Topo

No RJ, chuva encerra Marcha da Maconha que pediu liberação do uso medicinal

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

10/05/2014 16h48Atualizada em 10/05/2014 22h55

Uma forte chuva que caiu na zona sul do Rio determinou o fim da Marcha da Maconha na capital fluminense por volta das 18h20 deste sábado (10).

Cerca de três mil pessoas, segundo a avaliação do comando do 3º Batalhão da PM, que iniciaram a marcha em Ipanema, exatamente às 16h20 --horário simbólico para os usuários de maconha--, foram dispersados naturalmente aproximadamente duas horas depois de iniciar a caminhada.

Para os organizadores, a chuva já havia sido protagonista antes mesmo do início da marcha deste ano, já que uma leve precipitação no começo da manifestação teria afastado muitos participantes.

Os participantes da marcha chegaram à pedra do Arpoador por volta das 17h50. Não houve tumultos durante a passeata. Os manifestantes caminharam ao som de música e entoaram gritos de guerra como "eu sou maconheiro com muito orgulho, com muito amor" e "Dilma Rousseff, libera o beque".

Uma das faixas carregadas pelos manifestantes estampava uma frase repetida muitas vezes durante a marcha: "sem hipocrisia, a guerra às drogas mata pobre todo dia".

O pastor Benjamim César, da comunidade Libertas, da Igreja Presbiteriana, de Copacabana, compareceu ao ato e afirmou que é precisa manter um diálogo aberto sobre a legalização da maconha. "Se a marcha busca a justiça social, não temos problemas em nos irmanarmos com eles", afirmou.

A manifestação foi acompanhada por dezenas de guardas municipais desde a concentração, para organizar o trânsito na região. O ato também foi acompanhado por policiais militares da Tropa de Choque, que disseram estar no local para apoiar o 3º batalhão da PM da área em qualquer eventualidade.

A marcha acontece desde 2002 na cidade e sairá pelas ruas da capital fluminense pela 11ª vez --não ocorreu em 2003 e 2006.

O ato deste ano é dividido em alas, como a que defende o uso medicinal da erva, a feminista, a anti-capitalista e a "Fifa go home", contrária à organização máxima do futebol, que organiza a Copa do Mundo de 2014 do Brasil.

Marcha teve pais e médicos que pedem liberação do uso medicinal na "comissão de frente"

Na "comissão de frente" da manifestação esteve um grupo de pais e médicos que luta pela autorização do uso da maconha no tratamento médico de crianças.

O neuropediatra Eduardo Faveret disse que foi à marcha porque "queremos ter o direito de fazer pesquisas e acompanhar essas crianças cujos pais já estão fazendo uso do CBD por conta própria."

CBD, sigla para canabidiol, é um dos componentes da cannabis que atua como anticonvulsivante.

Mãe de uma menina de 5 anos que sofre eplepsia refratária, a advogada Margarete Brito, presidente da Appepe (Associação de Pais de Pessoas com Epilepsia), disse que a luta do grupo é para desburocratizar e incentivar a pesquisa médica desses componentes.

"Em algumas pesquisas, os CBD obteve resultado milagroso, principalmente para portadores da síndrome de Dravet (um tipo de epilepsia)".

Ato contou com a presença de políticos

O deputado federal Jean Willys (Psol-RJ) e o deputado estadual Carlos Minc (PT-RJ), ex-ministro e secretário estadual de Meio Ambiente, participaram do evento, assim como o vereador Renato Cinco (Psol).

Autor de projeto que legaliza a maconha, Willys carregava um cartaz com as inscrições "guerra às drogas".

Para Carlos Minc, a lei nacional que despenalizou o consumo de drogas, de 2006, precisa ser melhorada porque tem brechas que criminalizam principalmente os usuários pobres.

"Existe uma contradição flagrante entre o objetivo da lei e a realidade. De 540 mil presos no Brasil, 60 mil, um nono do total, foi para a cadeia só por ser usuário. Muitos deles, em sua maioria negros e pobres, mesmo não tendo antecedentes criminais ou não estando em situação de comércio, são enquadrados por associação para o tráfico quando são flagrados fumando com amigos", declarou o deputado estadual.

Um dos advogados da marcha, André Barros destacou que o combate às drogas no país só afeta quem está envolvido na ponta do varejo, e não na da produção e distribuição. "É uma guerra cretina, de pobres contra pobres", afirmou.

"Os ricos é que são os verdadeiros traficantes e contra eles não acontece nada. No Rio de Janeiro, você só compra a maconha prensada, que é industrializada. Não é possível que a polícia não saiba onde isso acontece", completou Barros, que vai se candidatar a deputado estadual nas eleições deste ano, pelo Psol.

De acordo com o vereador Renato Cinco, a proibição e a repressão fazem com que "a sociedade tente fazer o impossível, que é acabar com a maconha,  e deixe de fazer o possível, que é regulamentar o mercado".