Para ajudar passageiros, cobradora anuncia paradas de linha de ônibus em SP
Muita gente pega ônibus em São Paulo sem saber exatamente onde tem de descer. Mas nem por isso se aperta. É só perguntar ao motorista ou ao cobrador qual o ponto certo.
Mas, se você pegar o ônibus 40596 da linha 573 A (Metrô Bresser-Vila Alpina), na zona leste de São Paulo, não tem como ficar perdido. A cobradora de ônibus Valéria Körber, 47, costuma anunciar quais são as próximas paradas e o que fica próximo a cada uma, mesmo sem os passageiros pedirem.
“Notei que as pessoas precisam de informação. Essa é uma linha pela qual passam cerca de 1.500 pessoas por dia. Muitas delas ficam sem saber ao certo para onde ir e onde descer. Não me custa nada dar essa informação aos passageiros”, explica. Os principais pontos de referência estão na avenida Paes de Barros, no bairro da Mooca, que é atravessada de ponta a ponta pela linha.
Com formação de professora, Valéria aceitou atuar como cobradora de ônibus como algo temporário enquanto não conseguia se recolocar no mercado. “Não tenho preguiça de trabalhar. Com saúde, posso fazer qualquer coisa”, explica.
Nascida e criada na Mooca, Valéria deu aulas de educação artística no Colégio São Judas logo depois de concluir o magistério, antigo curso de formação de professores. Em 1997, decidiu viajar para Nova York, nos Estados Unidos, para estudar inglês. Enquanto isso, também trabalhou como garçonete e babá e conseguiu fazer mestrado em design gráfico.
Motorista anuncia paradas e faz piadas com passageiros
Decidiu voltar ao Brasil em 2010 para tentar fazer doutorado. Ela acreditava que a experiência adquirida nos EUA a ajudaria a conseguir um bom emprego por aqui. O resultado, no entanto, não foi o esperado. “Em todas as entrevistas me diziam que eu tinha experiência demais para o cargo a que me candidatava. Ou, quando era contratada, ficava só um período curto [em geral de três meses] e depois me demitiam. Passei a achar que no Brasil o estudo não vale de nada, só a indicação que você recebe."
A dificuldade de arrumar trabalho levou Valéria a tentar a sorte como microempresária. Investiu a maior parte de suas economias para montar uma papelaria próxima a uma escola na periferia de Praia Grande (SP). No entanto, como os alunos recebiam o material escolar da prefeitura local, os prejuízos se acumularam e ela fechou a papelaria quatro meses após a inauguração. “Tudo o que consegui vender foi um pote de massa de modelar”, conta.
Ao mesmo tempo, tentava concursos públicos para voltar a dar aulas. Conseguiu ser aprovada em um feito pela Prefeitura de São Paulo e aguarda a nomeação. Ela tem consciência da situação precária da área. Mas vê o cargo como um passo rumo ao seu próximo objetivo: dar aulas no ensino superior, aproveitando a formação que obteve no exterior. Mas também não descarta voltar aos Estados Unidos, onde aprendeu inglês e espanhol.
Enquanto a indicação não sai, Valéria continua como cobradora, fazendo o serviço voluntário de informar os pontos de referência de cada parada da linha 573 A. “Tem coisas que não fazemos por dinheiro, mas por princípio, porque acreditamos que é o correto."
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