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Motoristas dizem que param ônibus nas ruas de SP por medo do sindicato

Wellington Ramalhoso

Do UOL, em São Paulo

21/05/2014 12h31

Motoristas e cobradores de ônibus em greve na cidade de São Paulo afirmam que optaram por parar os ônibus nas ruas para evitar retaliações do próprio sindicato e das empresas. O Sindimotoristas, que representa a categoria, havia ordenado que os veículos deixassem as garagens e circulassem normalmente nesta quarta-feira (21).

Os rodoviários obedeceram a ordem, mas foram parando os ônibus nas ruas e avenidas da cidade, repetindo a tática adotada na terça-feira (20). Segundo eles, foi a forma encontrada para burlar a determinação sindical contra a greve e expressar a insatisfação com a negociação salarial feita com a prefeitura e as empresas.

Reunidos em uma esquina das avenidas Rebouças e Faria Lima, na zona oeste de São Paulo, motoristas e cobradores falaram com a reportagem do UOL na manhã desta quarta, mas pediram anonimato. Disseram que se optassem por não deixar as garagens, ficariam "marcados" pelos representantes do sindicato e pelas empresas e correriam risco de demissão. Além disso, as empresas poderiam encontrar alternativas para colocar os ônibus em circulação e minimizar os efeitos da paralisação.

O superintendente do Ministério do Trabalho e Emprego, Luiz Antonio Medeiros, disse que os grevistas não serão punidos, mas precisam negociar.

Os grevistas declararam que não se sentem representados pelo sindicato. "Quem está parando é a categoria, não é o sindicato”, afirmou um deles. Ir para as ruas também é uma forma de dar mais força ao movimento. “[Parando] na garagem, é só o patrão que vê. Na rua, todo mundo vê".

Os rodoviários não aceitam o acordo salarial fechado pelo sindicato, que prevê reajuste salarial de 10%, vale-refeição de R$ 16,50 e R$ 850 de participação nos lucros.

O movimento teria começado entre os profissionais da empresa Santa Brígida. Comunicando-se por telefone celular, aplicativos e pelas redes sociais, motoristas e cobradores decidiram parar os ônibus nas ruas ontem. “Foi um impulso, uma revolta”, afirmou um motorista.

Deu-se, então, um efeito cascata. Nos corredores de ônibus, por exemplo, era praticamente impossível um motorista tentar “furar” a greve e ultrapassar os outros carros. A categoria também tem fechado terminais de ônibus. Sem transporte, passageiros passaram a última noite em terminais.

Motoristas e cobradores alegam que a gestão anterior do sindicato fazia acordos com empresas e com a administração municipal e impedia a realização de greves. "Nossos salários estão defasados há muito tempo", disse um rodoviário, citando que em outras cidades a categoria vem conseguindo reajustes salariais superiores. "Motoristas e cobradores estão indignados", afirmou outro.

Eleito no segundo semestre de 2013, o atual presidente do sindicato, José Valdevan, o Noventa, levou a oposição ao poder, mas a negociação deste mês despertou a desconfiança da categoria. Os grevistas suspeitam que o sindicato aceitou uma proposta inferior ao que a prefeitura e as empresas poderiam pagar e mudou o dia da assembleia, nesta semana, para esvaziá-la e evitar contestações.

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Eles afirmam que o movimento não tem vínculo com nenhuma chapa sindical nem com partidos e que a paralisação não tem relação com a Copa do Mundo, que terá início no dia 12 de junho em São Paulo.

Na manhã desta quarta-feira, motoristas e cobradores parados na região da Rebouças e da Faria Lima cogitavam levar os ônibus até o centro, onde fica a sede da prefeitura, mas decidiram permanecer onde estavam até pelo menos o período da tarde. O rodízio de veículos na cidade está suspenso entre as 17h e as 20h desta quarta.