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Para evitar remoção, comunidade vizinha a futuro Parque Olímpico apresenta proposta à Prefeitura do Rio

Fabíola Ortiz

Do UOL, no Rio de Janeiro

16/08/2012 18h27

Temerosos de serem removidos de suas casas para dar lugar à construção do Parque Olímpico, na Barra da Tijuca, moradores da Vila Autódromo apresentaram ao prefeito Eduardo Paes, nesta quinta-feira (16), um plano urbanístico como alternativa à remoção forçada.
Com o apoio de pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e da UFF (Universidade Federal Fluminense), lideranças comunitárias querem mostrar que é viável que a comunidade permaneça na área sem atrapalhar as obras das Olimpíadas 2016. Procurada pela reportagem do UOL, a Prefeitura do Rio ainda não se manifestou sobre a reunião.

“Em nenhuma das reuniões, o prefeito mostrou que estava disposto a conversar sobre a possibilidade de a comunidade ficar. A gente vai provar para ele que há sim possibilidade. A comunidade não vai atrapalhar as Olimpíadas”, disse o presidente da Associação de Moradores da Vila Autódromo, Altair Guimarães.

“O que a gente precisa é de serviço público, a gente não tem nenhuma creche e a escola é distante. Não temos esgoto e não temos água instalada. Há 40 anos, nenhum dos governantes teve interesse. A gente tem direito à cidade”, defendeu Altair, 58, que há 17 anos vive na comunidade.

Ele conta que  já passou por duas remoções na cidade, a primeira ao ser expulso do Leblon, na zona sul, na década de 60, depois da Cidade de Deus, pois sua casa ficava no traçado da Linha Amarela quando esta foi construída nos anos 90. Altair teme agora ter de enfrentar uma terceira remoção.

Atualmente, 450 famílias vivem na Vila Autódromo, comunidade vizinha ao terreno onde será construído o Parque Olímpico. O ‘Plano Popular da Vila Autódromo’ é o primeiro projeto deste tipo que é apresentado para contestar a remoção de uma comunidade.

O estudo, segundo as lideranças comunitárias e pesquisadores, defende que a urbanização da área é uma opção mais vantajosa para os cofres públicos que o despejo dos moradores. A implementação do plano está orçada em R$ 13,5 milhões, segundo estimativas dos pesquisadores. Este valor corresponde a apenas 35% dos R$ 38 milhões previstos pela prefeitura para o reassentamento total da comunidade.

“Não há nenhum motivo para tirar a Vila Autódromo dali para fazer as Olimpíadas. Eles não oferecem risco a ninguém, é uma comunidade pacífica, não tem milícia nem tráfico de drogas”, disse ao UOL o urbanista Fabrício Leal de Oliveira, um dos pesquisadores que ajudou a formular o plano.

O plano prevê o esgotamento sanitário de toda a área, a dragagem do canal próximo, a recuperação da faixa nas margens da lagoa de Jacarepaguá, a criação de novas áreas comunitárias de esporte e lazer, a inclusão da comunidade no programa Saúde da Família, além da construção de uma creche, uma escola municipal e implementação da coleta seletiva regular na área.

“É muito mais barato deixá-los onde estão. Lá hoje há problemas como a falta de saneamento. Quase tudo o que existe foi feito pelos próprios moradores. Eles mereciam ter o mesmo tratamento que as demais comunidades pobres têm na cidade”, argumentou o urbanista.

Segundo o pesquisador, o plano pretende preservar uma faixa de 15 metros em torno da lagoa, além de prever ações de reflorestamento. “Daria para fazer um grande projeto de urbanização ali e ainda seria até um ‘plus’ nas Olimpíadas ter do lado dos jogos uma comunidade bem tratada e projetada. Mas eles consideram que a Vila Autódromo desvaloriza o empreendimento imobiliário que será implantado”.

Em documento divulgado em abril deste ano, o Comitê Popular da Copa e Olimpíadas (grupo que reúne movimentos sociais, ONGs, instituições acadêmicas e lideranças populares) apontou que cerca de 22 mil pessoas estão ameaçadas de remoção em 24 comunidades no Rio de Janeiro. Desse total, oito mil já foram removidas.

Os motivos mais frequentes para retirar moradores de uma determinada área são projetos de mobilidade urbana e revitalização da zona portuária, ou ainda por serem consideradas áreas de risco.