Cemitério do Bonfim receberá visitas guiadas a túmulos e mausoléus em Belo Horizonte
O cemitério Nosso Senhor do Bonfim, o primeiro de Belo Horizonte e mais conhecido apenas por "do Bonfim", pode virar a nova atração turística da cidade. Hoje e no próximo domingo (1°), o espaço vai receber visitas guiadas, uma experiência que ainda está em teste e deve se tornar um projeto permanente.
O nascimento do cemitério se confunde com o de Belo Horizonte. Inaugurado em 8 de fevereiro de 1897, mesmo ano da fundação da capital mineira, hoje ele acumula nos seus 160 mil metros quadrados e 17.360 sepulturas um grande acervo de esculturas decorativas de túmulos e mausoléus com obras de arte em estilos que vão da belle epoque ao art deco e ao modernismo brasileiro.
Segundo a professora de história na Faculdade Estácio de Sá e de design da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), Marcelina das Graças de Almeida, a visita guiada vai durar cerca de 2h30. Os turistas vão conhecer já na entrada principal, na esquina das ruas Bonfim com Sete Lagoas, a história do cemitério.
Depois vão passear pelas alamedas principais para descobrir detalhes da arquitetura tumular e entender como se constrói o ambiente. Haverá visitação ao primeiro túmulo, ao prédio do necrotério e às sepulturas dos ex-governadores mineiros Silviano Brandão, Benedito Valadares, Raul Soares e Olegário Maciel.
Os visitantes vão conhecer obras de escultores, entre eles o brasileiro Bruno Giorgi, o austríaco João Amadeu Mucchiut e o italiano João Scuotto. “O Bonfim não vai deixar de ser cemitério, ele cumpre a função primordial que é enterrar gente, mas queremos mostrar que há uma história interessante para aprender”, afirmou a professora.
Até a famosa lenda da Loira do Bonfim vai ser recontada na visita guiada. A história da mulher que conquistava homens no centro da capital e os atraia para sua casa, o cemitério, faz parte do imaginário popular de Belo Horizonte.
Marcelina disse ter se inspirado nos modelos de visitação do Cemitério Recoleta, em Buenos Aires, local que atrai turistas do mundo todo para ver o túmulo de Eva Perón, e no Père Lachaise, em Paris, símbolo de arquitetura da capital francesa.
Para a turismóloga da Fundação de Parques Municipais Gisele Mafra, o Bonfim é mais do que um local de mortos. “O acervo cultural, as lendas e as histórias fazem dele mais que cemitério. Além disso, não é um museu estático, é um local que vive dinâmico”. Para Mafra, o fato de o espaço ainda funcionar para velórios e enterros dá um aspecto de atualidade àquela história.
Outras iniciativas
De acordo com Gisele, um projeto em parceria com a Fundação Municipal de Cultura propõe a implantação de sinalizações nos corredores do Bonfim com informações para turistas. São painéis que vão contar parte da história do cemitério e informar os visitantes. O projeto está em fase de aprovação pelo Ministério da Cultura.
Na Câmara Municipal de Belo Horizonte tramita o Projeto de Lei 1146/2011, de autoria do vereador Adriano Ventura (PT), que propõe a transformação da necrópole em ponto turístico. Segundo a matéria, o Executivo deverá preparar crianças – no Programa Guia Mirim – para receber visitantes no espaço e guiá-los pelas alamedas.
Esses guias infantis seriam crianças carentes que participam de projetos de inclusão social da prefeitura. O projeto de lei ainda precisa ser aprovado em segundo turno pelos vereadores e passar pela sanção do prefeito.
O acervo documental do cemitério também está recebendo uma atenção especial. O programa Adote um Bem Cultural, pelo qual empresas apadrinham algum patrimônio da capital, vai restaurar 21 manuscritos do Bonfim. Serão renovados os livros de Registro de Sepultamento, Protocolos de Processos.
O trabalho ficará a cargo do Instituto Cultural Flávio Gutierrez, contratado pelas empresas adotantes Pentasul Ltda e Sentinela Ação Social. O Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte (APCBH), que atualmente detém a guarda dos documentos, será responsável pelo acompanhamento da restauração.
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