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Sujeira na praia do Leblon desagrada turistas, mas não afasta banhistas

Daniel Marenco/Folhapress
Imagem: Daniel Marenco/Folhapress

Por Mariana Sant´Anna

Do UOL, no Rio

21/02/2014 07h00

O endereço é nobre: famosas como Sabrina Sato, Carolina Dieckmann e Fernanda Lima vivem sendo fotografadas pegando uma praia no Leblon, na zona sul do Rio. A qualidade da água, porém, não faz jus à fama. Segundo dados do Inea (Instituto Estadual do Ambiente), responsável por medir a qualidade da água nas praias do Rio, em novembro e dezembro de 2013, das 15 medições, o Leblon esteve impróprio em dez.

Neste ano, das 14 medições feitas, em oito pelo menos um trecho da praia estava impróprio. Na última coleta divulgada, do dia 17 de fevereiro, a praia inteira apresentava condições inadequadas. Além disso, a presença de espuma no mar vem espantando alguns banhistas.

Para comparar com outras praias cariocas, Leblon não tem situação tão ruim quanto Botafogo, que neste ano ficou impróprio para o banho em pelo menos dois de seus trechos em todas as medições. Mas está longe do Leme, por exemplo, que teve boas condições de balneabilidade em todas as medições de 2014. 

A fama glamorosa do bairro, porém, gera uma expectativa diferente no turista. A catarinense Nilza Borgrt, que passa férias com a família no Rio, se deixou levar pela fama da praia e pela aparência da água no Leblon, e se surpreendeu ao saber que frequentemente o mar está sujo demais para o banho. “Está gostosa, quentinha, parece bem tranquila. Não sabia que estava imprópria”, afirma. Ela se disse incomodada com a sujeira encontrada na areia em outras praias que visitou e não gostou de saber que se banhou em águas impróprias. “Eu prefiro ir a uma praia própria para banho”, garante.

Água imprópria

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    Consequências podem ser problemas no estômago e na pele

Já o casal de Uberaba Ana Teresa Dutra e Gilberto Gonçalves afirma que chegou a pesquisar a qualidade da água nas praias antes de escolher uma para aproveitar as férias. “Pelo que vimos, o Leblon estava melhorzinho que as outras”, explica Ana Teresa.

Enquanto os turistas são surpreendidos, os cariocas já estão mais acostumados ao fato de que vez ou outra o mar não está adequado para banho no Leblon. Alguns nem ligam: se refrescam com a água mesmo suja. Isso é visível para quem passa pela orla em qualquer dia da semana e verifica que sempre há banhistas no mar, esteja ele limpo ou sujo.

É o caso da doméstica Maria da Silva. “Eu sei que a água não está limpa, dava para ver a sujeira. Mas mergulho mesmo assim”, afirma ela, que está de férias e diz que, sempre que pode, frequenta a praia no Leblon. “Eu tinha visto no noticiário que a praia não estava própria para banho. Mas se eu vier e não entrar no mar, perdi a viagem”, argumenta, sem perder o bom humor.

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Chuveiro não é alternativa

Nem todos, porém, encaram com tanta naturalidade o fato de o mar passar todo esse tempo com a balneabilidade comprometida. A designer mineira Andréia Amorim, que mantém um apartamento no Leblon e frequenta o Rio pelo menos uma vez por mês, diz que costuma verificar em postos de informação da orla quando a água está própria para banho ou não. “Eu fico só na areia, e como não venho com crianças, não me afeta, eu continuo vindo ao Leblon. Mas eu sei que é comum o problema de balneabilidade”, afirma. “Se quero me refrescar, vou a um chuveiro”, explica.

O dentista Gustavo Latini também diz que não entra no mar quando a qualidade da água está imprópria para banho. Nessas ocasiões, ele diz que prefere se refrescar nos chuveiros da praia. “A sujeira do mar é um problema muito complexo, que envolve muitas obras e quando entra o governo, é comum a gente ver desvio de dinheiro”, avalia. O problema é que nem nos chuveirinhos o banhista está a salvo. Um estudo feito pela PUC-Rio mostrou que a água deles também está contaminada. 

Consequência das chuvas

A piora na balneabilidade da praia do Leblon durante o verão acontece porque este é um período de fortes chuvas, explica Marilene Ramos, presidente do Inea. “A praia sofre a influência de dois canais, o do Jardim de Alah e o da avenida Visconde de Albuquerque, que recebem muito esgoto sem tratamento”, explica.

Durante épocas mais secas, esse esgoto é bombeado para o emissário de Ipanema e não chega ao mar. Já em períodos de chuva mais forte, o sistema não consegue fazer esse bombeamento com eficiência e os poluentes acabam na água, explica Marilene. Isso significa que se não fosse o incomum período de seca em janeiro e fevereiro, a situação da praia estaria mais grave.

O panorama é pior no segundo canal, segundo Marilene. No canal da Visconde de Albuquerque é jogado esgoto que vem de diversas comunidades, como Rocinha e Parque da Cidade, além de algumas ligações clandestinas. Já no Jardim de Alah, há obras em estado mais avançado para impedir a chegada dos dejetos.

Sena Limpa

  • Tânia Rêgo/Agência Brasil

    Programa de despoluição já começa com atraso

Marilene admite que a balneabilidade da praia do Leblon não deve melhorar tão cedo. “A praia faz parte de um programa do governo, o Sena Limpa, para reduzir a poluição do mar. Infelizmente fizemos uma licitação para as obras no canal da Visconde de Albuquerque, mas não conseguimos contratar nenhuma empresa então o prazo foi estendido”, explica.

Enquanto a licitação não for concluída, as obras não podem começar. E a melhor opção para o banhista é continuar verificando se a água está própria para banho antes de mergulhar. 
 

Como são feitas as medições?

As condições de balneabilidade são analisadas a partir da determinação do número provável (NMP) de bactérias de origem fecal na água. No caso das praias da Zona Sul e Oeste do Rio de Janeiro são usados como indicadores a quantidade de coliformes termotolerantes (coliformes fecais) e o número de enterococos, que são bactérias presentes no intestino.

Raios

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Uma praia é considerada imprópria para banho quando dois ou mais resultados das últimas cinco amostragens se apresentam acima de 1000NMP/100mL de coliformes termotolerantes, ou se o seu último resultado se apresentou maior que 2500NMP/100mL de coliformes termotolerantes.

Se o último resultado for superior a 400NMP de Enterococos/100mL ou se nas últimas 5 campanhas (coletas), dois ou mais resultados forem superiores a 100 NMP de Enterococos/100 mL a água também não está adequada para o banho.

Estes padrões de balneabilidade, assim como a metodologia completa usada pelo Inea estão descritos detalhadamente nas resoluções Conama nº 357/2005, Conama nº 274/2000, Conama nº 344/2004, e Portaria N° 2914 do Ministério da Saúde, que regulamentam os padrões de balneabilidade no Brasil.

A partir deste ano, o Inea divulga os resultados relativos aos pontos de coleta. Nas praias de maior extensão, podem existir até quatro pontos.