"Agora senti na pele", diz morador de Xerém (RJ) que ajudou vítimas em Teresópolis e morro do Bumba
Após participar dos trabalhos de socorro e de retirada de entulho em duas tragédias climáticas (Teresópolis, em 1986, e morro do Bumba, em 2010), o operador de máquinas pesadas Adão Benedito da Cruz, 55, "sentiu na pele" a força destruidora das tradicionais enchentes de verão no Rio de Janeiro.
Morador de Xerém, distrito de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense --onde uma forte chuva iniciada na madrugada de quinta-feira (3) deixou mais de 4.800 pessoas fora de casa--, o operador de máquinas pesadas afirmou ao UOL que, mesmo na condição de vítima, não hesitou em enfrentar a força da água para, após salvar sua família, ajudar os vizinhos.
Utilizando uma escada e uma corda, Cruz diz ter resgatado uma vizinha que por pouco não foi levada pela correnteza. "Eu também pude ajudar aqui, de forma manual, auxiliando as pessoas. Teve uma vizinha que quase nós dois fomos para o buraco", afirmou ele. "Deu tremedeira. Vou ser sincero, foi muito triste aqui", completou.
Para o operário, que considera a tragédia de Teresópolis, na década de 80, a pior entre as em que ele esteve presente, as consequências da chuva em Xerém são mais marcantes, por um simples motivo: "Essa aqui foi pior porque eu senti na pele. Nas outras, eu estava lá só para ajudar. É muito triste. Você sente na pele, e pensa que nunca vai acontecer contigo, mas aconteceu. Perdi tudo", declarou.
Cruz faz questão de manter o espírito solidário e diz ter se disponibilizado, inclusive, para conduzir uma pá mecânica ao local de sua residência durante o trabalho de limpeza na região, nesta quinta-feira. "O operador ficou meio cabreiro de vir aqui. Não tem problema, eu mesmo levei a máquina", explicou.
Na direção contrária aos esforços para minimizar o impacto da tragédia, há quem esteja aproveitando o cenário de total destruição para furtar bens, segundo Cruz. "Estou aqui [na rua de sua casa] praticamente de plantão. Só saí para almoçar. Quero evitar que alguém faça uma covardia", disse ele.
"Teve um garoto que chegou ali e abriu a porta de um carro [arrastado para perto de sua residência]. Qual é a intenção dele? Eu vi o outro ali falar que já ia meter a mão no ar-condicionado de um vizinho. A gente conseguiu evitar que isso acontecesse, e o dono veio buscar o ar-condicionado. Infelizmente, tem gente que aproveita a tragédia para se beneficiar", completou.
Em 1986, uma forte chuva atingiu a cidade de Teresópolis, na região serrana do Rio, deixando desalojados e desabrigados em diversos pontos da cidade, tais como o bairro do Caleme.
Já em abril de 2010, 47 pessoas morreram em um deslizamento no Morro do Bumba, em Niterói, na região metropolitana do Estado. A tragédia também foi provocada por um período de fortes chuvas, que, em toda a cidade de Niterói, vitimou 168 pessoas em apenas um mês.
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