Família que adotou 5 filhos de uma vez consome 25 pães por dia e tem racionamento de leite
Onde come um, comem dois. E onde comiam três, podem comer oito? Essa conta não preocupou o mecânico Eliel Verçosa Lins e a artesã Adriana dos Santos Silva quando o casal decidiu adotar cinco irmãos desamparados. O UOL publicou em junho a história da família, que era composta pelo casal e pelo filho biológico de 18 anos e que mora na periferia de Sorocaba (98 km de São Paulo).
Os irmãos Diego, 15, Eduardo, 13, Talita, 9, Leonardo, 7, e Thainara, 2, eram vizinhos da família e moravam com a mãe biológica até ela ser presa no ano passado por envolvimento com tráfico de drogas.
A reportagem acompanhou um dia na vida da nova família. Para Adriana, que trabalha em casa, o horário das refeições é o que exige mais dedicação, e o trabalho já começa no café da manhã. Ao longo de um dia são consumidos 25 pães, e o leite, que custa mais caro, precisa ser racionado –só a pequena Thainara tem liberdade para tomar o quanto quiser. “A gente não tem condição de comprar leite suficiente para todos, por isso, eles tomam café com leite”, afirma a artesã.
Logo após o café da manhã, Adriana começa a preparar o almoço: a família come um quilo de feijão e outro de arroz por dia. Por semana, são consumidas duas latas de óleo. No dia da visita do UOL, um quilo e meio de carne moída deu conta das almôndegas que acompanhavam o prato. “Todos comem muito bem, graças a Deus”, diz Eliel.
A casa tinha apenas três cômodos antes da adoção. “Quando eles chegaram, eu precisei colocar os colchões na cozinha. Era uma complicação para caminhar aqui dentro”, lembra Adriana. Por isso, o casal resolveu construir um novo quarto, que ainda está com as paredes sem acabamento e o chão, sem piso. Mas agora cada um dos novos filhos tem uma cama para dormir e há diversos cobertores –tudo resultado de doação.
Também por meio da ajuda de conhecidos, a família recebe três cestas básicas por mês e doação de roupas e calçados.
As crianças estão em férias, mas todos costumam ir juntos à escola do bairro, além de frequentar a pastoral do menor, que fica a poucos metros da casa. “Eu só quero que todos criem bons valores e sejam trabalhadores”, afirma Adriana.
A adoação
A mãe biológica das crianças sempre foi vizinha da família. “Eu vi todos esses meninos crescerem, mas a mãe deles se envolveu com um traficante”, relembra Adriana. “Meu coração ficou partido quando eu os vi caminhando sem rumo no bairro [depois que a mãe foi presa]. Foi quando tive a ideia de cuidar deles."
A artesã conta que não queria ficar com os jovens de maneira ilegal –foi quando deu entrada no processo de adoção, que durou quase um ano. Sem parentes próximos, as crianças poderiam ser encaminhados a um abrigo. O Conselho Tutelar e a Pastoral do Menor entraram no caso e, do presídio, a mãe biológica abriu mão da maternidade de forma legal, o que possibilitou a efetivação da adoção.
As crianças parecem à vontade no novo lar: os meninos brincam de bola e as meninas sempre estão perto da nova mãe. “Eu ia fugir se a gente não tivesse com quem ficar. Não queria ir para um abrigo”, diz Diego.
“Na minha escola, as minhas amigas dizem que eu fiquei rica depois que vim morar com a Adriana”, afirma Talita. “Elas falam isso porque agora eu estou sempre limpa e com o cabelo arrumado, o que não acontecia antes.”
Adriana sabe que os filhos podem querer voltar a viver com a mãe biológica quando ela sair da prisão. “Quero que ela [mãe biológica] volte a viver aqui do nosso lado e as crianças possam estar perto dela. Sei que ela é a mãe deles. Eu só não consigo mais viver longe dessas crianças”, finaliza.
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