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Quadro com PM atirando em negro crucificado será leiloado para ajudar família de Amarildo

A imagem de Carlos Latuff mostra um policial fardado atirando contra um homem negro crucificado - Charge de Carlos Latuff/Reprodução
A imagem de Carlos Latuff mostra um policial fardado atirando contra um homem negro crucificado Imagem: Charge de Carlos Latuff/Reprodução

Juliana Dal Piva

Do UOL no Rio

07/10/2013 15h38

Um grupo de artistas e juristas se reúne na terça-feira (8) em um jantar na casa da empresária Paula Lavigne para um leilão de objetos e obras de arte em Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro. O evento tem como objetivo principal financiar a construção de uma casa para a família do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, 43, desaparecido após ser levado por policiais da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, em junho deste ano. A meta é arrecadar R$ 50 mil --cada convite custa R$ 500. 

O evento surgiu de uma conversa entre Paula Lavigne, o desembargador Siro Darlan e o juiz João Damasceno. Entre os objetos que irão a leilão, está o quadro "Por uma cultura de paz", de Carlos Latuff, que retrata um negro crucificado sendo baleado por um policial.

A charge colorida estava exposta no gabinete do juiz Damasceno, de onde foi retirada após solicitação do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PP) à presidente do Tribunal de Justiça do Rio. A obra foi então para o gabinete do desembargador Siro Darlan e está à espera do leilão.

"Eu abriguei a obra no meu gabinete, dei asilo artístico, e então tivemos a ideia de realizar esse leilão com esse quadro, que faz alusão também ao próprio Amarildo e aos 5.200 desaparecidos do Rio desde que começou essa política de segurança alucinada que não respeita os direitos da pessoa humana e mais mata do que protege", afirmou Darlan.

Por medo da polícia, desde que Amarildo desapareceu, sua mulher, Elisabete Gomes da Silva, e os seis filhos do casal dividem um quartinho de cerca de 3 m² na casa da cunhada Maria Eunice Dias Lacerda, também na Rocinha. O local usado como quarto antes era usado como cozinha, anexo à casa de dois quartos, sala e banheiro que abriga ainda outros dez parentes. Entre filhos, sobrinhos, netos e agregados, numa escala de idade que vai dos seis aos 60, ao todo 17 pessoas vivem no local.

Outra parte da renda arrecadada será direcionada ao IDDH (Instituto dos Defensores dos Direitos Humanos) para viabilizar um projeto que pretende traçar um perfil dos desaparecidos na região metropolitana do Rio de Janeiro.

Artistas como Ernesto Neto, Marcos Chaves, Guga Ferraz, além de Caetano Veloso e Marisa Monte, são alguns dos que já contribuíram com doações de obras de arte e objetos.

Outra iniciativa do grupo será um show de Caetano Veloso e Marisa Monte no dia 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, no evento “Somos Todos Amarildo”. Toda a renda irá para o projeto com o IDDH. O show inédito será no Circo Voador, na Lapa, e está sendo desenvolvido especialmente para essa ocasião por Caetano e Marisa.