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Quatro paredes estruturais foram derrubadas no Edifício Liberdade, diz PF

Julio Reis

Do UOL, no Rio

03/04/2012 18h24Atualizada em 04/04/2012 07h39

A Polícia Federal realizou no início da tarde desta terça-feira (3) uma acareação com quatro pedreiros que trabalhavam na obra realizada pela TO (Tecnologia Organizacional) no 9º andar do Edifício Liberdade e, de acordo com as informações prestadas, paredes estruturais foram derrubadas. O prédio era o maior dos três que desabaram no centro do Rio de Janeiro deixando 17 mortos e cinco desaparecidos no dia 25 de janeiro deste ano. Dois dos cinco desaparecidos, no entanto, tiveram sua identidade alcançada hoje, conforme informado pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli e relatou o delegado Fábio Scliar em entrevista coletiva realizada no fim desta tarde na sede da PF do Rio.

Segundo Scliar a acareação foi importante para esclarecer dúvidas e divergências de depoimentos separados dados por Vanderley Muniz, Gilberto Figueiredo, Alessandro da Silva e André Moraes quando o inquérito ainda estava no âmbito da Polícia Civil. Segundo Scliar, os quatro sequer tinham conhecimentos de pedreiro, sendo que apenas Vanderley era de fato ajudante de pedreiro.

André e Gilberto eram sócios de uma empreiteira contratada para gerenciar a obra, mas na verdade tratava-se de uma empresa especializada em trabalhos de gesso. Já Alessandro era ajudante de obras de maneira esporádica.

"Me parece que eles não eram as pessoas adequadas para estarem fazendo a obra. Eles derrubaram, obedecendo ordens, pelo menos sete paredes e, pela descrição das estruturas que foram derrubadas, quatro destas eram estruturais. Numa dessas paredes havia uma estrutura de ferro e concreto que estava ligada ao piso e a viga e que foram serradas", disse Scliar.

O delegado, no entanto, disse que outros depoimentos precisam ser ouvidos e que ainda é cedo para falar sobre que tipo de responsabilidades criminais serão imputadas às partes envolvidas. "O prédio tinha um histórico de intervenções, mas se esta obra contribuiu para que ele viesse abaixo antecipadamente, tal qual uma agressão a um doente terminal, estamos falando sim de um crime", ressaltou o delegado, acrescentando ainda que a obra não foi acompanhada por nenhum engenheiro ou arquiteto encarregado e que não havia licença da prefeitura para a reforma.

Segundo Scliar, um dos trabalhadores se disse constrangido com o advogado que o representa e que lhe foi oferecido pela empresa. "Eu acredito que está havendo um conflito de interesses aqui, mas não posso ir além", disse o delegado.

A Polícia Federal disse que deve solicitar ao perito de engenharia uma perícia indireta (baseada nos documentos e depoimentos dos autos), além do auto de exame do local, que já havia sido requisitado. Quem está sendo ouvida esta noite é a gerente administrativa da TO, Cristiane do Carmo Azevedo. Os trabalhadores relataram, ao delegado, que Cristiane era a interlocutora e passava as ordens para o que deveria ser feito. Amanhã deve ser ouvido o síndico do Ed. Liberdade, Paulo Renha.

O inquérito iniciado no âmbito da Polícia Civil passou para a alçada da Polícia Federal por meio da Delegacia de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente e o Patrimônio Histórico (Delemaph), já que a queda dos edifícios envolveu danos ao Theatro Municipal, que é tombado pela União.

A reportagem do UOL entrou em contato com os advogados da empresa TO, que prometeram se pronunciar em breve.

Veja o local onde desabaram os prédios no centro do Rio