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Por receio de dano em 2º protesto, Funai fecha Museu do Índio no Rio

O Museu do Índio, em Botafogo, foi vigiado pela Polícia Militar no domingo (24), depois que índios voltaram a entrar no local - ERBS JR./Frame
O Museu do Índio, em Botafogo, foi vigiado pela Polícia Militar no domingo (24), depois que índios voltaram a entrar no local Imagem: ERBS JR./Frame

Julia Affonso

Do UOL, no Rio

26/03/2013 17h56Atualizada em 26/03/2013 18h34

O Museu do Índio, em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro ficará fechado entre esta terça-feira (26) e a próxima, em 2 de abril, informou a Funai (Fundação Nacional dos Índios). Segundo o ouvidor da instituição, Paulo Celso Oliveira, o museu foi fechado porque a direção teve medo de que um novo protesto indígena marcado para esta tarde colocasse o patrimônio em risco.

Os indígenas que moravam na Aldeia Maracanã e foram removidos de lá se separaram em dois grupos quando saíram do local na última sexta-feira (22): os que aceitaram um acordo com o estado e se mudaram para um terreno em Jacarepaguá e aqueles que não concordaram com a remoção e tem reivindicado a reintegração de posse do antigo terreno. Estes últimos seguem fazendo manifestações pela cidade.

No fim de semana, cerca de 20 indígenas e 60 manifestantes entraram no museu na noite de sábado (23) e permaneceram por lá até a manhã de domingo (24). O ouvidor não soube dizer quais foram os danos causados no local, mas informou que um levantamento está sendo feito para que se saiba se houve problemas. Os índios negam que tenham depredado o patrimônio.

"Nós soubemos que alguns índios haviam marcado um novo protesto e resolvemos fechar, porque temos medo de que eles coloquem o patrimônio em risco. São muitas pessoas que vêm aqui, não sabemos quem são e o que podem fazer com os objetos que representam a memória indígena", explicou Oliveira, que é descendente da etnia Pancararu. "Estamos vivendo uma situação de anormalidade e acredito que em uma semana consigamos resolver essa questão em paz", disse o ouvidor.

No interior do museu, atualmente há 14 mil objetos, 500 mil documentos textuais, 16 mil publicações nacionais e estrangeiras especializadas em etnologia indígena e áreas afins, 50 mil imagens, entre fotos, filmes e vídeos, e 200 registros indígenas. De acordo com o ouvidor, os bens têm valor cultural insubstituível. "O museu faz parte do patrimônio da humanidade da Unesco", afirmou Oliveira.

Segundo o índio Daniel, da etnia Puri, o protesto de hoje seria pacífico e visava apenas a contar a reivindicações dos índios aos visitantes do museu. "Nós zelamos pelo patrimônio, não vamos fazer nada. Queríamos apenas fazer algumas apresentações de dança e divulgar nossa causa. Já que fecharam, vamos ficar aqui na frente mesmo", disse Daniel, que é de São Paulo e estava havia alguns meses na Aldeia Maracanã "desenvolvendo trabalhos".

Apesar disso, cerca de dez índios e 20 simpatizantes da causa indígena ficaram na porta chamando de "traidores" e "covardes" alguns índios da etnia Funiô, que são servidores do museu e estavam no interior do local, e gritando para que eles tirassem o cocar.

Dois carros da Polícia Militar, com quatro policiais, fazem a segurança do local. Dois guardas de trânsito da prefeitura também estão em frente ao museu para dar apoio. A PM informou, no entanto, não ter recebido informações sobre depredação do patrimônio no final de semana.