a zona de limite, aos manifestantes”, disse Cunha. Ainda conforme o tenente-coronel, há uma equipe da SSP no interior da Assembleia, tentando uma negociação com os PMs.

A nutricionista Maria José dos Santos, 65 anos, disse que conseguiu que os militares do Exército permitissem que ela enviasse feijão, roupas, analgésico e material de higiene para os grevistas.

Ela é mãe de dois policiais militares que estão dentro da Assembleia. "Minha filha e meu filho estão lá dentro. Trouxe o que eles pediram. Com o cansaço, estão precisando de analgésico. Hoje, eles pretendem fazer um feijão para todos lá dentro", disse Santos.

Ela disse que viveu momentos de muita tensão ontem, com a informação de que o Exército iria invadir o prédio.

"Minha filha me disse que estava um clima muito tenso porque todos eles estavam com medo de uma invasão. Quando os caminhões do Exército passaram para a parte de traz do prédio houve pânico. Hoje estou mais tranquila e ela me disse que lá dentro as coisas também estão mais calmas", disse a nutricionista, que evita ficar muito tempo ao telefone com os filhos para não descarregar as baterias dos celuleres.

Com a energia cortada, os manifestantes estão tendo dificuldade para recarregar os celulares. Além disso, o banho está racionado. Quem toma banho em um dia, não toma no outro.

Nesta manhã, em entrevista à "TV Globo", o governador do Estado, Jacques Wagner (PT), reafirmou que não dará o reajuste pedido pelos grevistas e nem concederá anistia aos manifestantes que promoveram atos de vandalismo. Na avaliação do petista, contudo, a expectativa para que as negociações avancem substancialmente hoje são grandes.

Sem invasão

Ontem, o tenente-coronel Cunha disse que está descartada a possibilidade de invasão da Assembleia por parte dos mais de mil militares que cercam a área desde a manhã de segunda-feira (6).

De acordo com Cunha, a ocupação do Exército no local tem fins pacíficos. "O general Gonçalves Dias determinou que fizéssemos essa área de isolamento para que as negociações pelo fim da manifestação ocorram de forma pacífica", afirmou. "Eventuais violências contra nossa tropa, porém, serão respondidas com a intensidade necessária."

Entenda

A paralisação na Bahia foi deflagrada na última terça-feira (31) por parte da categoria, liderada pela Associação de Policiais e Bombeiros da Bahia (Aspra). Doze mandados de prisão foram expedidos contra policiais militares que lideram o movimento, mas apenas um foi cumprido: o soldado Alvin dos Santos foi preso na madrugada de domingo (5) pelo comandante do batalhão, major Nilton Machado, sob a acusação de formação de quadrilha e roubo de veículos da Polícia Militar.

Cerca de 300 policiais militares estão amotinados dentro da Assembleia Legislativa em Salvador, cercados pelas forças federais, que negociam o fim da greve. Marcos Prisco, que é presidente da Aspra,  chegou a afirmar que cerca de 2.000 pessoas já estiveram dentro da Assembleia.
 
Na segunda-feira, soldados lançaram bombas de efeito moral e dispararam balas de borracha contra policias grevistas que estavam do lado de fora e que tentavam entrar no local.

De acordo com Prisco, os grevistas não vão deixar a Assembleia até que sejam revogados os pedidos de prisão de 12 grevistas, além da concessão da anistia irrestrita para os grevistas e o pagamento de gratificações.

(Com Agência Brasil)