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Traficantes voltaram a andar armados em UPP modelo no Rio há meses

Crianças voltam da escola e encontram policiamento reforçado no Santa Marta nesta sexta (29) - Gustavo Maia/UOL
Crianças voltam da escola e encontram policiamento reforçado no Santa Marta nesta sexta (29) Imagem: Gustavo Maia/UOL

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

29/05/2015 21h09Atualizada em 01/06/2015 12h54

O tiroteio registrado na noite deste quinta-feira (28) na favela Santa Marta, em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro, o primeiro desde a instalação de uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) no local, em 2008, foi reflexo da até então silenciosa tentativa de traficantes que atuam no local de voltar a manter uma boca de fumo na comunidade.

De acordo com moradores e com o comandante da UPP, alguns integrantes do Comando Vermelho --facção que domina o tráfico de drogas no local-- voltaram a andar armados no morro nos últimos meses. Isso não acontecia há mais de sete anos. A UPP da Santa Marta foi a primeira das atuais 38 unidades em operação no Rio e é considerada um modelo pelo Governo do Estado.

A troca de tiros entre cinco policiais e cerca de dez criminosos, que já foram identificados e estão sendo procurados pela polícia, aconteceu em uma localidade conhecida como Beco do Jabuti, situada no meio do morro. O policiamento foi reforçado por policiais de outras UPPs e não houve registros de confrontos nesta sexta (29).

O comandante da UPP da Santa Marta, capitão Márcio Rocha, afirmou que policiais da unidade já receberam informações sobre a entrada de armas na favela no final do ano passado, que serviriam para reforçar o Comando Vermelho em uma eventual disputa entre facções em uma comunidade próxima. "Alguns deles são mais jovens e começaram a usar as armas para intimidar moradores", afirmou.

Rocha disse que, durante o mês de maio, a guarnição que se envolveu no tiroteio desta quinta prendeu dois suspeitos, apreendeu um adolescente, e realizou a apreensão de carregadores e munições de fuzil e drogas.

"Soubemos por moradores que isso irritou os traficaficantes e que eles preparavam uma represália à guarnição que estava trabalhando ontem. Quando eles chegaram perto do Beco do Jabuti, foram recebidos a tiros e atiraram de volta. Depois os traficantes fugiram pelo matagal", relatou Rocha.

Ele disse esperar que a população entenda que este "é um período de enfrentamento para conter um mal maior, que é a presença do tráfico armado".

Morador da favela há 40 anos, um guia turístico que pediu para não se identificar falou sobre a movimentação dos criminosos no morro: "há algum tempo a segurança aqui afrouxou um pouco e alguns traficantes voltaram a andar armados aqui na comunidade. Na instalação da UPP, saíram os que já eram mais procurados, mas alguns continuaram aqui. Hoje eles atendem mas o público interno", afirmou.

Outra moradora do morro, que trabalha em uma loja na favela, disse ter ficado surpresa com a troca de tiros. "Estava no colégio e só fiquei sabendo quando voltei, na entrada da comunidade. Fiquei bem surpresa. Até comentei com meu primo: 'como assim, tiroteio aqui?'".

Dentro do bondinho do plano inclinado, vestidos com uniformes de escolas municipais, crianças relatavam o que viveram na noite anterior: "Minha irmã correu para debaixo da cama", disse um dos jovens. "Pá, pá, pá", reproduziu um estudante. "Eu não tenho medo", completou outro. Perto dali, um grupo de crianças cantarolava: ""Os muleque tá ligado, UPP é o caral..".

Na tarde desta sexta, o clima nas ruas e becos da comundidade era de aparente tranquilidade. "Sempre tem policial da UPP passando por aqui. Não me sinto inseguro mesmo depois disso [tiroteio]", contou um morador. Enquanto isso, turistas estrangeiros passeavam pelo morro, famoso por ter sido cenário de um videoclipe do cantor Michael Jackson.