Topo

Em vídeo, menino Bernardo diz temer pela segurança da "irmãzinha"

Lucas Azevedo

Do UOL, em Porto Alegre

29/08/2014 13h48

Em um dos um dos vídeos gravados pelo celular do pai de Bernardo Boldrini, 11, --assassinado em abril deste ano no noroeste do Rio Grande do Sul--, o menino se mostra preocupado com a irmã menor. A menina é filha de Leandro Boldrini e da madrasta de Bernardo, Gracieli Ugulini.

"Coitada da irmãzinha, vão agredir ela também. Vão sim. Vocês vão agredir a Maria, coitada", diz Bernardo. Graciele responde: "Ela vai comigo. É, coitada".

No diálogo, madrasta e enteado --na presença da irmã-- discutem sobre quem iria "morrer primeiro". "Tu vai, tu vai morrer", grita Bernardo. "Vamos ver quem vai primeiro", responde Graciele.   

A menina, de cerca de um ano e dez meses, está sob a guarda provisória de uma irmã de Graciele desde a prisão dos pais, em abril. Não há registros nem indícios, segundo a polícia e o Conselho Tutelar, de que o bebê fosse mal tratado.

Com base no conteúdo do vídeo, Jussara Uglione, 73 anos, avó de Bernardo, vai pedir a reabertura do caso que apurou a morte de sua filha, Odilaine Uglione, mãe do garoto, em 2010.

Na gravação, Graciele Ugolini, a madrasta, diz ao garoto: "Doente do jeito que tu tá desse jeito. Igual tua mãe. Teu fim vai ser igual ao da tua mãe". Para a polícia, Odilaine cometeu suicídio dentro do consultório de Leandro.

No vídeo, gravado pelo celular de Leandro um dia antes do Dia dos Pais de 2013, Bernardo é xingado e ameaçado pela madrasta com a anuência do pai. Pouco se vê. O celular fica na cama, atrás de uma coberta, colocado ali por Graciele. A maior parte dos 28 minutos ininterruptos é de apenas áudio e uma imagem escura. 

Odilaine não é poupada. Leandro é irônico com o filho, que chora: "Bah, Bernardo, eu fico com pena de ti. Tua mãe te botou no mato. Deus o livre. Te abandonou". O menino responde: "E tu traiu ela".

A madrasta dispara: "Ela que andava com tudo que é homem aí, ó. Ela que era a vagabunda, Bernardo. Vai perguntar pras pessoas da cidade o que ela fazia".

Chorando e aos berros, Bernardo sai em defesa da mãe morta: "Não era! Minha mãe não é vagabunda!". O pai, então, usa um tom sereno de voz para dizer: "Bernardo, eu sei que tua mãe é o máximo pra ti, mas simplesmente ela te abandonou".

Em outro trecho, o menino grita por socorro diversas vezes, ao que Graciele responde: "Tu não sabe do que eu sou capaz. Tu não sabe. Eu não tenho nada a perder, Bernardo. Eu prefiro apodrecer na cadeia do que ficar vivendo nessa casa contigo incomodando [...] Vamos ver quem vai pra baixo da terra primeiro."

No fim do áudio, Leandro parece preparar um medicamento para Bernardo. Ele pergunta ao filho qual seu peso e Graciele sugere "sessenta gotas".

Minutos depois Bernardo retorna ao quarto para se desculpar. Grogue, com a voz arrastada e quase sem forças, ele diz: "Meu pai mandou eu te dizer desculpa".

"Que seja a última vez, Bernardo", responde Graciele. O menino começa a chorar e solta um desesperado, porém baixo, "eu quero me matar".

Bernardo e o pai deixam o quarto. Ficam ali Graciele e a filha bebê. Sussurrando para a criança, ela diz as últimas palavras da gravação: "Trouxa, trouxa, retardado esse guri. Retardado". 

Morte da mãe

Uma herança milionária relativa à separação de Leandro e Odilaine é, para a família materna do garoto, uma possível motivação financeira para o assassinato do jovem.

Vinda de uma família rica em Santa Maria (293 km de Porto Alegre), Odilaine Uglione Boldrini, a mãe do menino, teria casado com Leandro, pai do garoto, em comunhão de bens.

O casal se separou, mas Odilaine morreu 72 horas antes do momento de assinar o divórcio, em 2010, em um acordo em que deveria receber R$ 1,5 milhão e uma pensão mensal de R$ 10 mil mensais.

Segundo a polícia informou à época, ela cometeu suicídio com um tiro na boca dentro do consultório do marido. Ela teria entrado armada e, após uma discussão com Leandro, disparado.

Marlon Adriano Taborda, advogado da avó de Bernardo, informou à polícia que o menino teria direito a parte dos bens da mãe. Quando o pai, Leandro, morresse, a parte do seu patrimônio também.