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Arara-canindé vive livre e protegida por moradores em cidade do interior de São Paulo

Gustavo Delacorte

Do UOL, em Santos (SP)

04/07/2012 06h00

Uma moradora conquistou a população de Cosmópolis (142 km de São Paulo). Trata-se de uma arara-canindé (Ara ararauna) chamada Alice, que desde 2009 vive solta pela cidade. Não se sabe ao certo de onde Alice veio nem como foi parar nos arredores da escola municipal Rodrigo Octavio de Langaard Menezes, onde passa a maior parte do tempo. A versão mais comum entre os moradores é de que ela era criada ilegalmente e que o suposto criador a soltou com medo de receber alguma punição.

“Naquela semana, por coincidência ou não, soubemos que outras duas araras, além da Alice, haviam sido vistas pela cidade. Conseguimos capturar essas duas e as encaminhamos para locais adequados a elas. Já a Alice, só conseguimos capturar depois, mas o pessoal da Secretaria de Meio Ambiente pediu para soltarmos, inclusive porque a polícia ambiental disse para não mexermos nela, porque ela gosta de viver aqui”, disse Edimar Lopes de Almeida, supervisor do núcleo de zoonoses da cidade.

Desde que Alice apareceu, algumas pessoas acabaram se tornando suas principais “cuidadoras”, como Roseli Gonçalves, inspetora da escola. “Ela apareceu aqui no dia 14 de fevereiro de 2009. Eu guardei a data porque foi muito especial para nós, funcionários, e para as crianças. Eu batizei ela de Alice por causa da história ‘Alice no país das maravilhas’”, disse Roseli.

A diretora da escola, Maria Amélia Carone Dias, conta como a arara é arteira e faz o que quer. “É uma maravilha, ela vive por aí, interage com as crianças tanto dentro quanto fora da escola. Ela adora chupar laranja e também come bastante banana, cenoura e sementes. Às vezes, ela fica pelo corredor, entra nas salas de aula e até na secretaria, onde fica curiosa com a tela do computador e tira o telefone do gancho. Ela também costuma abrir aqueles globos dos postes de luz.”

Além de voar pelas praças da cidade, Alice costuma visitar as casas e lojas nos arredores, como conta Silva Mortari, que tinha um comércio próximo da escola. “Ela vinha quase todos os dias de manhã e começava a gritar, chamando a gente pra dar banana pra ela. Quando saíamos de carro, ela vinha em cima, e, se não ganhasse comida, ela ficava brava e mordia a borracha da porta do carro. É interessante que nós saímos de lá, mas há pouco tempo atrás ela reconheceu o nosso carro na rua, desceu e veio perto.”

Sexo desconhecido

Alice, que já foi vista voando a mais de um quilômetro da escola, acabou ganhando a proteção dos próprios moradores da cidade. “Certa vez, um homem parou o carro e tentou levar a Alice, só que ela fez um escândalo, gritou muito. Isso chamou a atenção de muitas pessoas que estavam por perto e elas não deixaram que ele a levasse. Numa outra, ela levou a pior quando deu um voo rasante e se chocou com um cachorro. Ela me deixou pegar ela, então eu a levei num veterinário, que cuidou dela”, diz Roseli.

Embora a arara seja chamada de Alice, não se sabe ao certo qual é o seu sexo nem sua idade. “Capturamos ela duas vezes, porque ela já arrumou briga com outros pássaros. A gente medica e depois solta. Não temos como saber o sexo, porque não temos condições de fazer o exame de sexagem. Também não sabemos a idade, mas pelo comportamento dócil dela, acreditamos que ela tenha vivido alguns anos em cativeiro”, disse o supervisor de zoonoses.

A arara-canindé costuma habitar as regiões da América Central ao Brasil até o Estado de São Paulo, e consta no Anexo 2 da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (Cites). A espécie, que está na lista de animais em extinção no Estado de São Paulo, se reproduz entre os meses de setembro e outubro e pode viver, em média, 80 anos no meio ambiente. Por ser um animal silvestre, a sua retirada da mata para venda e criação em cativeiro é considerada crime ambiental contra a fauna, com pena prevista de seis meses a um ano de detenção e multa.

Antonio Conservan, assessor da Secretaria de Meio Ambiente de Cosmópolis, explica que, quando a arara chegou, ele procurou a Policia Ambiental para saber o que deveria fazer. “Eles nos orientaram a deixá-la aqui mesmo, porque ela escolheu viver aqui. Temos muitas árvores frutíferas na cidade, o que acaba atraindo a visita de tucanos, maritacas e outros pássaros. Somos abençoados de termos uma ave tão linda como a Alice por perto e por ela ter escolhido viver aqui”, diz.