Ministro Silvio Almeida critica PL antiaborto em igreja em SP e é aplaudido
O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, criticou o PL antiaborto durante sua fala em um evento em uma igreja evangélica em São Paulo, nesta sexta-feira (22).
O que aconteceu
O ministro discursou por quase uma hora na Igreja Batista da Água Branca, na zona oeste da capital paulista. "Quem defende uma polícia violenta não é amigo dos policiais, é inimigos dos policiais, porque está em engano. Está envenenado pela ideologia do ódio quem quer que uma mulher que foi estuprada seja presa", afirmou. Ele foi aplaudido pelos presentes.
O ministro fez referência ao projeto que equipara a pena por aborto após a 22ª semana de gestação à de homicídio, inclusive em caso de estupro. A urgência do projeto foi aprovada pela Câmara dos Deputados, mas o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), recuou e adiou a votação para depois das eleições após a repercussão negativa. A proposta é de autoria do deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que é da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, do pastor Silas Malafaia.
Em seu discurso com citações de passagens bíblicas, Silvio Almeida falou da ligação do cristianismo com os direitos humanos. A pasta sob seu comando começará uma série de ações como uma nova tentativa de diálogo com o público evangélico, conforme mostrou reportagem do UOL.
Ministro foi aplaudido várias vezes pela plateia, que tomou quase todos os assentos da igreja. O convite para falar no evento partiu do pastor Ed René Kivitz — a igreja dele é conhecida no meio evangélico por ser mais progressista. O pastor foi um dos poucos a publicamente ser contrário à reeleição de Bolsonaro (PL).
O evento "conversas pastorais" reúne pastores e líderes evangélicos. A presença do ministro, entretanto, levou fiéis de outras igrejas e o público em geral a participar.
Antes da fala do ministro, cinco pastores e lideranças religiosas falaram sobre quais devem ser as ações do ministério. Entre os pontos citados estão o direito à educação, o combate ao racismo e à violência contra a mulher e direitos para população carcerária e de rua.
Um dos pastores convidados a falar disse ao ministro que os evangélicos esperam "um sinal como este há no mínimo 20 anos". "Esse povo foi descoberto por uma ala político-religiosa com ambições escusas. Eles aprenderam nossas linguagens e enredaram sorrateiramente as mentes das massas", disse o pastor Zé Marcos Silva, de Coqueiral (PE).
Silvio Almeida foi o ministro escolhido por Lula pelo bom relacionamento com diversos segmentos da parcela de evangélicos. O ministro é adepto ao candomblé, mas tem familiares evangélicos, como a esposa e a sogra.
Ministro planeja agenda com outros setores evangélicos. Ele tem dito que os direitos humanos devem servir à igreja e a igreja deve servir aos direitos humanos. A avaliação de interlocutores da pasta é que levar um ministro para dentro das igrejas não é uma tarefa simples, mas que Silvio Almeida seria o nome mais indicado para a função.
O que mais foi dito no culto?
Um verdadeiro cristão pode odiar os oprimidos? Pode um verdadeiro cristão odiar os que vivem ameaçados, os que vivem com fome, odiar os que vivem com medo de serem espancados? [...] Pode a religião que cultua um homem que morreu torturado defender aqueles que andam com camisetas com o nome de um torturador?"
Silvio Almeida, ministro
Certamente que Jesus gosta de água encantada, porque ele gosta de saneamento básico, e para ter saneamento básico tem que ter política, tem que ter Estado, porque Jesus não gosta da doença, ele gosta da saúde.
Silvio Almeida
Os direitos humanos são um ponto em comum entre a política e a religião quando ambas são sérias, e Deus posicionou o senhor exatamente nesta bifurcação.
Zé Marcos Silva, pastor
É necessário também investir em formação de combate à violência institucional. É assíduo, ministro, é algo que vai em todas as redes de comunicação, porque está havendo muita homofobia, transfobia, racismo, violência contra a mulher. E nós, que somos uma igreja viva, que serve a Jesus de Nazaré, fazemos o acolhimento, e o mundo desacolhe, a gente faz o acolhimento, e o Estado desacolhe.
Regina Célia Barbosa, pastora
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