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Sob chuva, cerca de cem protestam contra calçada de granito em bairro nobre de Curitiba

Skatista participa de protesto em Curitiba contra calçada de granito - Rafael Moro Martins/UOL
Skatista participa de protesto em Curitiba contra calçada de granito Imagem: Rafael Moro Martins/UOL

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

05/05/2013 19h35

A chuva fina que atingiu Curitiba ao longo de boa parte da tarde deste domingo (5) fez com que pouco mais de cem pessoas participassem da “Farofada no Granito”, um evento de protesto realizado nas novas calçadas da rua Bispo Dom José, uma das mais luxuosas do Batel, bairro de classe alta da capital paranaense. No Facebook, mais de 7.300 pessoas haviam confirmado presença no evento.

Espécie de contraponto curitibano ao “Churrasco da Gente Diferenciada”, realizado em maio de 2011 no bairro paulistano de Higienópolis em protesto contra a rejeição de moradores locais a uma estação de metrô, a “Farofada” teve como estopim a divulgação há algumas semanas de vídeo no Youtube em que guardas municipais repreendem adolescentes que aproveitaram as novas calçadas de granito e bancos de madeira maciça para andar de skate.

“Não estão vendo que isso aqui (o piso) é de ouro?”, disse um dos guardas aos jovens.

“O granito é revoltante”, disse a atriz e produtora cultural Kaley Michelle, 28, organizadora do evento. “É o símbolo do descaso dos eleitores com o espaço público, pois cabe a nós fiscalizar o poder público, e nunca fazemos isso”, argumentou.

A construção das calçadas de granito foi determinada pelo ex-prefeito Luciano Ducci (PSB), que mora no bairro. O sucessor dele, Gustavo Fruet (PDT), reviu a obra, alegando que o custo do metro quadrado do granito, de alegados R$ 149, era muito elevado. Assim, apenas o material já comprado foi instalado, e o restante da calçada foi concluído em concreto.

 “A cidade tem obras mais urgentes. Não há, por exemplo, um único banco na frente do Hospital de Clínicas (da Universidade Federal do Paraná, no Centro). Mas aqui, em apenas algumas quadras, contamos 36 bancos de madeira maciça”, afirmou Kaley.

Prioridades

Sem uma liderança evidente, o grupo protestou, com palavras de ordem que surgiam de tempos em tempos, contra a “ausência de política pública municipal para implantação de calçadas em regiões necessitadas” e a “exclusão de determinados grupos de cidadãos dos espaços públicos”, além de pedir a “ampliação de equipamentos de esportes urbanos em todos os bairros” e a “qualificação da Guarda Municipal.”

Por volta das 15h, os manifestantes bloquearam um quarteirão da Bispo Dom José, mas negociaram com a Setran (Secretaria Municipal de Trânsito) a liberação de uma pista, depois de cerca de 30 minutos. Não houve tumultos nem congestionamentos. A rua é usada, aos domingos, principalmente para acesso aos vários bares da região, cujo movimento é maior após as 18h, quando terminou a “Farofada”.

Apesar da pouca presença de público, Kaley não se disse decepcionada com sua “Farofada”. “Nada disso. Hoje aproveitamos para definir a segunda edição, daqui a algumas semanas, na Praça Ruy Barbosa (principal terminal de ônibus do Centro). É preciso abrir a caixa preta do transporte urbano de Curitiba”, afirmou.

Poucos skatistas

Estopim da manifestação deste domingo, poucos skatistas foram vistos na “Farofada” durante o período em que reportagem acompanhou o evento. A exceção era a turma de amigos adolescentes que vivem nas Mercês, bairro de classe média localizado próximo ao Batel.

“Gostamos de andar aqui [na calçada de granito] porque o piso é o melhor da cidade. Não tem outro liso igual a esse em lugar algum”, disse João, 14. A prefeitura informou à reportagem, na sexta-feira (3), que há 27 pistas públicas de skate à disposição dos praticantes do esporte, que por isso devem evitar as calçadas --mesmo a de granito.

“Pergunte [à prefeitura] quais as [pistas] que prestam”, questionou Pedro, 15, ao ser informado a respeito pela reportagem. “São todas uma porcaria. A única boa é paga (fica nos fundos de uma loja de skate, no centro)”, disse Matheus, 13.

O comércio da rua, no trecho onde ocorreu a Farofada, não abre aos domingos. A reportagem percorreu a via até algumas centenas de metros após a manifestação, mas os bares ainda se preparavam para abrir. Entre os poucos funcionários já presentes, alguns nem sequer haviam notado o protesto. Os que haviam visto os “farofeiros” não se incomodaram. “Deixa cada um fazer o quiser”, disse um porteiro, que pediu para não se identificar.