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Polícia quer acareação entre suspeitos de matar ciclista no Rio; entenda

A., de 16 anos (foto), é suspeito de ter participado da morte de Jaime Gold. Ele foi o primeiro adolescente apreendido pela polícia - Fábio Motta/Estadão Conteúdo
A., de 16 anos (foto), é suspeito de ter participado da morte de Jaime Gold. Ele foi o primeiro adolescente apreendido pela polícia Imagem: Fábio Motta/Estadão Conteúdo

Do UOL, no Rio

03/06/2015 12h13

A equipe de investigação da DH (Divisão de Homicídios) do Rio de Janeiro aguarda autorização da Justiça para realizar uma acareação com os adolescentes suspeitos de participação e autoria na morte do cardiologista Jaime Gold, 56, ferido a facadas quando pedalava na ciclovia da lagoa Rodrigo de Freitas, onde foi vítima de um assalto na noite do dia 19 de maio.

O resultado da acareação poderá indicar ou não a necessidade de se realizar uma reconstituição do crime. Três jovens foram apreendidos até agora, dos quais dois se apresentaram voluntariamente --o terceiro se entregou na noite desta terça-feira (2). Há divergências entre as versões apresentadas pelos menores.

As informações também não condizem com o depoimento da principal testemunha --um frentista que afirmou ter visto a cena do crime. A defesa de um dos suspeitos já havia lançado dúvidas sobre a investigação, pois os dois primeiros jovens apreendidos são negros --não há tal informação quanto ao terceiro adolescente. Em depoimento, o frentista afirmou que dois jovens participaram da ação criminosa: um negro e um branco.

A apreensão do terceiro adolescente foi o estopim para uma reviravolta no caso. À polícia, ele afirmou que o primeiro suspeito do caso é inocente. Após afirmar publicamente que a apuração havia sido concluída, na última quarta-feira (27), a Polícia Civil foi obrigada a retomar a investigação. A DH trabalha agora com duas novas possibilidades: a primeira é a de que um dos adolescentes seria inocente, e a segunda de que os três tenham participado do crime que resultou na morte do ciclista.

Capturado em casa

O adolescente A, de 16 anos, foi localizado em casa dois dias após a morte de Gold, na favela de Manguinhos, na zona norte da cidade. Em depoimento à Divisão de Homicídios, o suspeito --que, até então, acumulava 15 passagens pela polícia-- confirmou que roubava bicicletas na zona sul do Rio, mas negou ter participado do assassinato do cardiologista.

Na ocasião, o chefe da DH, delegado Rivaldo Barbosa, afirmou que não tinha dúvida de que o adolescente era um dos autores do crime. "Foi uma forma brutal como o médico foi atingido. Ele recebeu no mínimo quatro golpes. A ação foi sorrateira, por trás, com traição", declarou ele no dia 22 de maio. Ainda de acordo com a polícia, A. teria sido reconhecido por uma testemunha.

Entregue pela mãe

O adolescente B., de 15 anos, se entregou à polícia no dia 27 de maio, após ser convencido pela mãe e pela avó. Em depoimento, o jovem confessou participação na morte de Gold, mas declarou que o responsável por esfaquear a vítima teria sido o primeiro adolescente apreendido, A.

B. revelou ainda ter jogado no rio Maracanã, na zona norte da cidade, a faca utilizada por A. Após o crime, B. teria pedalado da lagoa Rodrigo de Freitas, na zona sul, à favela do Jacarezinho, na zona norte, onde morava com o pai. A arma do crime teria sido ocultado no decorrer desse trajeto. B. disse também que a bicicleta da vítima foi vendida por R$ 1.700. A Divisão de Homicídios ainda está tentando descobrir quem seria o suposto receptor da bicicleta.

Na ocasião, a delegada-adjunta da DH Patrícia Aguiar afirmou categoricamente que as informações obtidas com o depoimento do segundo menor apreendido representavam o ponto final da apuração. "Para a polícia, o caso está encerrado. Não há menor dúvida da participação dos dois. São provas robustas", declarou.

Mais uma confissão

O terceiro adolescente foi apreendido na noite desta terça-feira (2), após se entregar à 25ª DP (Engenho Novo), na zona norte da cidade, na companhia da irmã e do padrasto. C., de 16 anos, confessou ter participado da ação criminosa e inocentou o primeiro suspeito, A. Segundo a polícia, de acordo com a nova versão dos fatos, B. e C. teriam sido os responsáveis pelo assassinato de Gold. A Divisão de Homicídios vai apurar a veracidade do relato. Ainda de acordo com C. coube ao segundo menor apreendido, B., desferir as quatro facadas que mataram a vítima.

Dúvidas

Um comentário feito em uma rede social pela delegada Monique Vidal, titular da 14ª DP (Leblon), onde o caso foi registrado inicialmente, gerou questionamentos em relação ao inquérito conduzido pela Divisão de Homicídios.

Segundo ela, na noite do crime, a principal testemunha (o frentista que disse ter visto o momento em que a vítima foi abordada) afirmou que não tinha condições de fazer o reconhecimento dos criminosos. No entanto, para a DH, a mesma testemunha teria reconhecido o primeiro menor apreendido por meio de uma fotografia.

Após a polêmica, a delegada apagou as postagens. Mas as declarações serão utilizadas pela defesa do adolescente, segundo o advogado Alberto de Oliveira. Ele sustenta que, no dia da morte do cardiologista, o primeiro menor estava dormindo em casa, em Manguinhos.

Além disso, Oliveira afirma que, de acordo com o frentista, os criminosos seriam um adolescente negro e outro branco. Porém, os três jovens apreendidos até agora são negros.

O chefe da delegacia especializada, Rivaldo Barbosa, não gostou do comentário feito pela delegada Monique Vidal. Segundo ele, "quando a polícia trabalha rápido, está sendo leviana" e, "quando demora, é incompetente", desabafou no dia 27 de maio, após dar o caso como encerrado.