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"Minha filha está internada, e eu não posso fazer nada", diz médica envolvida em adoção polêmica na Bahia

Fabiana Marchezi

Do UOL, em Campinas

24/01/2013 17h19

“Minha filha está internada e eu não posso fazer nada. Estou desesperada. Alguém precisa fazer alguma coisa. Sei que é verdade, ela está doente, precisam tomar uma atitude antes que o pior aconteça”, diz a médica Letícia Fernandes, uma das mulheres que adotaram provisoriamente as cinco crianças que, segundo a Justiça da Bahia, foram retiradas à força dos pais naturais em junho do ano passado .

Letícia é mãe adotiva de S., 2 anos, a mais nova dos cinco irmãos de Monte Santo (352 km de Salvador), entregues a quatro famílias de Campinas (93 km de São Paulo) e Indaiatuba (98 km de São Paulo). Nesta quinta-feira (24) completam-se 50 dias que os irmãos foram retirados das famílias da região de Campinas e devolvidas aos pais biológicos.

A história da internação chegou a Letícia por meio de denúncias anônimas feitas via celular. “Alguém lá da Bahia que está com dó de mim, da minha situação, tem me mantido informada. Mesmo sem querer, acabo sabendo de tudo o que acontece com minha filha. Ela está correndo risco de morte”, explicou a médica, que também postou uma mensagem de desespero na noite de quarta-feira (23) em uma rede social.

No Hospital Municipal Monsenhor Berenguer, em Monte Santo, uma funcionária que não quis se identificar confirmou a internação da menina, mas não falou o motivo e nem quantos dias ela ficou internada. Entretanto, ela informou que a criança já recebeu alta e voltou para casa.

Falta de informações

A funcionária também contou que o promotor do caso, Luciano Taques, esteve na quarta-feira (23) no hospital para saber os motivos da internação e conversar com os médicos que atenderam à criança. Na promotoria, informaram que o doutor Taques não irá mais trabalhar nesta semana e só retorna na próxima segunda-feira (28).

"Precisam pensar nas crianças e tomar uma atitude. Ela está internada e precisam investigar o motivo da internação", disse Rosali Aggio Tozzo, amiga de Letícia. Para Rosali, o fato de a menina de dois anos não conhecer a mãe biológica está interferindo na saúde da criança, e a Justiça precisaria ao menos permitir que a mãe adotiva visite a menina para ver se ela melhora.

“Não importa mais com quem as crianças vão ficar. Se for decidido que elas têm mesmo que ficar com a mãe biológica, ao menos podiam amenizar o sofrimento da menina. Minha indignação maior é pela falta de informações concretas”, disse Rosali.

Enquanto isso, liderados pela médica, os pais adotivos reuniram em uma petição pública mais de 6.000 assinaturas para tentar levar o caso a Brasília para que seja julgado por uma instância superior.

O abaixo-assinado deverá ser apresentado ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que acompanha o processo desde o início das investigações.

Onde fica

  • Arte UOL

    Monte Santo está a 352 km de Salvador

O caso

Os cinco irmãos foram entregues em regime de guarda provisória aos pais adotivos em junho de 2011, por determinação do então juiz de Monte Santo, Vitor Bizerra, que afirmou que os menores eram negligenciados pelos pais e estavam em situação de risco.

Entretanto a defesa da família biológica e o atual juiz de Monte Santo, Luís Cappio, negam que os pais biológicos seriam negligentes. Os menores foram retirados dos pais à revelia e foram identificadas irregularidades no processo feito na ocasião.

Em outubro do ano passado, quando o caso veio à tona, as famílias de São Paulo foram acusadas de tráfico de crianças. Porém, o próprio Cappio, afirmou que não há provas que indiquem o crime. Todos os envolvidos chegaram a ser ouvidos na CPI da Câmara e do Senado que investiga o tráfico de pessoas.

No final de novembro, Cappio determinou o retorno das crianças à Bahia após um período de 15 dias na ONG Aldeias Infantis para um processo de reaproximação com a mãe biológica. As crianças foram entregues à Justiça no dia 4 de dezembro.

A reportagem procurou Cappio para averiguar novidades no caso, mas ele não foi encontrado em nenhum dos dois fóruns onde trabalha.