Topo

Caiu bomba até na areia, diz morador de área do leilão do pré-sal no Rio

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

21/10/2013 11h59

Moradores das ruas do entorno do hotel onde ocorrerá o leilão do pré-sal, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, reclamaram da ação da Força Nacional e do Exército na segurança do local nesta segunda-feira (21). O aposentado José Calmon, 77, estava na praia quando começou uma confusão entre manifestantes e militares.

“Fecharam a rua, é um mal necessário para impedir a ação de vândalos. Mas a Força Nacional joga bomba pra tudo que é lado. Estava na praia, tentei me esconder atrás do quiosque, mas caiu bomba até na areia”, contou Calmon.

Nesta manhã, manifestantes derrubaram as grades de proteção e tentaram invadir a área interditada por causa do leilão do pré-sal. Os militares reagiram com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.

A reportagem do UOL contabilizou ao menos sete feridos. Uma pessoa teve o rosto atingido por uma bala de borracha e acabou sendo levada de ambulância. Outras cinco pessoas foram feridas por tiros de borracha: três delas nas pernas e duas nas costas.

Em meio ao tumulto, os manifestantes correram para a areia da praia. Cerca de cinco minutos depois, voltaram para trás das grades de proteção. São cerca de 300 pessoas presentes no local.

Os manifestantes se concentram na esquina da Avenida Lúcio Costa com a rua Coronel Eurico de Souza Gomes Filho, na Barra da Tijuca. Partidos políticos, sindicatos e movimentos sociais levaram bandeiras para o local.

O Exército possui um efetivo de 1.100 homens na operação para evitar que manifestantes atrapalhem o leilão do campo de Libra. Um trecho da praia foi interditado para banhistas, inclusive.

Marta Maia, 48, que estava correndo na praia, disse que precisou caminhar pelo mar para voltar pra casa, já que até a faixa de areia na rua onde mora estava bloqueada. “É surreal fazer um leilão num lugar desses, residencial. Ainda mais em um hotel caro como esse. Os manifestantes chegaram com carro de som e levaram bomba”, afirmou. “Nunca vi isso, e olha que fui jovem no final da ditadura.”

Já Juliana Niemeyer, 32, que mora a duas quadras do local, contou que conseguiu ouvir as bombas estourando e sentiu o cheiro do gás lacrimogêneo. “Fiquei muito assustada, porque tenho bebê em casa. Tive que fechar a janela para o gás não entrar”, disse.

Após ouvirem os estouros, ela e o marido, Conrado Niemeyer, 49, foram até o local do protesto para ver o que estava acontecendo. “Eu acho que essa operação de guerra é necessária, mais pelos black blocs vândalos do que pela manifestação”, afirmou Niemeyer.

A licitação da área gigante, no pré-sal da Bacia de Santos, oferecerá uma reserva estimada em 8 bilhões a 12 bilhões de barris de óleo recuperável. O campo de Libra é considerado a maior descoberta de petróleo já realizada no Brasil.

As críticas ao leilão são vastas: vão dos petroleiros, em greve nacional desde quinta-feira (17), até ex-executivos da Petrobras. E, seguindo a tendência vista no país desde junho, movimentos sindicais e sociais têm promovido protestos contra o leilão.