Femen Brazil recebe 100 e-mails por semana de interessadas em aderir ao ativismo topless
A repercussão da prisão da ativista Sara Winter, 20, em junho, na Ucrânia, não poderia ter efeito de marketing melhor para a criação do braço brasileiro do Femen, grupo feminista que protesta fazendo topless. Após retornar do rápido intercâmbio com as fundadoras do movimento e dar inúmeras entrevistas, Sara hoje se desdobra para tentar dar conta da procura pelo ativismo. São cerca de 100 e-mails por semana de mulheres candidatas a lutar contra o machismo e a exploração sexual exibindo os seios.
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A primeira delas foi a estudante de Direito Bruna Themis, 21 --como Sara, ela adota um sobrenome fictício para não expor a família. “Eu vi na internet e aquilo me chamou atenção. Depois ouvi uma entrevista da Sara no rádio e mandei um e-mail me candidatando”, conta Bruna, que estreou ao lado de Sara no dia 29 de julho em um protesto a favor da legalização do parto em casa em frente ao Masp (Museu de Arte de São Paulo).
Desde então, Bruna e Sara dividem a organização do Femen Brazil recrutando novas ativistas pelo país. Segundo elas, já são 15 candidatas aprovadas em São Paulo, Minas Gerais e Brasília. “Queremos ter mais de 200 mulheres para fazer protesto toda semana no país inteiro. Não há critério de beleza nem limite de idade”, disse Bruna.
Hoje, o Femen já tem cerca de 500 ativistas no mundo e é considerado o principal movimento do neofeminismo.
Processo de seleção
Para virar uma ativista do Femen, contudo, a candidata deve cumprir um ritual pouco convencional que envolve três etapas: 1) ser entrevistada pessoalmente pelo grupo; 2) postar uma foto com os seios à mostra em rede social na internet; 3) realizar um protesto na rua sozinha (monoprotest) de topless.
Passo-a-passo para a candidata entrar no Femen
1
Passar por entrevista cara a cara com o grupo no Brasil
2
Postar foto topless em rede social na internet
3
Protestar sozinha, sem blusa, na rua (monoprotest)
“A gente precisa ter certeza de que elas estão dispostas a lutar. Até agora uma mulher desistiu na segunda etapa por causa do marido e da filha”, contou Bruna.
No último sábado (11), foi a vez da estudante de gastronomia Larissa Bärin, 22, se juntar ao grupo após cumprir a última etapa numa rua da Bela Vista, região central da capital paulista.
Como apenas Sara e Bruna aplicam a prova, há uma espécie de fila de espera de candidatas. Nesta terça-feira (14), o teste final deve ser aplicado a mais uma candidata, Luma Oliveira, 20, que já poderá fazer sua estreia nas ruas no dia seguinte.
Na quarta-feira (15), as mulheres do Femen devem protestar por volta das 14h em frente ao Consulado da Rússia, próximo ao Joquey Club, na zona oeste de São Paulo, contra o julgamento da Pussy Riot, uma banda punk ativista de Moscou que improvisou uma apresentação dentro da principal catedral da Igreja Ortodoxa Russa. As três mulheres da banda podem pegar até três anos de prisão. A sentença está prevista para sexta-feira (17).
Ativista profissional
A procura de novas ativistas e os pedidos de entrevista têm sido tantos que Bruna já planeja deixar em breve o estágio no escritório de advocacia para se dedicar exclusivamente ao Femen. Hoje, ela dá suporte a Sara Winter, primeira integrante do grupo no Brasil e ativista por profissão, para estruturar o movimento e criar fontes de receita para manter o grupo.
Na semana passada, elas inauguraram uma loja online para vender camisetas com o logo do Femen e pedir doações em dinheiro. “Hoje não temos dinheiro nem para viajar para outra cidade de São Paulo. Precisamos começar a fazer nossos protestos e conseguir patrocínio para a nossa luta”, disse Sara, que financia com recursos próprios os deslocamentos entre São Carlos, cidade do interior paulista onde mora com os pais, e São Paulo, onde fica hospedada na casa da amiga Bruna.
Sara conheceu o Femen também por meio do noticiário na internet, em outubro do ano passado. Após trocar vários e-mails com as ativistas ucranianas, recebeu US$ 1.000 de ajuda do grupo, criado há quatro anos, para viajar para a Ucrânia em junho passado, durante a Eurocopa, principal torneio de seleções de futebol da Europa, e aprender como organizar os protestos. Foi detida duas vezes pela polícia local e voltou ao Brasil com mais vontade de protestar.
“Eu vi que os problemas na Ucrânia, com relação à exploração sexual, ao turismo sexual, são os mesmos que aqui. E o fato de ser topless, além de atrair a atenção da mídia, é uma forma de dizer aos homens que nós controlamos a nossa nudez”, explicou Sara, antes de repetir a estatística que virou uma espécie de mantra do grupo: “A cada cinco minutos, uma mulher é agredida no Brasil”.
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