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Presença da PM na Cracolândia não reduziu acesso à droga, diz pesquisa da Unifesp

Camila Maciel e Elaine Patricia Cruz

Da Agência Brasil, em São Paulo

01/08/2012 20h51

Seis meses após o início da ação policial na Cracolândia, na região central da cidade, o consumo e o acesso às drogas continuam altos na região, revela pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Apenas um em cada três usuários que frequentam o local disseram ter recebido alguma oferta de tratamento contra o vício depois da operação, realizada em janeiro deste ano.

A pesquisa ouviu 151 usuários de crack que circulam na área. Entre eles, 70% disseram que frequentavam a antiga Cracolândia, na rua Helvétia, e 58% que estavam no local quando houve a operação policial. Entre os que estavam no local na hora da ação, 22% relataram ter sofrido algum tipo de violência, como agressões verbais (a maioria), uso de spray de pimenta, espancamento e agressão física leve.

Segundo a metade dos entrevistados, o acesso às drogas na região não mudou após a intervenção policial. Para pouco mais da metade (55%), o consumo de drogas no local também não se alterou e, para 25%, o uso de crack aumentou.

O levantamento foi conduzido pelos pesquisadores Lígia Duailibi e Marcelo Araújo e pelo psiquiatra Ronaldo Laranjeira, um dos fundadores da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad), ligada à Unifesp. De acordo com Laranjeira, foi feita uma pesquisa em dezembro do ano passado e outra seis meses depois. O resultado mostra que pouca coisa mudou.

Para Laranjeira, se a situação do tráfico na Cracolândia não se alterar, será difícil mudar significativamente o consumo de drogas na região. "A política lá deveria ser mais sustentada, uma política de tirar as pessoas da área, de modo a influenciar o tráfico”, disse ele.

O psiquiatra considera um grande desafio atuar na região, o que exige integração de todos os atores com o sistema policial. “Falta integração da polícia, do sistema de saúde e da assistência social [para agir] de forma mais coesa e com credibilidade. A maioria da população apoiou a intervenção na Cracolândia, principalmente quem mora ali e não quer conviver com pessoas consumindo crack na rua e com o aumento da violência que o próprio crack gera."

Na opinião de Laranjeira, tirar a polícia desse trabalho, ou "engessá-la", e achar que se resolverá o problema só com a saúde é ingenuidade. "Tem que ter integração. Ninguém defende a criminalização das políticas sociais, mas achar que só com a assistência [social] atuando vai resolver, é ingenuidade. É não entender a doença”, afirmou.

Ontem (31), a Justiça de São Paulo acatou integralmente, em caráter liminar, pedido do Ministério Público para que a Polícia Militar seja proibida de empregar ações “vexatórias, degradantes ou desrespeitosas” contra os usuários de drogas na Cracolândia. Para Laranjeira, a liminar obtida pelo Ministério Público não vai solucionar o problema. "Engessar uma perna da polícia e crer que só o tratamento resolve, eu também não acredito."

Também ontem (31), em entrevista coletiva, a secretária de Justiça e da Defesa da Cidadania, Eloisa de Sousa Arruda, elogiou a ação policial na Cracolândia e disse que operações semelhantes serão realizadas em outras regiões da cidade. Presente à coletiva, o comandante da PM, coronel Roberval Ferreira França, informou que a corporação continuará a agir da mesma forma na região.

Segundo ele, a operação na Cracolândia resultou em 851 internações para tratamento de usuários de drogas, 7.567 encaminhamentos para serviços de saúde, 94.656 abordagens sociais, 542 prisões em flagrante por tráfico de entorpecentes, 135 prisões de pessoas que estavam foragidas e apreensão de 66 quilos de drogas.