Vi o policial mirar e atirar na minha cara, diz repórter ferida no olho
Ferida no olho por uma bala de borracha disparada pela polícia durante os protestos de quinta-feira (13), a repórter Giuliana Vallone, da Folha de S.Paulo, disse nesta sexta-feira (14) que seu globo ocular não sofreu danos e que ela já consegue enxergar com o olho afetado. Segundo ela, a bala que a atingiu foi disparada sem que ela ou qualquer manifestante tivesse provocado a polícia.
"Vi o policial mirar em mim e em meu colega e atirar na minha cara", escreveu ela em seu perfil no Facebook.
Ao contar como se feriu, a jornalista disse que estava fora do principal palco de confrontos. "Já tinha saído da [rua] Consolação, onde já havia sido ameaçada por um policial por estar filmando a violência." Giuliana diz que estava na rua Augusta, onde havia poucos manifestantes, e com identificação da "Folha" quando foi atingida.
Protestos contra o aumento da tarifa do transporte coletivo
$escape.getHash()uolbr_tagAlbumEmbed('tagalbum','52727+AND+29229+AND+5109', '')Sobre seu estado de saúde, Giuliana afirma que escapou de uma lesão permanente porque seus olhos não estavam descobertos. "O médico disse que os meus óculos possivelmente salvaram meu olho." E que, apesar de estar inchada e com pontos na pálpebra, já consegue enxergar com o olho afetado, "o que não acontecia quando cheguei aqui (ao hospital)."
Cenas do protesto em SP
Elio Gaspari: Os distúrbios começaram pela ação da polícia, mais precisamente por um grupo de uns 20 homens da Tropa de Choque, que, a olho nu, chegou com esse propósito Leia mais |
Existe terror em SP: "Fosse você manifestante, transeunte ou jornalista a trabalho, não havia saída pela via nem pelas transversais, todas cercadas pelo Choque. A cada arremesso de bomba, alguém pedia por vinagre ou o oferecia". Leia mais |
Ataque à imprensa: Diversos jornalistas foram feridos e presos pela polícia durante a cobertura do ato. Vídeo mostra que um grupo se identifica e pede para que não seja atingido, mas os policiais ignoram e disparam tiros de borracha e bombas de gás lacrimogênio. Assista |
Vídeo gravado durante os protestos em São Paulo mostra um policial quebrando, com socos, um dos vidros do próprio carro da polícia. Assista |
"A maior preocupação era o comprometimento do meu olho, que sofreu uma hemorragia por causa da pancada", escreveu ela em seu perfil no Facebook.
"Risco da profissão"
O disparo que atingiu o rosto da jornalista tinha como destino original manifestantes que atacavam a polícia, mas bateu no chão e acertou a repórter, disse o comandante da Polícia Militar Benedito Meira.
Segundo o oficial, o fato de um jornalista ser atingido por uma bala de borracha faz parte do "risco da profissão" que surge quando o repórter decide acompanhar protestos perto de manifestantes.
O quarto protesto
Com o endurecimento da repressão por parte da Polícia Militar, o quarto ato contra o aumento das tarifas do transporte público em São Paulo, realizado na noite desta quinta-feira (13), terminou sendo o mais violento da série de manifestações ocorridas na cidade nos últimos dias.
Segundo a delegada Victória Lobo, titular da 78º DP (Jardins), 241 pessoas foram detidas no protesto e encaminhadas para essa delegacia, para o 1º DP (Liberdade) e para o 4º DP (Consolação).
Ao menos quatro foram autuadas (três por porte de entorpecentes e um por resistir à prisão), assinaram um termo circunstanciado e vão responder a processos em liberdade. Outras cinco foram indiciadas por formação de quadrilha e danos ao patrimônio --crimes inafiançáveis-- e vão continuar presas.
Com os manifestantes, a polícia diz que apreendeu facas, estiletes, tesouras, martelos, coquetéis molotov, machadinha, aerossol, garrafas de álcool, tinta e sprays e uma pequena quantidade de maconha. Celulares, câmeras fotográficas e uma garrafa de vinagre também foram apreendidos.
Cerca de 40 pessoas foram detidas antes mesmo de o protesto começar. Antes do início do ato, manifestantes e jornalistas que carregavam vinagre --como o repórter Piero Locatelli, da 'Carta Capital' para reduzir os efeitos de bombas de gás lacrimogêneo foram detidos, sob a alegação da PM de que o produto pode ser usado para fabricar bombas caseiras.
Segundo o Movimento Passe Livre, que organizou a manifestação, pelo menos cem ficaram feridos. Entre os feridos, sete são jornalistas da Folha de S.Paulo. Repórteres do Terra e da Rede Brasil Atual foram agredidos com cassetetes durante a cobertura.
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- http://noticias.uol.com.br/enquetes/2013/06/13/voce-e-a-favor-da-repressao-policial-a-manifestantes.js
Antes do protesto, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) declarou que não iria tolerar atos de vandalismo. Na manifestação de hoje, a PM mobilizou grande aparato, com tanques blindados, helicópteros e até a cavalaria. Além da Tropa de Choque, policiais da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) e da Força Tática atuaram na repressão, totalizando efetivo de 900 homens.
Segundo relato da repórter do UOL, Janaina Garcia, a Polícia atirou indiscriminadamente, contra manifestantes, transeuntes e jornalista a trabalho. "Não havia saída pela via nem pelas transversais, todas cercadas pelo Choque". Veja o relato.
Começo pacífico, final violento
O protesto começou por volta de 18h na praça Ramos de Azevedo, no centro, onde os manifestantes se concentravam desde 17h. De lá, o grupo, de aproximadamente 5.000 pessoas, segundo a PM, seguiu até a praça da República. Depois, caminharam pela avenida Ipiranga e chegaram à rua da Consolação, na altura da praça Roosevelt. Até então, não havia registro de ocorrências graves.
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Na altura da Roosevelt, os manifestantes foram impedidos pela polícia de seguir na Consolação até a avenida Paulista. Iniciou-se uma negociação entre o comando da PM e lideranças do movimento. Em um dado momento, por volta de 19h10, começou o confronto. Segundo o jornalista Elio Gaspari, da Folha de S.Paulo, os distúrbios começaram pela ação da polícia, mais precisamente por um grupo de uns 20 homens da Tropa de Choque, que chegaram com esse propósito.
Pouco depois, o major Lidio Costa Junior, do Policiamento de Trânsito da PM, disse que o protesto, que até então transcorria pacificamente, tinha "fugido do controle". "Não nos responsabilizamos mais pelo que vai acontecer", declarou.
A PM usou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os ativistas, que responderam atirando objetos. A partir de então, o protesto se dispersou. Grupos menores prosseguiram por ruas dos bairros de Cerqueira César e Consolação na tentativa de chegar até a Paulista.
Atrás deles, a PM, com grande efetivo, disparou quantidade de balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. Transeuntes que não estavam participando do protesto foram atingidos, como uma idosa de 67 anos, baleada no rosto logo após sair de uma igreja.
A avenida Paulista foi esvaziada e bloqueada pela PM com tanques blindados. Muitos manifestantes ainda tentavam chegar à avenida, mas eram impedidos pelos policiais. Por volta de 21h45, a Paulista foi liberada para os carros.
Perto das 22h, um grupo de curiosos e remanescentes da manifestação foi retirado à base de golpes de cassetete pela PM do vão do Masp (Museu de Arte de São Paulo). Cerca de 22h40, um grupo de pelo menos 40 pessoas saiu em uma minipasseata pela calçada, a uma quadra do museu, pedindo o "fim da violência". Eles foram recebidos com balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo.
O fotógrafo Filipe Araújo, 33, do jornal "O Estado de S.Paulo", disse ter sido atropelado foi um carro da Força Tática quando fotografava a barricada feita por manifestantes no lado centro do rua Bela Cintra. Ele sofreu ferimentos no braço e nas costas.
"Os carros da PM desceram a rua atropelando o lixo que estava no caminho. Passaram por mim, mostrei minha câmera, mas me atropelaram e caí de lado, na beira da calçada. Aí desceram de um dos carros e ainda gritaram: 'levanta, levanta', sendo que eu tinha acabado de ser atropelado", disse.
*Com reportagem de Janaina Garcia e Marivaldo Carvalho
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