Padre católico é indiciado pela PF por atuação em tentativa de golpe
O padre José Eduardo de Oliveira e Silva foi indiciado pela Polícia Federal sob suspeita dos crimes de abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
Padre teria discutido "minuta do golpe"
José de Oliveira e Silva foi alvo de busca e apreensão pela PF em fevereiro deste ano. Ele teria participado de uma reunião no dia 19 de novembro de 2022 no Palácio do Planalto, ocasião em que teria sido discutida uma minuta golpista para impedir a posse do presidente eleito Lula (PT).
Decisão de Alexandre de Moraes listou padre como integrante do núcleo jurídico do esquema golpista. O papel do grupo seria o "assessoramento e elaboração de minutas de decretos com fundamentação jurídica e doutrinária que atendessem aos interesses golpistas do grupo investigado".
Padre prestou depoimento à PF neste mês. Ele foi intimado no dia 6 deste mês no inquérito que apura a articulação de um plano de golpe pelo ex-presidente Jair Bolsonaro após a derrota na eleição presidencial de 2022.
Defesa de padre diz que divulgação de lista é "abuso" de investigadores. Leia a nota completa a seguir:
Menos de 7 dias depois de dar depoimento à Polícia Federal o meu cliente vê seu nome estampado pela Polícia Federal como um dos indiciados pelos investigadores. Os mesmos investigadores não se furtaram em romper a lei e tratado internacional ao vasculhar conversas e direções espirituais que possuem garantia de sigilo e foram realizadas pelo padre. Quem deu autorização à Polícia Federal de romper o sigilo das investigações? Até onde se sabe, o Ministro Alexandre de Moraes decretou sigilo absoluto. Não há qualquer decisão do magistrado até o momento rompendo tal determinação.
A nota da Polícia Federal com a lista de indiciados é mais um abuso realizado pelos responsáveis da investigação e, tendo publicado no site oficial do órgão policial, contamina toda instituição e a torna responsável pela quebra da determinação do Ministro.
Defesa do Padre José Eduardo de Oliveira e Silva
Quem é o padre indiciado pela PF?
Religioso soma mais de 420 mil seguidores nas redes sociais. No dia do resultado do primeiro turno das eleições presidenciais de 2022 Oliveira e Silva postou uma foto de um altar com a bandeira do Brasil em cima de uma santa. Na legenda, escreveu: "Uns confiam em carros, outros em cavalos. Nós, porém, confiamos no Senhor e, assim, resistiremos."
Em 2017, Oliveira e Silva conseguiu projeção nas redes sociais ao criticar a "ideologia de gênero", uma das bandeiras de Bolsonaro. Ele chegou a sugerir que a indústria farmacêutica deveria criar "um calmante em forma de supositório". Também escreveu que tinha saudades "dos tempos em que o banheiro servia só para necessidades fisiológicas e não para exibicionismos de autoafirmação sexual".
Nasceu em 5 de fevereiro de 1981, em Piracicaba, interior de São Paulo. Ainda criança, mudou-se para a cidade de Carapicuíba, município vizinho a Osasco, onde habita e trabalha atualmente.
Foi ordenado sacerdote da Diocese de Osasco em 2006, pela Igreja Católica. Atualmente, é pároco da Paróquia São Domingos.
Em seu currículo, consta que ele fez doutorado em teologia moral na Universidade da Santa Cruz, em Roma. O curso foi concluído em 2012. Na mesma instituição, o pároco também fez mestrado, com o tema "O papel global da virtude da religião: uma proposta a partir da doutrina de São Tomás".
O que aconteceu
O relatório da investigação de 884 páginas foi enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal). Na Corte, o documento vai para as mãos do ministro Alexandre de Moraes. Com o indiciamento, a PF apontou quais crimes os investigados teriam praticado a partir do conjunto de elementos reunidos ao longo da investigação.
Pela primeira vez, um ex-presidente eleito no período democrático é indiciado como responsável por tramar contra a democracia no país. A reportagem tenta contato com a defesa de Bolsonaro, Braga Netto e do presidente do PL, Valdemar Costa Neto.
Newsletter
PRA COMEÇAR O DIA
Comece o dia bem informado sobre os fatos mais importantes do momento. Edição diária de segunda a sexta.
Quero receberAs investigações apontaram que os indiciados se estruturaram por divisão de tarefas. Isso teria permitido a "individualização das condutas e a constatação da existência de grupos", segundo a PF.
Entre os grupos está o de desinformação e ataques ao sistema eleitoral e outro responsável por "incitar militares a aderirem golpe de Estado". Há também o núcleo jurídico, o operacional de apoio às ações golpistas, núcleo de inteligência paralela e núcleo operacional para cumprimento de medidas coercitivas.