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"Não sei se quero continuar aqui", diz moradora de região alagada no Acre

Golby Pullig

Do UOL, em Rio Branco

06/03/2012 06h00

A dona de casa Adélia Weseu ficou dez dias sem conseguir sair de casa, sem água potável e sem energia elétrica, depois que águas do rio Acre e do igarapé Judia cercaram sua residência em Rio Branco.  “A água vinha da frente e de trás. Fiquei apavorada. Não sei que quero continuar morando aqui. Tenho muito medo de passar por isso de novo”. Ela improvisou mudanças nos ambientes de sua residência para não precisar ir para um abrigo com marido, filhas e neto.

Adélia está entre os milhares de moradores do Acre atingidos pelas chuvas desse início de ano. As enchentes deixaram nove municípios em situação de emergência. Cerca de 145 mil pessoas sofreram o impacto das enchentes. Mais de 8.200 pessoas tiveram de deixar suas casas e ir para abrigos públicos. A capital, Rio Branco, foi a localidade mais atingida: 38 bairros na área urbana e 14 comunidades na área rural. O Estado deve receber R$ 10 milhões para ajudar no atendimento emergencial às vítimas.

O prefeito de Rio Branco, Raimundo Angelim, informou que vai isentar do pagamento do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e do ISS (Imposto Sobre Serviços) os imóveis e pequenos negócios afetados pela enchente do Rio Acre.

Francisca Léia e Wellington Araújo são donos de um açougue no bairro Taquari, um dos mais atingidos na capital. Quando o rio começou a baixar, eles iniciaram a limpeza do estabelecimento, sem poder contar com a ajuda de parentes ou amigos, todos na mesma condição. “Ainda nem paramos pra calcular o prejuízo. Queremos voltar a trabalhar logo pra compensar os 20 dias que ficamos parados, mas ainda tem muita lama”, diz Léia, que ficou hospedada com o marido e os dois filhos na casa da mãe.

Vizinho ao açougue, o serralheiro Francisco Oliveira precisou jogar fora todo o material estocado, inclusive as encomendas prontas para serem entregues. “Se o cliente não quiser, só nesse trabalho vou perder R$ 5 mil”.

O nível do rio Acre, que cruza a região mais povoada do Estado, estava em 12,98 m na tarde de ontem (5), abaixo da cota de transbordamento, que é de 14 m. No último dia 26, o rio chegou a dois centímetros da maior marca registrada, de 17,66 m, em 1997. Apesar de não ter ultrapassado a medida daquele ano, esta foi considerada pelas autoridades do Estado a maior enchente, a que causou mais prejuízos e que afetou um maior número de pessoas.

Se o nível do rio Acre está baixando, nas cidades de Cruzeiro do Sul, Tarauacá e Sena Madureira, os rios Juruá, Tarauacá e Iaco estão subindo e preocupam a Defesa Civil. Nos dois primeiros municípios, os rios estão a 5 e 20 cm da cota de alerta, respectivamente. Em Sena Madureira, que fica a 139 km da capital, o Iaco está 9 cm acima da cota e mais de mil pessoas estão em abrigos públicos.

Segundo cálculos preliminares realizados pelo Deracre (Departamento Estadual de Estradas de Rodagem, Hidrovias e Infraestrutura), em torno de 50 quilômetros da malha viária urbana foi danificada em Rio Branco. Muitos trechos das rodovias federais e estradas estaduais e vicinais também precisarão de reparos. Desde sexta-feira, 500 trabalhadores e 130 máquinas fazem a raspagem de lama e entulho que cobrem as ruas.

Até agora, 163 toneladas de alimentos foram doadas à população. O Exército Brasileiro é o responsável por receber, contar e montar as cestas básicas. Centenas de voluntários e agentes de saúde orientam as pessoas que ainda estão nos abrigos sobre os cuidados com a higienização das residências e o consumo de alimentos para evitar doenças.