Shopping de luxo fecha as portas, e manifestantes fazem BO por racismo
O Shopping JK Iguatemi, na zona oeste de São Paulo, fechou as portas no início da tarde deste sábado (18) para impedir a entrada de cerca de 200 manifestantes. Militantes de movimentos de defesa dos direitos dos negros e estudantes ficaram três horas em frente ao shopping de luxo , e um grupo foi à polícia denunciar o centro de compras.
No meio da tarde, a administração do JK decidiu antecipar o fim do expediente. Os funcionários das lojas foram dispensados. O shopping só será reaberto na manhã deste domingo (19).
O ato chamado de "Rolê contra o racismo" foi organizado por grupos negros, como o movimento estudantil UNEafro e o Círculo Palmarino. O objetivo era protestar contra o "racismo" praticado pelos shoppings de São Paulo ao selecionar quem teria acesso aos estabelecimentos durante os encontros de jovens conhecidos como "rolezinhos".
"A mesma repressão que acontece nas favelas todo dia de forma velada a gente está vendo agora de forma escancarada nesses espaços, os shoppings, que não são construídos para os negros", afirmou a estudante de direito Paula Nunes, 20, militante do movimento Quilombo Raça e Classe.
Os manifestantes se concentraram no parque do Povo, vizinho ao shopping, e caminharam em direção ao centro de compras. Carregavam uma faixa em que diziam: "no país da Copa do Mundo, shoppings racistas proíbem a entrada de negros e pobres". A Polícia Militar acompanhou o ato à distância. O JK Iguatemi reforçou a segurança.
Com o fechamento do shopping, o advogado Elizeu Soares, que representa os movimentos negros, formou uma comissão e foi ao 96º DP (Brooklin Novo) para denunciar o JK por discriminação. “Acham que vamos roubar”, disse o advogado.
Segundo Soares, foram registrados dez boletins de ocorrência individuais por racismo e constrangimento ilícito. Ele afirmou que os advogados ligados aos movimentos negros estudam ir à Justiça para barrar novas liminares dos shoppings contra os "rolezinhos".
Com instrumentos musicais, os manifestantes cantaram músicas de protesto e gritaram palavras de ordem --como "hoje não vai ter lucro” -- em frente ao shopping, na avenida Chedid Jafet. O ato foi pacífico, mas houve um princípio de tumulto quando um skatista discutiu com ativistas. No chão em frente à entrada do centro, manifestantes picharam “JK racista”.
No sábado passado, quando um rolezinho estava marcado para o JK Iguatemi, o shopping obteve uma liminar (decisão provisória) na Justiça e restringiu o acesso do público. Hoje o centro de compras não tinha respaldo de nenhuma decisão judicial.
"Nós do movimento negro falamos do racismo, mas dizem que é bobagem, que vivemos numa democracia racial, porém essa postura do shopping (de fechar as portas) escancara o racismo", afirmou Joselício Júnior, 28, integrante da coordenação nacional do Círculo Palmarino.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o JK Iguatemi afirmou que respeita as manifestações pacíficas, mas que decidiu fechar as portas neste sábado porque o espaço não comporta um protesto.
Na sexta-feira, em entrevista coletiva concedida no MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo), a promotora de Direitos Humanos da Infância e Juventude Luciana Bergamo disse que o órgão está estudando que medidas tomar contra a seleção feita pelo JK na última semana.
Funcionários
Dezenas de funcionários que começariam a trabalhar no período da tarde ficaram do lado de fora esperando a reabertura do JK Iguatemi. Acabaram dispensados de trabalhar neste sábado. "Fiquei surpresa com o protesto. Foi bom fechar as portas por causa da segurança", afirmou a auxiliar de limpeza Edna Moreira.
O lancheiro Gilson Mesquita Nunes, 24, funcionário de uma lanchonete do shopping, participou do protesto e cantou com os manifestantes. Ele afirmou ter sido parado por um segurança do centro comercial no sábado passado. Segundo Nunes, o segurança lhe pediu o documento e chegou a segurá-lo. "Nunca passei uma humilhação dessa na vida".
O funcionário de um restaurante que preferiu não se identificar se disse surpreso com o fechamento do shopping. Negro, ele trabalha há um ano no centro de compras e declarou que nunca sofreu racismo no local. No entanto, manifestou apoio ao ato. "Não participo dos protestos, mas sei a importância que eles têm. É daí que nascem as conquistas dos direitos".
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