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Justiça do Rio decreta prisão preventiva de três acusados de assassinar ex-líder comunitário da Rocinha

Do UOL, no Rio

22/05/2012 11h31

A juíza da 1ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, Ludmilla Vanessa Lins da Silva, decretou a prisão preventiva dos três acusados de homicídio qualificado contra o ex-líder comunitário da favela da Rocinha Vanderlan Barros de Oliveira, conhecido como Feijão, morto a tiros em um dos acessos à comunidade da zona sul do Rio, no dia 26 de março deste ano.

Os réus são Wellington Cipriano da Silva Filho, o "Vasquinho", Amaro Pereira da Silva, o "Neto", e Thiago Martins Cafieiro, o "FM". Eles já se encontram detidos.

Feijão, que era presidente da Associação de Moradores e Amigos do Bairro Barcelos (Amab), foi uma das vítimas da disputa entre duas quadrilhas rivais --formadas por ex-comparsas de Antônio Bonfim Lopes, o Nem, ex-chefe do narcotráfico na comunidade--, que tentam retomar o controle das bocas de fumo.

Em novembro do ano passado, a Rocinha foi ocupada pela polícia para instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).

"Trata-se de prática, em tese, do injusto tipificado no art. 121, caput, do Código Penal, crime extremamente grave, através do qual os indiciados teriam, em princípio, segundo consta, consciente e livremente, em comunhão de desígnios e ações entre si, matado a vítima Vanderlan Barros de Oliveira", diz um trecho da decisão.

"Vê-se daí, já neste aspecto pontual, que a necessidade da tutela cautelar se faz sentir não só com o intuito de impedir a reiteração de atos criminosos dessa estirpe, mas, sobretudo, para acautelar o meio social da ação delituosa em questão, garantindo, igualmente, a credibilidade da Justiça, pelo afastamento da sensação concreta de inação e impunidade", completa a magistrada.

De acordo com a 1ª Vara Criminal da Capital, a materialidade do crime foi provada "por meio de laudo de necrópsia". Além disso, a juíza argumenta que "os depoimentos colhidos em sede policial" não deixam qualquer tipo de dúvida a respeito da culpabilidade dos acusados.

O crime

Feijão foi morto com cinco tiros por volta das 15h45 do dia 26 de março deste ano. Ele havia saído da associação e manobrava uma moto na travessa Palmas, a poucos metros da via Ápia, uma das principais da comunidade, quando um dos criminosos passou de moto, disparou contra Oliveira e conseguiu fugir. Atingido pelas costas, o líder comunitário morreu na hora.

Segundo membros da associação, minutos antes do crime, o autor dos disparos esteve na entidade à procura de Feijão, mas foi informado de que ele estava em reunião. O homem saiu do prédio, mas aguardou Feijão na rua, a cerca de 50 metros dali, onde ocorreu o crime.

Acusado de ser comparsa do traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem, preso em novembro, Feijão seria julgado em maio por associação para o tráfico. Investigação da Polícia Civil indicou que Feijão era dono de duas empresas (um lava a jato e uma distribuidora de gelo) usadas para tornar lícito o dinheiro do tráfico.

Nesse processo, além dele, também são acusados o próprio Nem, a sogra dele, Maria das Graças Rangel, e o irmão de Feijão, Telmo de Oliveira Barros, sócio nas duas empresas. O grupo é acusado de movimentar cerca de R$ 1,2 milhão supostamente oriundos do tráfico por meio de 29 contas bancárias.

Em novembro passado, quando a Rocinha foi ocupada pela polícia, Feijão chegou a ser detido devido a uma ordem de prisão emitida durante as investigações sobre lavagem de dinheiro, mas o líder comunitário logo foi solto porque se constatou que o mandado de prisão havia sido revogado.

Em agosto de 2010, quando dez traficantes em fuga da Rocinha invadiram o Hotel Intercontinental e renderam 35 pessoas, Feijão participou das negociações que resultaram na libertação dos reféns e na prisão dos criminosos. A polícia ocupa a Rocinha desde novembro do ano passado, mas por enquanto não há data prevista para instalar Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).