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Artesão do interior de SP cria drone caipira com pipa e câmera fotográfica

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Ribeirão Preto (SP)

09/07/2015 06h00

Um artesão de Cajuru (a 298 km de São Paulo) desenvolveu um equipamento capaz de registrar imagens aéreas de até 300 metros de altura. Apelidado pelo seu criador de "drone caipira", o sistema utiliza criatividade no lugar de equipamentos de ponta.

Com uma máquina de costura que estava encostada na casa da mãe, o artesão Luciano Semeão, 39, costurou a pipa usando linha de nylon e plástico. Ele também comprou uma carretilha para soltar a linha e aproveitou ainda uma câmera fotográfica simples. No total, o investimento não passou de R$ 20.

"Sempre tive fascínio por voar. Ficava imaginando como seria a visão lá de cima e resolvi descobrir. Como um drone custa R$ 20 mil, e um avião muito mais, tive de criar meu drone caipira", explica.

O inventor explica que seu drone é desmontável e a câmera pode ser programada para que as fotos sejam tiradas em intervalos regulares de tempo. Ele também conta que é possível fazer vídeos com imagens aéreas e que é possível direcionar a câmera bastando, para isso, movimentar a pipa. "Fora o fato de ser reforçada, é uma pipa normal. Você pode posicionar a câmera dando movimento à pipa", explica.

Surpresa

Semeão utilizou e engenhoca para fotografar alguns pontos turísticos da região de Ribeirão Preto. Ele registrou imagens aéreas da cachoeira de Cássia dos Coqueiros, do curso do rio Pardo e da imagem do Cristo Redentor de São José do Rio Pardo.

Além disso, também fez imagens aéreas de Ribeirão e de sua cidade natal. "Mostrei as imagens para alguns amigos, todos acharam muito bonitas. Também coloquei no Facebook, e foi ai que muita gente veio me procurar", conta.

Embora se diga feliz com a repercussão das imagens, Semeão conta que a coisa de que mais gosta é a sensação ao ver as imagens aéreas registradas. "É um prazer indescritível comandar a pipa e saber que ela está registrando as imagens. Esqueço de tudo, esqueço das contas. É como se eu estivesse lá em cima", conta, ressaltando ainda que fica ansioso para ver as imagens."É uma surpresa, já que você só vai descobrir o que as imagens registraram depois, quando você abre os arquivos", conta.

Por enquanto, Semeão não foi procurado por ninguém com interesse em usar o drone comercialmente. "Já fiz fotos aéreas com o drone caipira para amigos e também de divulgação de eventos de uma igreja, mas nada comercial. Mas quem sabe alguém tenha interesse."

Sobre as limitações do equipamento, o artesão explica que levantar voo com a pipa exige tempo bom e vento. "Sem vento, ela não sobe. E, quando está chovendo, também não é aconselhável empinar a pipa, nem quando há raios. Além disso, temos pouco controle sobre a direção do vento e é ele quem determina o ângulo do que iremos fotografar", explica.

Pipa com 'sete vidas'

Semeão explica que a paixão pelos céus o acompanha desde pequeno. Ele chegou a pensar em ser piloto de avião e até pesquisou aulas para pular de para-quedas. "A grana sempre foi curta, nunca pude fazer nada disso. Então resolvi erguer a câmera o mais alto possível para fazer fotos. E acoplá-la a uma pipa foi o melhor jeito que encontrei", disse.

Ele teve a ideia há três anos. Foram meses de elaboração até que decidiu fazer testes para colocar o plano em prática. Nas primeiras vezes, testou o equipamento primeiramente em um balão com gás hélio e, depois, em uma pipa convencional comprada pela internet. "Nenhum dos dois jeitos deu certo. O balão estourou, e a pipa quebrou", conta.

Após o fracasso das experiências, resolveu confeccionar ele mesmo uma pipa capaz de receber a câmera. Para isso, fez uma estrutura dobrável reforçou a costura. "Fiz alguns testes e, depois de ver a câmera cair algumas vezes, consegui encontrar o equilíbrio", explica.

Sobre os acidentes, ele conta que a pipa chegou a rasgar e que a câmera caiu de uma altura superior a 50 metros. "Não sei como não quebrou. Costumo dizer que ela tem sete vidas", explica, entre risadas.